ARGENTINA – Saímos de manhã cedo de Mercedes, província de Corrientes, e percorremos 120 quilômetros de estradas de terra sem encontrar uma única vila ou vilarejo, apenas florestas e matas até chegarmos à Lagoa Ibera. Lá começa a sucessão de surpresas; a primeira são as águas limpas e cristalinas da lagoa, totalmente contrário às opostas águas escuras do rio Paraná.
Quando chegamos ao posto da guarda florestal, nos deparamos com capivaras selvagens (o maior roedor do mundo) passeando pelo parque que contorna a casa. Minha pergunta foi: “Vocês criam essas capivaras?” a pessoa me olhou e me fez perceber que estava no coração da Província de Corrientes: “Não, tchê! – respondeu a pessoa -, elas vivem em torno das ilhas e como ninguém as molestam, se tornaram um tanto atrevidas; porém a situação é pior na Colônia Ecológica Carlos Pellegrini, pois esses bichinhos – bichinhos de 30 a 60 quilos – não têm medo dos cachorros e se o proprietário descuidar só um pouquinho, elas comem as flores do jardim, por isso as mulheres correm atrás delas com as vassouras”.
Para entrar na Colônia Ecológica Carlos Pellegrini, cruzamos uma ponte flutuante feita pelo exército, e subitamente nos vimos rodeados por centenas de pássaros que em voos rasantes caçam os bichos no ar; isto me fez lembrar os enxames de gafanhotos.
Ficamos hospedados em um lugar que era um misto de hotel e rancho, o qual era bem limpo. À tarde nos serviram um suculento assado, porém para aqueles que não comiam carne, havia uma alimentação macrobiótica e vegetariana. Os hóspedes deste lugar são quase todos europeus e japoneses e, eles mesmos ensinaram aos habitantes locais como preparar as refeições.
Na manhã seguinte, enquanto tomávamos o café, chegavam dezenas de cardeais de crista vermelha que vinham comer as migalhas e sementes que jogávamos.
Em seguida, colocamos salva-vidas de cor laranja e embarcamos em modernas lanchas e assim começou o passeio entre as ilhas flutuantes.
Chegamos numa ilha flutuante e o guia saltou da lancha para ancorá-la. Todos sentiam que a ilha se movia como se houvesse um pequeno tremor sob nossos pés.
Continuamos o passeio entre as ilhas flutuantes e isso para mim, foi a apoteose da natureza: jacarés de todos os tamanhos tomando sol a uma distância de 2 a 3 metros de nossa lancha, lontras brincando, capivaras nadando ou comendo, veados do pântano com suas crias e mais de 300 aves povoando este paraíso.
Um pato siriri e seus filhotes passaram ao lado do barco e nem nos viu; a imensa fauna dessas ilhas nos ignoram; para eles somos só mais uns animais.
Muitas vezes estive em lugares harmoniosos, porém, a respeito deste, disse: “Isto é o paraíso”, contemplava o lugar pensando: “Isto é o Éden e assim deveria ser o mundo antes dos animais temerem o homem”.
O meu entusiasmo não tinha limites; nosso companheiro Omar Cejas, em seu afã de se aproximar muito de um jacaré, acabou caindo na água e foi só risada. “Por que quis se aproximar tanto?” ele disse que queria tirar um “close” do jacaré como nas fotos que temos em nossa carta de motorista.
Por experiência própria, posso dizer que a paz e a harmonia que existe nessas ilhas, nos impediam de ter medo.