Uma verdadeira experiência onde a genuína hospitalidade se associa ao mais moderno conforto
Por mais de mil anos, a nobreza japonesa tem visitado os Cânions de Arashiyama, próximo à Kyoto, a fim de encontrar paz e tranquilidade. Aqui sigo os passos deixados por esta nobre herança. Comecei fazendo um cruzeiro pela costa oeste do Japão.
Ao desembarcar, um pequeno bote estava a nossa espera em ‘Moon Crossing Bridge’ para nos levar rio acima em uma curta viagem de 100 anos de tradição ryokan: o Hoshinoya Kyoto, uma casa de hóspedes onde os ryokans oferecem comida japonesa tradicional e muita hospitalidade. Este lugar, construído ao estilo das casas de chá sukiya, oferece uma autêntica e impecável hospitalidade associada ao mais moderno conforto.
A comida é uma característica chave dos ryokans de Hoshinoya Kyoto. Você pode escolher entre comer em sua suíte ou em uma das várias pequenas salas de refeição. Eu fui à segunda sala de refeição que estava lindamente decorada de maneira nobre. As luzes eram fracas, porém o suficiente para mostrar os hachis (pauzinhos) vermelhos com os quais se come; eles estavam juntos aos suaves pratos brancos sobre uma mesa de madeira. Havia também um grande e fino jarro de água com um balde preto cheio de gelo.
O chefe executivo, Ichiro Kubota, combina o principal da cozinha japonesa com a tradicional culinária imperial de Kyoto. Isto tudo, somado aos ingredientes locais, formaram um cuidadoso contraste de sabores, forma, cor e textura.
Um leve cheiro de erva-doce vem de uma concha negra de ouriço do mar, a qual está cheia de um creme feito de pimentão vermelho e caviar de berinjela. Salmões defumados chegam enrolados em uma folha em forma de farol cor de laranja. Polvos frescos são decorados com gemas, ficando na forma de flores de lótus e trutas grelhadas, chegam bem quentes e são acompanhadas de pêssegos das montanhas. Filés de Wagyu, caranguejos, tartarugas, enguias, polvos e outras delícias se apresentam prato a prato e são tão lindamente decorados que chega a dar dó em comê-los! Mas não deixamos por menos, é claro que comemos.
Como entretenimento, um jovem com braços fortes e sorriso alegre mostra como se faz o tradicional macarrão chinês. Leva cerca de uma hora para amassar a massa de trigo em um recipiente de cor preta e de um metro de largura. Depois, leva-se mais uma hora para enrolar a massa, algumas vezes em círculo, outras em quadrado, outras em fios bem finos e outras em fios mais grossos. Finalmente, a massa é habilmente dobrada, cortada em tiras finas iguais e levadas à cozinha formando a base para outros 10 pratos.
A suíte do local, uns 80 metros quadrados, possui uma decoração suave, a qual se alinha à serenidade do Cânion. A área da casa está decorada com papel madeira ao estilo Kyoto, isto é, em azul e dourado. O teto é pintado em xadrez bege e marrom lembrando o tabuleiro de jogo de damas. Parece magnífico principalmente quando a luz da manhã se reflete nele. Os delicados lençóis de linho branco colocados nos colchões bem arqueados contrastam com o piso de madeira marrom escuro.
Na área do salão, as paredes são pintadas em azul suave, e há vários sofás em forma de ‘L’ decorados com almofadões dourados e azuis. Todo o salão é rodeado por grandes janelas, as quais são fechadas à noite por grandes painéis deslizantes feitos de bambu e papel.
Cada detalhe do salão recebeu uma atenção minuciosa. Particularmente estupendo é o kit de escrita composto por uma harmoniosa caixa de madeira, a qual contém tudo o que se necessita para a caligrafia japonesa: um pincel longo e fino, um vidro de tinta, a pedra onde se coloca a tinta e um apoio para as mãos.
Para o mais moderno conforto, há uma equipe de som, uma panela elétrica, uma cafeteira, um forno pequeno e muitos artigos práticos. Não há televisão, mas isto é intencional.
O elegante banheiro tem o piso e as paredes pintados em mate escuro. Uma banheira longa em cedro leva o aroma do bosque. É realmente um lugar a ser visitado pelos amantes da tecnologia. Há painéis de controle para controlar a intensidade da água, pressão, água quente, pode-se mudar a temperatura e o ângulo de jato da água, é tudo muito impressionante.
Do lado de fora, ao pôr-do-sol, pode-se ver os pescadores usando mergulhões para capturar trutas pequenas, da mesma forma que se faz há séculos. Cada barco carrega três homens; dois homens remam a luz de um lampião cheio de madeira em brasa, enquanto que um terceiro homem carrega seis cordas. No final de cada corda é preso um pássaro da espécie ‘mergulhão’. A corda é presa no pescoço do pássaro e isto impede o pássaro de comer o peixe. Os pássaros então mergulham em busca do peixe e quando capturam o peixe, não conseguem comê-lo, pois a corda no pescoço não permite, então o pescador traz novamente o pássaro para dentro do barco e tira o peixe da boca do pássaro.
Na manhã seguinte, o café da manhã é servido na casa e também é outra arte culinária. A comida chega em uma bolsa pesada carregada por um jovem garçom. Há 10 tipos diferentes de pratos, incluindo o Nabe, um pote quente de vegetais com arroz, picles, peixe grelhado, legumes frescos de Kyoto e uma especialidade da casa: saga-tofu. Os desjejuns ocidentais consistem em sete diferentes delícias.
Após o café da manhã, estava muito contente e caminhei pelos jardins ryokan, estava vestida com uma túnica japonesa yukata enquanto saboreava gelo picado com molho de ameixa. Maravilhosos são também os ‘espelhos d’água’, rochas grandes com a parte de cima polida. Quando a água da chuva se assenta sobre sua superfície polida, ela reflete os ramos altos das árvores e o céu.
Antes de vir embora, caminhei pela margem do rio, desfrutando do rio, das árvores e dos pássaros. Se tivesse mais tempo, poderia ter participado de outras atividades que os ryokan ofereciam, como por exemplo, jantar com as tradicionais gueixas, aprender a fazer os tradicionais arranjos de flores conhecidos como Kado, andar em carroças de duas rodas ou viajar pelo rio, vestir-me com um quimono ou fazer o ritual de purificação zen ryokan assim como os programas de massagens.