Trekking desafiante no parque Torres del Paine, na Patagônia chilena

13/08/2013 14:20 Atualizado: 06/03/2018 16:22
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Paisagem deslumbrante faz o circuito de caminhadas ser considerado um dos melhores do mundo (Arquivo Pessoal/Katia Santos)

Se você é daqueles que gosta de uma boa aventura, curte grandes caminhadas, ou ate mesmo deseja passar um tempo longe do telefone celular, internet e televisão, acredito que Torres del Paine seja seu próximo destino.

Não é necessário ser um grande alpinista ou aventureiro para passear nesse parque que fica no sul do Chile, próximo de Puerto Natales, uma pequena cidade simpática e acolhedora.

Desde Santiago do Chile são quase três horas e dez minutos de voo ate Punta Arenas, cidade portuária do extremo sul do Chile, onde fica o aeroporto mais próximo do parque. De lá pega-se um ônibus e em duas horas e por aproximadamente R$ 18, você chega em Puerto Natales.

Essa cidadezinha é base de todos os aventureiros que seguirão rumo a Torres del Paine, o parque cujo trekking é considerado o mais bonito do mundo. No parque chileno você tem algumas opções de passeios e, se preferir, pode fazer um “bate e volta” partindo de Puerto Natales, passeando um dia inteiro. A ideia é sair pela manhã e percorrer o trajeto de duas horas em direção ao parque.

Lá você terá a possibilidade de conhecer alguns pontos turísticos – como o hostel Torres – apreciar as enormes montanhas, seguir até a portaria laguna amarga e se encantar com a cachoeira Salto Grande, local que garante bons registros fotográficos. Ao final da tarde você terá uma imensa vontade de voltar outras vezes.

O parque é imenso e tem duas outras opções de passeios,entre elas o trekking W, um percurso que leva de 5 a 6 dias e tem o formato da letra que o batizou. Pode-se fazer esse caminho com barracas para acampar ou ficar nos refúgios que oferecem camas simples em quartos e banheiros coletivos.

Caso você tenha muito dinheiro para gastar, você pode se dar ao luxo de não carregar comida em sua mochila e fazer todas as refeições nos refúgios, que servem comida simples e sem grandes atrativos. Apesar disso, a vantagem é a de carregar uma mochila de 7 a 8 quilos mais leve.

Outra opção é fazer o circuito completo, o “360º”, que pode levar até dez dias, e percorre toda a extensão do parque. Esse roteiro é para os destemidos e preparados, já que em certos trechos do parque não existem refúgios com camas e cada um é responsável por carregar barraca, saco de dormir, comida, fogareiro e todos os outros equipamentos que garantem um bom camping.

Vale a pena lembrar que preparo físico é necessário. Quem disser que caminhar por dias, carregando suprimentos em terreno irregular com um sobe e desce de montanhas e enfrentando adversidades como lama, vento e frio é uma tarefa fácil, está mentindo.

Precisei de cinco dias para fazer o percurso “W”: carreguei a comida, saco de dormir, roupas, e todo o necessário e claro, o desnecessário também. Marinheira de primeira viagem, aprendi na pratica o que é carregar uma mochila de quase 20 quilos nas costas, em um sobe e desce que parece não ter fim, tive que sofrer quase todos os dias para aprender que precisamos de muito menos coisas do que imaginamos.

Como tenho medo de sempre precisar de algo que não levamos exagerei! Sofri muito e aprendi. Exageros na mochila, que garantem conforto no trekking de quase 70 km, como levar perfume, ter opções de roupas limpas e ainda contar com variedades de comida tem seu preço. Mas a vantagem é que a viagem se torna um grande momento de reflexão, abandono de apegos, grande tolerância, determinação, crescimento pessoal, quebra de barreiras e limites.

Torres del Paine é o destino perfeito para esquecer das inúmeras tecnologias que somos quase dependentes, se emocionar com montanhas gigantescas, ver horizontes sem fim, respirar um dos ares mais puros que você pode experimentar, ver animais selvagens, observar o voo distantes do Condor no imenso céu azul, beber água limpa e potável durante todo o caminho, e se aperfeiçoar como pessoa. A cada dia de caminhada você tem um encontro marcado com você mesmo.

Todos os dias é possível ter uma nova visão do parque. No primeiro dia conheci as famosas Paines, num percurso de 18 km (ida e volta) de nível difícil. Dei sorte e encontrei um caminho lindo, céu azul e sol brilhando, já que o tempo por lá é bastante instável.

Chegar aos pés das Torres me emocionou muito, pois eu estava vendo pessoalmente aquele maciço de pedras que por muitos meses olhei nas inúmeras fotos e vídeos da internet. É enorme e grandioso, o lago verde-água aos pés da montanha é lindo e a energia de estar tão perto de uma obra de arte da natureza é incrível.

Todos dormem bem cedo em Torres del Paine, pois todos estão tão cansados, e como a escuridão toma conta do lugar, ficamos mais assimilados a natureza , nos deitando quando a luz vai embora, e despertando pela manha, quando o Sol está quase nascendo, já que ele aparecia, preguiçoso, lá pelas 8h da manhã.

E a cada dia que passa percebi que me adaptei cada dia mais a essa rotina de caminhar no silêncio, comer o que se tem urinar pelo caminho e simplesmente ser muito grata pelo banho quente ao se chegar nos refúgios, poder fazer uma refeição simples e descansar.

O meu último dia foi o mais especial, caminhei no sentido Glacial Grey, mais um dia de provações. Descobri que todos os desafios vêm da mente: minhas pernas estavam tão cansadas que era muito difícil dar mais e mais um passo.

Mesmo com essas dificuldades, após mais um dia de caminhada, cheguei ao local que mais me impressionou e fez a viagem valer cada dia: a beira do lago formado pelo derretimento glacial.

Cheguei bem perto dele e observei os grandes blocos de gelo, quase a um toque da mão, de um branco e azul profundo. Poder apreciar um por do sol em um lugar como esse me deixou profundamente feliz.

Ao final da viagem, para partir do parque, desde o refúgio Paine Grande, pega-se um Catamarã, um barco para atravessar um grande lago de um verde profundo, em uma viagem rápida de 30 minutos, tempo esse que podemos usar para olhar para trás e observar a grandeza e magnitude daquele lugar.

Ao observar as enormes montanhas ao fundo cobertas de neve no topo e ver as torres e sua enormes paredes de pedra bem de longe, me emocionei com lágrimas nos olhos pela beleza sem fim daquele lugar e já senti saudades e vontade de voltar. Todo sacrifício valeu a pena e acredito que essa experiência faz com que todos saiam do parque um pouco diferente de corpo e alma.