As gêmeas de 11 meses de idade, Minal e Mirha, do Paquistão, nasceram unidas pela cabeça, compartilhando vários vasos sanguíneos vitais. Após uma maratona de 14 horas de cirurgia, com a participação de cirurgiões do Reino Unido e da Turquia, as bebês foram separadas e, de acordo com os médicos, devem se recuperar totalmente.
O procedimento ocorreu em duas etapas, no dia 14 e 19 de julho, no Hospital Bilkent, em Ancara, capital da Turquia. Ao todo, 60 profissionais de saúde estiveram envolvidos nos processos.
Primeiro, a equipe precisou aumentar a distância entre as cabeças das meninas por meio de uma “cirurgia de expansão de tecidos com balão”, como explicou o Dr. Ergani, o médico reconstrutivo, antes de separá-las completamente.
A preocupação da equipe era não haver tecido suficiente para fechar as feridas cirúrgicas das meninas após a separação.
“Colocamos um material nas cabeças delas que se expandiu gradualmente, aumentando o tecido ao longo de cerca de dois meses,” contou Ergani. “Quando separamos os bebês, o tecido para cobrir o cérebro era crucial, pois seus cérebros ficariam expostos. Qualquer complicação poderia prejudicar as crianças, então planejamos tudo com muito cuidado.”
A cirurgia foi a oitava organizada pela Gemini Untwined, uma instituição de caridade especializada no tratamento e na pesquisa de gêmeos craniopágicos, ou seja, nascidos com crânios fundidos, cérebros entrelaçados e vasos sanguíneos compartilhados.
A operação foi liderada pelo fundador da entidade, o neurocirurgião pediátrico britânico, Dr. Owase Jeelani, do Hospital Great Ormond Street, de Londres, e assistida pelos médicos turcos Dr. Harun Demirci e Dr. Hasan Murat Ergani.
Antes do procedimento, os cirurgiões usaram óculos de realidade virtual para ensaiar os movimentos precisos, utilizando escaneamentos em 3D dos crânios unidos das gêmeas. Essa tecnologia de Realidade Mista (MR) é utilizada em operações complexas.
“Esse foi realmente um esforço global”, destacou o Dr. Jeelani, “com gêmeas do Paquistão sendo separadas na Turquia, contando com a expertise e o apoio de uma equipe baseada no Reino Unido, com profissionais de sete países diferentes.”
“Isso é sobre como o mundo deveria ser; quando você tem crianças que precisam de ajuda, o mundo todo se une, o mundo todo apoia, e você obtém esse resultado para essas crianças”, acrescentou.
Emoção, adaptação e gratidão
Para enfrentar as 14 horas no centro cirúrgico, a equipe teve apenas quatro pausas de 15 minutos cada uma, quando podiam se alimentar e beber água.
“Quando conseguimos separá-las com sucesso, toda a equipe médica olhou umas para as outras e aplaudiu”, relembrou Ergani. “Foi um dos momentos mais memoráveis da minha vida. Ver as meninas saudáveis agora é uma alegria incrível.”
O neurocirurgião Dr. Demirci contou que, nos primeiros momentos, as gêmeas se mostraram inseguras ao se darem conta de que estavam separadas.
“Elas estavam desconfortáveis, então as mantivemos juntas no mesmo quarto e cama por um tempo”, relatou Demirci. “Eventualmente, elas se adaptaram, e a saúde delas está muito boa agora. Esperamos liberá-las em duas a três semanas e monitoraremos o desenvolvimento cerebral e ósseo a cada três meses.”
Para alegria de seus pais, Rehan Ali e Nazia Parveen, as meninas Minal e Mirha irão soprar a velinha de seu primeiro aniversário separadas e saudáveis.
“Estamos muito felizes e em dívida com todos que contribuíram”, disse Ali.
Segundo o cirurgião Jeelani, o sucesso da operação é a maior recompensa.
“Conceder a essas meninas e suas famílias um futuro onde possam viver de forma independente e aproveitar a infância é um privilégio especial”, afirmou o médico.