Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Aos 68 anos, Peng Lou, um chinês-australiano, relata uma vida marcada por desafios extraordinários e resiliência. Tendo tentado fugir da China seis vezes, ele agora desfruta dos frutos da liberdade como empresário bem-sucedido e habilidoso tocador de flauta de bambu na Austrália. Sua jornada, repleta de experiências de quase morte e determinação inabalável, é um testemunho inspirador do espírito humano.
Um caminho cheio de perigos
A odisseia do Sr. Lou começou em 1972, durante a “Revolução Cultural” da China, quando os jovens urbanos foram enviados para o campo para serem reeducados. Quando jovem, o Sr. Lou foi designado para trabalhar como técnico em uma fábrica de cimento no remoto condado de Yingde, província de Guangdong. As condições adversas e as perspectivas sombrias desse trabalho forçado o estimularam a buscar a liberdade, apesar dos graves riscos envolvidos.
Em 1979, o Sr. Lou fez suas duas primeiras tentativas de fuga, embarcando em trens com destino a Hong Kong, um farol de liberdade em comparação com o continente restritivo. A primeira tentativa terminou em decepção quando ele e seus companheiros embarcaram por engano em um trem com destino ao porto Huangpu de Guangzhou, e não a Hong Kong.
A segunda tentativa foi frustrada quando o Sr. Lou, desesperado por ar, foi pego depois de sair de seu esconderijo entre a carga. As autoridades foram alertadas e ele foi detido, mas depois liberado, em parte porque a polícia o reconheceu como membro do grupo cultural da fábrica.
Chamadas de perto e momentos inesquecíveis
Sem se deixar abater, o Sr. Lou continuou sua busca pela liberdade. Em sua terceira tentativa de fuga, ele e seus companheiros fizeram uma jornada exaustiva, caminhando por terrenos montanhosos durante cinco dias, enfrentando campos de ostras afiadas e nadando por águas perigosas para chegar a Hong Kong. No entanto, eles logo foram detidos por gurkhas britânicos que patrulhavam a fronteira, aplicando a política de “base de contato” de Hong Kong, que exigia que os imigrantes ilegais chegassem à cidade para reivindicar residência.
Apesar de ter sido deportado de volta para a China continental, o Sr. Lou se lembra vividamente da humanidade demonstrada pela polícia de Hong Kong, que forneceu alimentos, inclusive carne enlatada, uma iguaria rara para os fugitivos famintos.
Em 1980, depois que Hong Kong endureceu suas políticas de imigração, o Sr. Lou passou a visar Macau, na época uma colônia portuguesa. Sua quarta tentativa de fuga contou com a ajuda de “snakeheads“, contrabandistas que facilitavam a travessia ilegal de fronteiras.
Infelizmente, seu timing foi ruim; ao chegar, o Sr. Lou foi pego e deportado mais uma vez. A experiência foi marcada por um encontro aterrorizante com cães de guarda, cujas mordidas deixaram cicatrizes duradouras em suas pernas.
A fuga final e os novos começos
O Sr. Lou, com cicatrizes profundas, mas com força de vontade, ainda mantinha seu desejo de liberdade.
A quinta tentativa, em 1981, finalmente levou o Sr. Lou à liberdade. Com a orientação de um amigo, ele soube que Macau estava prestes a conceder anistia aos trabalhadores sem documentos. Aproveitando essa última oportunidade, o Sr. Lou embarcou em outra jornada perigosa, nadando pelas águas escuras de Zhuhai, uma cidade costeira que faz fronteira com Macau.
Dessa vez, ele evitou as autoridades, mas teve que negociar com os snakeheads, que exigiram uma quantia significativa por seus serviços. O Sr. Lou e seus companheiros conseguiram escapar do pagamento, escapando sob a cobertura da noite.
Ao chegar a Macau, a vida do Sr. Lou começou a se estabilizar. Em 1982, o governo de Macau introduziu uma política que permitia que residentes sem documentos se registrassem para obter residência temporária.
O Sr. Lou, agora oficialmente reconhecido, começou a trabalhar em uma fábrica de eletrônicos. Sua diligência e rápido aprendizado lhe renderam um cargo de supervisão, no qual ele supervisionava uma equipe de mais de 20 funcionários. Foi lá que ele conheceu sua futura esposa, uma colega refugiada com quem ele compartilhou um vínculo profundo por causa de seus passados semelhantes.
Uma nova vida na Austrália
Em 1987, o Sr. Lou deu outro passo ousado ao emigrar para a Austrália por meio de um programa de migração especializada. Apesar dos desafios de se adaptar a um novo país, cultura e idioma, o Sr. Lou teve sucesso. Ele concluiu um diploma em engenharia mecânica e tornou-se membro da Institution of Engineers Australia. Seu trabalho árduo e sua determinação culminaram com o estabelecimento de sua própria empresa de engenharia, uma prova de sua resiliência e espírito empreendedor.
O Sr. Lou reflete sobre sua jornada com um profundo senso de gratidão e realização. “A maioria das pessoas atravessa a fronteira de forma clandestina apenas para conseguir uma refeição e mudar o ambiente em que ganha dinheiro”, diz ele. “Mas, para mim, a busca pela liberdade e pela democracia foi motivada pelas notícias internacionais que eu ouvia no rádio. Eu tinha plena consciência da situação nos lugares sob o domínio do Partido Comunista Chinês e sabia que não se podia confiar no Partido Comunista. Quando surgiu a oportunidade de emigrar para a Austrália em 1987, fiquei muito feliz por ter tomado essa decisão.
Ao longo de sua vida, a amada flauta de bambu do Sr. Lou tem sido uma companhia constante. Ensinada por seu pai aos nove anos de idade, a música da flauta proporcionou consolo e uma conexão com sua herança. Na Austrália, o Sr. Lou continua a tocar, compartilhando sua cultura e experiências com novos públicos. A flauta simboliza não apenas seu talento artístico, mas também sua esperança e perseverança duradouras.
Homenagem a amigos e lembranças perdidas
Em 2023, o Sr. Lou fez duas viagens da Austrália para os Estados Unidos, visitando as costas leste e oeste. Essas viagens foram profundamente pessoais, pois ele participou de atividades de comemoração dos fugitivos falecidos que, como ele, buscaram a liberdade, mas pagaram o preço final.
Em pé diante do “Monumento aos Fugitivos de Hong Kong” em Nova Jersey, o Sr. Lou prestou homenagem a seis amigos e ex-colegas que morreram na traiçoeira rota de fuga. Essas visitas não foram apenas um tributo aos mortos, mas também uma reafirmação do compromisso duradouro do Sr. Lou em lembrar o sacrifício deles e o valor da liberdade.
Um legado de liberdade e resiliência
Olhando para trás em sua jornada tumultuada, o Sr. Lou não se arrepende. Ele acredita que suas provações, especialmente durante a Revolução Cultural e suas experiências de trabalho forçado, fortaleceram sua determinação de buscar a liberdade e melhores oportunidades. Ele valoriza as liberdades de que desfruta agora e usa sua história para inspirar outras pessoas a permanecerem firmes em suas crenças e perseguirem seus sonhos, independentemente dos obstáculos.
A jornada do Sr. Lou dos limites restritivos da China comunista para a liberdade da Austrália é uma narrativa poderosa de coragem e resiliência. Suas experiências ressaltam o desejo universal de liberdade e o quanto as pessoas se esforçam para alcançá-la. Enquanto o Sr. Lou desfruta das liberdades e oportunidades de sua nova vida, ele continua sendo um símbolo de esperança e determinação para todos que enfrentam a opressão e a adversidade.