Originalmente publicado em inglês em 2016, o Epoch Times tem o orgulho de republicar “Uma perseguição diabólica sem precedente: um genocídio contra o bem na humanidade” (editores Dr. Torsten Trey e Theresa Chu. Clear Insight Publishing, 2016). O livro ajuda a entender a extração forçada de órgãos que ocorre na China, explicando a causa fundamental dessa atrocidade: o genocídio cometido pelo regime comunista chinês contra os praticantes do Falun Gong.
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Capítulo 4: O Falun Gong não é um culto
Por David Kilgour
Oito anos atrás, David Matas e eu, como voluntários, participamos da campanha internacional para conscientizar o público sobre a pilhagem/tráfico de órgãos de praticantes do Falun Gong na China. A perseguição começou em meados de 1999, mas nós, como investigadores independentes, não conseguimos encontrar evidências do comércio de órgãos extraídos de praticantes do Falun Gong antes de 2001. O relatório revisado de Matas-Kilgour está disponível na internet em quase 20 idiomas (confira david-kilgour.com ou organharvestinvestigation.net).
Numa ocasião, nossa delegação chegou a um parlamento nacional na Europa central, esperando se reunir com um grupo de legisladores multipartidários, apenas para descobrir que o parlamentar local encarregado de convidar outras pessoas, no último momento, decidiu não fazê-lo. Sua justificativa declarada era de que sua facção política é baseada na fé e que o Falun Gong é uma religião diferente da sua.
Em nenhum dos aproximadamente 50 países que Matas e eu já visitamos separadamente ou juntos para discorrer sobre esse assunto desde que nosso relatório foi publicado em 2006 ouvimos um praticante do Falun Gong falar senão com respeito sobre outras comunidades espirituais. Além disso, que religião não se identifica com os princípios fundamentais do Falun Gong de “verdade, compaixão e perseverança”? A serenidade e a não violência que seus praticantes têm demonstrado aparentemente sem exceção diante de uma infinidade de espancamentos, prisões, torturas e assassinatos em toda a China desde meados de 1999 são impressionantes para quem está ciente dos detalhes.
O século 20 foi sem dúvida o pior da história registrada no que se refere à brutalidade dos governos dirigida às comunidades religiosas. Uma estimativa provavelmente alta do número de indivíduos de todas as nacionalidades que morreram prematuramente por causa de suas crenças entre 1900 e 2000 é de surpreendentes 169 milhões, incluindo 70 milhões de muçulmanos, 35 milhões de cristãos, 11 milhões de hindus, nove milhões de judeus, quatro milhões de budistas, dois milhões de sikhs e um milhão de bahaístas.
Muitos morreram devido à violência inter ou intrarreligiosa, mas a maioria pereceu nas mãos de regimes totalitários, que detestavam todas as religiões, em grande parte porque as lealdades mais profundas dos seus membros estavam em outro lugar do que com déspotas locais ou nacionais. Mao, Stalin, Hitler, Pol Pot e outros, que cometeram uma vasta gama do que chamamos de crimes contra a humanidade, assassinaram dezenas de milhões dos seus concidadãos por estes terem fé espiritual. A atitude hostil em relação a todas as religiões na China totalitária é a primeira grande razão da perseguição que os praticantes do Falun Gong têm enfrentado em toda a China até o momento atual.
Clive Ansley, da Colúmbia Britânica, que praticou direito em Xangai por 13 anos e é o presidente norte-americano da Coalizão para Investigar a Perseguição ao Falun Gong, observou recentemente:
“Mas há 100 a 200 mil praticantes do Falun Gong que foram assassinados nas mesas de cirurgia da China. Que tiveram seus órgãos roubados e vendidos para lucro. E dificilmente há um murmúrio sobre isso em qualquer lugar. Vimos uma série de reportagens nos jornais, em toda a mídia, sobre Darfur, Birmânia e Tibete. Mia Farrow protestou contra o que chamou de ‘Olimpíadas do Genocídio’ por causa do genocídio indireto que a China realizou em Darfur; contudo, ela nunca mencionou o genocídio direto que o Partido Comunista Chinês vem implementando sistemática e diariamente desde 1999. Nunca vi uma referência ao genocídio contra o Falun Gong em nenhuma dessas discussões sobre atrocidades chinesas em Darfur ou no Tibete.”
“A mídia ignora categoricamente a atrocidade mais bestial que o mundo tem visto desde o Holocausto. Nos últimos 15 anos, o crime contra a humanidade mais bárbaro da história moderna vem ocorrendo diariamente na China e provocou um silêncio absolutamente estrondoso por parte da mídia e da maioria dos políticos norte-americanos. Este é o Holocausto novamente, mas com uma dimensão nova e assustadora.”
A segunda razão da perseguição contra o Falun Gong foi o seu apelo imensamente popular em toda a China, depois de ter sido apresentado pelo fundador Mestre Li Hongzhi ao público em geral apenas na China rural em 1992. O crescimento fenomenal foi parcialmente devido as suas raízes profundas no taoísmo, confucionismo, budismo e outras características fundamentais da cultura tradicional chinesa, exercícios físicos e espiritualidade. Essas características tradicionais e proeminentes da cultura chinesa foram suprimidas por Mao Tsé-tung de 1949 até sua morte em 1976. Em 1999, pelas estimativas do próprio Partido Comunista Chinês, havia mais de 70 milhões de praticantes do Falun Gong na China, mais do que os membros do PCC.
Um fator negativo indicado pelo ex-líder chinês Jiang Zemin e a outras autoridades do Partido foi a falta de hierarquia e estrutura do Falun Gong, o que impossibilitava o controle dos seus membros e atividades.
Esses fatores ajudam a explicar por que Jiang Zemin, como chefe do Partido e do Estado chinês em 1999 e provavelmente antes, desenvolveu seu ódio irracional pelo Falun Gong.
Culto?
A “maior inverdade” de Jiang Zemin, ou seja, que o Falun Gong é um “culto do mal”, é reminiscente das mensagens que o governo de Ruanda transmitiu por meio da sua mídia estatal contra a minoria tutsi antes do genocídio cometido em todo o país entre abril e junho de 1994. Os bolcheviques na Rússia seguiram um caminho semelhante contra sua própria lista prescrita de inimigos do Partido Comunista após a Revolução de 1917. Os nazistas de Hitler usaram isso contra várias comunidades minoritárias, especialmente os judeus alemães, depois de 1933.
Houve um fluxo tóxico contínuo de propaganda contra o Falun Gong na mídia estatal controlada pelo Partido Comunista Chinês em toda a China depois de 1999, e muitos nacionais e chineses fora do país aceitaram ingenuamente as mentiras do regime sobre esse e outros assuntos.
Ian Johnson, ex-chefe do escritório de Pequim do Wall Street Journal, que ganhou o Prêmio Pulitzer por suas reportagens sobre o Falun Gong, levantou vários véus sobre a perseguição do regime chinês contra o Falun Gong em seu livro de 2004, Wild Grass:
• Declarar o Falun Gong um culto foi um dos “movimentos mais brilhantes” do regime, porque colocou o Falun Gong na defensiva para provar sua inocência e “revestiu a repressão do governo com a legitimidade do movimento anticulto do Ocidente. O governo rapidamente apreendeu o vocabulário do movimento anticulto, criando sites e destacando especialistas da noite para o dia, que entoavam que o Mestre Li não era diferente de Jim Jones, o líder do Templo do Povo que em 1978 supostamente matou 912 membros, ou da Igreja da Cientologia, cujos membros são supostamente submetidos à lavagem cerebral para dar enormes quantias de dinheiro.”
• “Para provar seu argumento, o governo apresentou uma série de histórias horríveis sobre pessoas que haviam cortado o próprio ventre à procura da roda do darma que deveria girar no local. Outros foram apresentados cujos parentes haviam morrido após realizarem os exercícios do Falun Gong em vez de tomarem medicamentos…”
• “O problema era que poucos desses argumentos se sustentavam. O governo nunca permitiu que as vítimas do Falun Gong fossem entrevistadas independentemente, tornando quase impossível verificar suas alegações. E mesmo se alguém aceitasse todas as reivindicações à letra, elas representariam uma porcentagem muito pequena do número total de adeptos do Falun Gong…”
• “Mais fundamentalmente, o grupo não correspondia a muitas definições comuns de culto: seus membros se casam fora do grupo, têm amigos externos, mantêm empregos normais, não vivem isolados da sociedade, não acreditam que o fim do mundo seja iminente e não dão quantias significativas de dinheiro à organização. Mais importante, o suicídio não é aceito, nem a violência física…”
Como ex-conselheiro da Coroa, eu falei sobre os perigos dos cultos e de alguns novos movimentos religiosos em uma conferência internacional na Universidade de Alberta em 2004 (11 de junho), cujo texto está disponível no meu site (david-kilgour.com/mp/cultsandnewreligions.htm).
Na mesma conferência, realizada no Lister Hall, um estudante-residente da Universidade de Alberta, em Edmonton, e dois funcionários do consulado chinês em Calgary estavam distribuindo panfletos que atacavam o Falun Gong, o que é contrário ao Código Penal do Canadá no que se refere a “incitar o ódio” contra uma comunidade religiosa ou cultural identificável. Dois policiais da cidade de Edmonton concluíram com base no conteúdo do panfleto que os “diplomatas” deveriam ser processados judicialmente, mas o procurador-geral da província recusou-se a dar o consentimento necessário para prosseguir com as acusações. Havia questões de imunidade diplomática, mas, em minha opinião, ele deveria ter consentido. Há mais detalhes do incidente na seção 21 do nosso relatório (“Incitação ao ódio”) e o relatório policial do incidente é exibido também.
O professor David Ownby, da Universidade de Montreal, que fez pesquisas específicas sobre o Falun Gong e é citado em nosso relatório, concluiu:
• Os praticantes do Falun Gong na América do Norte são bem-educados e tendem a viver em famílias nucleares. Muitos trabalham com computadores ou em finanças; alguns são engenheiros;
• Os praticantes do Falun Gong não têm obrigações financeiras com sua comunidade de fé; além disso, eles não vivem isolados e cumprem a lei;
• Falun Gong não é um culto.
A conclusão de Ownby está de acordo com a de muitos observadores independentes, incluindo David Matas e eu. Nos agora 115 países onde o Falun Gong é praticado, existe apenas um, a China (e possivelmente a Rússia de Vladimir Putin), onde seus praticantes parecem não ser considerados bons cidadãos e membros exemplares das suas respectivas sociedades civis.
Liberdade indivisível
Um pesquisador sobre a perseguição às religiões na China sugeriu, há vários anos, que provavelmente havia tantos cristãos atendendo serviço religioso por toda a China a cada semana, principalmente em segredo, quanto havia cristãos praticando abertamente em toda a Europa. Ao defender os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas para uma jovem comunidade espiritual como o Falun Gong, o parlamentar míope mencionado antes acabaria defendendo a liberdade de religião em geral na China. A Constituição da China diz que seus cidadãos “desfrutam da liberdade de crença religiosa” (art. 36), embora aqueles não afiliados às chamadas “igrejas patrióticas” muitas vezes tenham negado o direito de praticar sua fé.
O Estado-Partido chinês considera todas as comunidades espirituais como desvios, de acordo com o materialismo dialético de Karl Marx. Pesquise (em inglês), por exemplo, “Perseguição aos cristãos pelo governo chinês” no Google.ca e hoje são listadas 1.970.000 entradas, muitas delas assustadoras. Substitua “cristãos” por vários outros grupos e você obtém:
• Estrangeiros: 14.800.000 entradas
• Muçulmanos: 3.180.000
• Democratas: 43.400.000
• Mulheres: 6.440.000
• Falun Gong: 290.000
• Tibetanos: 441.000
• Gays e lésbicas: 1.660.000
• Uigures: 4.210.000
• Jornalistas: aprox. 37.000.000
• Advogados: 2.820.000
• Investidores: 32.600.000
• Investidores estrangeiros: 39.200.000
• Empresários: 61.000.000
A maioria dos prisioneiros de consciência do Falun Gong está em campos de trabalhos forçados em condições terríveis, produzindo uma ampla gama de produtos para exportação, incluindo decorações de Natal, violando as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Pesquise no Google, “corrupção do governo chinês”, e você pode acessar 36.900.000 itens. “Execuções secretas do governo chinês” traz 8.460.000. Outro item que chamou minha atenção foi “o governo chinês nega”, que mostra 4.140.000 entradas. O Estado-Partido de Pequim é especialista em fazer negações falsas, incluindo questões sobre se houve uma epidemia de SARS na China em 2003, se alguém morreu na Praça da Paz Celestial em junho de 1989 e se o regime pilha e trafica os órgãos de praticantes do Falun Gong.
Conclusão
A dignidade humana hoje é indivisível em todo o mundo. Todas as comunidades religiosas e outros membros de sociedades civis em todos os lugares devem estar totalmente unidos em questões como as que os praticantes do Falun Gong enfrentam diariamente por muito tempo em toda a China. Se os povos de sociedades abertas ao redor do mundo não se unirem nessas questões, algumas das ditaduras remanescentes do mundo apenas repetirão as terríveis devastações do século passado.
Como indicado acima, uma questão está clara além da dúvida: o Falun Gong – cujos aderentes preferem ser chamados de grupo de praticantes de exercícios que incluem meditação, em vez de religião – não é um culto.
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