Por Leo Timm, Epoch Times
Reunidos em frente a um museu no subúrbio de Pequim, soldados e estudantes ficaram em silêncio para celebrar o 78º aniversário do início da Segunda Guerra Mundial na China, um conflito que custou a vida de cerca de 20 milhões de chineses.
O evento também é uma lembrança sincera dessa luta brutal pela sobrevivência, na qual o governo nacionalista chinês vitoriosamente liderou a longa guerra de oito anos de resistência do país contra a invasão japonesa – antes de ser expulso em 1949 pelas forças comunistas após quatro anos adicionais de guerra civil.
Uma história caricaturada, distorcida e repetida pela propaganda do Estado e incentivada pelo sistema nacional de educação, tornou-se um marco na mídia chinesa, pesando fortemente no sentimento de massas e na identidade nacional chinesa, mesmo sete décadas após o fim da guerra, como destacado por frequentes e, às vezes, destrutivos motins anti-japoneses.
Por exemplo, em 2013, quando o regime chinês e o Japão entraram em choque sobre as disputadas ilhas Senkaku, perto de Okinawa, no Mar da China Oriental, um vídeo mostrando a destruição nuclear de Tóquio se tornou viral entre os internautas chineses.
Exageradas e às vezes falsas representações de tropas comunistas heróicas e invencíveis, enfrentando os ridículos e sinistros “demônios japoneses”, encontram-se em toda a cultura popular chinesa. Especialmente nos últimos anos, a “Guerra Anti-Japonesa”, como a Segunda Guerra Mundial é conhecida localmente, tem se mostrado um tema popular e politicamente seguro para produtores de cinema e televisão.
No lugar do genuíno erudito e do discurso, os chineses do continente são inculcados com uma narrativa manipulada que ignora ou reduz a importância das campanhas e batalhas conduzidas pelos nacionalistas que definiram o curso da guerra. A contribuição histórica da China para o esforço geral dos Aliados revela um quadro totalmente diferente – o de uma batalha desesperada contra o poder de fogo superior, o equipamento e a coesão.
A verdade de uma guerra esquecida
Em 7 de julho de 1937, dois anos antes da invasão da Polônia pela Alemanha nazista, as tropas chinesas entraram em confronto com unidades de guarnição japonesa ao sul de Pequim, desencadeando a faísca que levaria a oito anos de guerra total na Ásia e no Pacífico.
Desde a década de 1920, facções militaristas do governo japonês, protegidas pela autoridade imperial, vinham invadindo a Ásia continental. A Coréia era uma colônia japonesa desde 1910, e em 1931, oficiais do Exército Imperial Japonês ocuparam e anexaram a Manchúria, uma região do norte da China contendo cerca de 35 milhões de pessoas e abundantes recursos naturais.
Em 1937, as tropas japonesas não apenas ocuparam a Manchúria, mas tomaram a maior parte do que hoje é a Mongólia, estendendo sua zona de controle a Pequim (então chamada de Beiping; a capital da China era Nanjing, que ficava ao sul). Para Chiang Kai-shek, líder militar do governo nacional chinês, ficou claro que o apaziguamento adicional dos japoneses traria apenas mais desgraça.
No final de julho, as lutas em torno de Pequim se intensificaram, à medida que os chineses se recusavam a recuar diante das exigências militares japonesas. Chiang ordenou que os exércitos chineses se mudassem para Xangai, que continha uma considerável presença militar japonesa, na esperança de atrair um grande número de tropas inimigas que poderiam ser usadas em uma batalha decisiva.
A Batalha de Xangai reivindicou mais de 200.000 chineses e 70.000 vidas japonesas em combates urbanos de curta distância. Foi apenas a primeira das mais de 20 grandes batalhas travadas pelas forças nacionalistas chinesas, correndo contra a típica narrativa comunista, alegando que seus adversários políticos se esquivavam de lutar em favor da retirada para o interior da China.
Apesar dos valentes esforços chineses, incluindo um episódio em que uma unidade treinada e equipada pelos alemães, conhecida como os “800 Heróis”, detinha dezenas de milhares de japoneses de um depósito fortificado, os japoneses acabaram obrigando os chineses a sair de Xangai. Com a chegada dos reforços, a invasão continuou do Delta do Rio Yangtze com velocidade assustadora, ameaçando a capital chinesa de Nanjing.
Resistência prolongada
Os primeiros meses da guerra não viram quase nenhuma atividade comunista de conseqüência significativa. A única pequena vitória dos comunistas, a Batalha no Passo de Pingxingguan, resultou em apenas algumas centenas de baixas japonesas – no entanto, a propaganda subseqüente do Estado não teve fim.
Enquanto isso, os exércitos nacionalistas continuaram a lutar com unhas e dentes contra o ataque japonês, perdendo centenas de milhares de homens. Em Nanjing, onde a defesa incompetente da capital levou a uma debandada das forças chinesas, tantos soldados foram feitos prisioneiros e executados pelos japoneses que o número de baixas militares chinesas ainda não está claro. Tropas imperiais derramaram sua ira contra a população civil de Nanjing, matando centenas de milhares de pessoas.
As emagadoras derrotas de Xangai e Nanjing e a brutalidade associada cometida contra os civis visavam abalarar a moral chinesa, mas eles na verdade tiveram pouco efeito sobre a determinação dos nacionalistas em continuar a resistência. Em 1938, a maior batalha da guerra ocorreu na cidade de Wuhan, na China central, onde mais de um milhão de tropas nacionalistas resistiram a uma força japonesa persistente por mais de quatro meses.
Embora a esmagadora mobilidade e a força de matança dos exércitos imperialistas do Japão, estendendo-se a centenas de ataques com gás venenoso, forçaram os chineses a se retirarem de Wuhan, as fatalidades japonesas, que somavam mais de 100 mil, impediram novos avanços por muitos anos.
Uma punhalada pelas costas
Desde a tomada comunista do poder em 1949, os espetáculos e filmes da China continental retratam um esforço partidário generalizado que ocorre em território ocupado pelos japoneses, sempre com os revolucionários comunistas em primeiro plano.
Na realidade, a atividade do Partido Comunista limitou-se principalmente à infiltração gradual de regiões onde a guerra e a ausência de ordem (as forças japonesas eram freqüentemente pressionadas a exercer controle real sobre o território que haviam conquistado dos nacionalistas) constituíam lares ideais para o crescimento político do movimento.
Os nacionalistas, sob o comando de Chiang Kai-shek, foram auxiliados pelos Estados Unidos, mas este processo foi dificultado pela desconfiança diplomática e discordância entre os participantes-chave, em particular entre Chiang e o célebre general Joseph Stilwell.
Os comunistas chineses fizeram pleno uso da situação dos nacionalistas e nunca ajudaram de maneira significativa a preservar suas próprias forças; Um diplomata soviético estacionado na área da base comunista observou na época que o presidente do partido, Mao, estava relutante em mover tropas contra os japoneses.
Embora o Partido Comunista fosse de fato militarmente insignificante no começo da guerra, ele construiu um exército potente e bem organizado em curto espaço de tempo, como refletido na única grande operação militar realizada pelas forças comunistas – a Ofensiva dos Cem Regimentos de 1940. Mao, no entanto, criticou Peng Dehuai, que liderou a campanha de sucesso, por revelar a força das tropas comunistas. Durante a Revolução Cultural (1966-1976), Mao usaria a “traição” de Peng como parte da desculpa para tê-lo expurgado.
Quando o Japão finalmente se rendeu em 1945, sua rendição aconteceu primeiro nos Estados Unidos e depois perante as tropas nacionalistas chinesas. Seriam mais quatro anos de luta brutal em que as forças do PCC, agora entrincheiradas no norte da China e com crescente apoio soviético, dominariam os nacionalistas, que os Estados Unidos viam como uma causa perdida.
Tentando Silenciar o Passado
O Partido Comunista Chinês tem todos os motivos para distorcer a história da Segunda Guerra Mundial: o papel que desempenhou na guerra foi pequeno e deu crédito aos nacionalistas – que assumiram a ilha de Taiwan, que evoluiu para uma democracia sofisticada de seu próprio país – e minou sua própria legitimidade.
Assim, o Partido esconde a história real e, ao fazê-lo, rouba do povo chinês a verdade de sua própria história, segundo Xin Haonian, um historiador chinês que escreveu um livro sobre os generais do Exército da Oitava Rota, parte das forças armadas comunistas. “O Partido Comunista Chinês faz tudo isso para se tornar glorioso – mas na verdade o resultado é ridículo”, disse Xin durante uma palestra, transmitida pela New Tang Dynasty Television.
Mas mesmo com a sua incessante propaganda e controle do sistema educacional, muitos chineses estão cada vez mais cautelosos com a veracidade das informações que recebem dos canais estatais sobre a guerra. O ceticismo inclui filmes clássicos sobre a Revolução Cultural como “Tunnel Warfare” e “Mine Warfare”, mostrando minúsculos grupos de guerrilheiros comunistas chineses, montando uma resistência exagerada contra os “demônios” japoneses, bem como as representações mais contemporâneas da guerra— uma rotina na televisão noturna chinesa – que provocam escárnio das audiências pretendidas.
No entanto, essas táticas não sofisticadas funcionam algumas vezes. E elas servem para criar uma atmosfera geral de como os chineses vêem a guerra e, mais importante, os “inimigos” da China.
Previsivelmente, entre as táticas mais primárias podemos notar a reação contra os japoneses, como evidenciado em motins anti-japoneses dos últimos anos, onde até mesmo os carros da marca japonesa foram derrubados e incendiados. Nesta narrativa, a China é uma vítima perpétua. Desculpas dos líderes japoneses são consideradas insinceras, e a pequena, mas clara ala direita daquela nação é retratada alegremente como sendo a real política japonesa.
O cinismo da representação do Partido Comunista Chinês sobre a guerra e o papel atribuído ao Japão como Inimigo Público número um não pode ser mais bem expresso do que pelo próprio Mao Zedong.
O insurgente comunista que fundou a República Popular da China fez um agradecimento pessoal ao primeiro-ministro japonês Tanaka Kakuei em 1972, quando a República Popular da China e o Japão estabeleceram relações diplomáticas. Segundo o relato de Kakuei, e apoiado pelo médico pessoal de Mao, Mao disse que Kakuei “não precisava pedir desculpas”.
De acordo com o médico de Mao, “Mao garantiu a ele que foi a ‘ajuda’ da invasão japonesa que possibilitou a vitória comunista e a visita entre líderes comunistas e japoneses”.
Dada toda essa “ajuda”, a oferta de reparações do Japão foi recusada.