Pé na estrada rumo ao sul dos Estados Unidos

12/08/2013 10:43 Atualizado: 06/03/2018 16:22
Das antigas plantações de algodão do interior ao extremo sul da Flórida, há muito o que descobrir numa aventura de carro típica de road movies
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Cenários deslumbrantes e encontros inusitados podem tornar a viagem de carro mais interessante (Nicolas T/Creative Commons)

Todos sabemos que voar é o meio mais rápido para se chegar aos lugares, que é seguro e também confiável. Sim, sim, todos sabemos. Eu mesmo gosto muito de ver as nuvens de cima e até mesmo das refeições que as atendentes servem a bordo, mas ano passado eu tive uma experiência que me mostrou um novo lado: No matter where you go, enjoy the ride.

Em agosto de 2012, eu e mais alguns amigos, depois de um verão trabalhando nos parques da Disney na Flórida, decidimos pegar um carro e desbravar velhos (e novos) lugares nos EUA. Fizemos um roteiro, marcamos nossos hotéis, enchemos o tanque do automóvel e saímos numa típica road trip.

Road trips são incríveis. Ponto. A trilha sonora certa tocando no rádio, as paisagens que se modificam constantemente emolduradas pela janela e pelo para-brisa e ainda as conversas infinitas a bordo fazem nos sentirmos personagens de um filme dirigido por nós mesmos.

O nosso roteiro foi bem diverso, cruzamos quatro estados no sul dos EUA. Começamos por Orlando e descemos a Florida Turnpike, algo que boa parte dos brasileiros que vão à Florida fazem. Os postos de parada do meio da estrada têm bagatelas sensacionais e sanduíches artesanais muito bons que agradam até mesmo os vegetarianos, algo que é difícil no país do açúcar e da gordura trans.

A singularidade da Flórida

Miami desponta no horizonte e a gente já sente que não estamos mais nos Estados Unidos. O espanhol é difundido e eu tive que ouvir “You’re in Miami, so speak spanish”. EUA, vocês perderam esse jogo. Se você está em uma road trip é porque pelo menos um pouquinho de aventura você quer, então fuja de outlets, ou pelo menos reserve um tempo pra aproveitar o clima agradável da cidade.

South Beach, seus cafés com vista para mar e seus hotéis Art Noveau são os coadjuvantes ideais para as reais estrelas do local, as pessoas! Patins e skates, jovens se divertindo, luzes piscando, rumba, salsa, corpos suados, risos, bebida (muita bebida) ajudam a você começar a entender o ritmo do local e reconhecer que brega é chamar Miami de brega.

De volta ao banco do motorista, nossa viagem continua. Pegue o mapa dos EUA, localizou Miami no extremo sul da Flórida? Sim. Aí você pensa: é o fim da linha e não é possível prosseguir viagem ao sul. Engano seu: há um grupo de 1.700 ilhas – Florida Keys – e uma rodovia, que por apenas US$ 1 que te leva até ao fim delas, passando pelas ilhas principais até Key West.

Key West é incrível, e lá sim, é o extremo sul dos EUA continental, fato celebrado pelos locais. A cidade é tão ao sul que fica mais perto de Havana, em Cuba, do que Miami. Lá aproveitamos o dia para andar pela orla, vendo os belos iates dos super ricos e comendo nos restaurantes especializados em frutos do mar.

Não dá pra perder o Sunset Celebration na Mallory Square, todos os dias do ano turistas se reúnem para assistir ao pôr-do-sol e ainda acompanhar performances de artistas locais que abusam da interatividade e do carisma.

A vida noturna em Key West se concentra em volta da Duval Street, com vários bares e boates, pessoas na rua e uma aura de constante festa. Não pudemos deixar de comer a famosa Key Lime Pie, uma torta de limão típica de Key West.

Desbravando a cultura do interior americano

Agora sim, tivemos que retornar em direção ao norte seguindo pela costa atlântica da Flórida, onde passamos por Fort Lauderdale, Palm Beach e Port St. Lucie. Chegamos à tarde em Saint Augustine, aqui entra o nosso roteiro histórico.

Saint Augustine é a cidade mais antiga continuamente ocupada dos Estados Unidos. Histórias de piratas são comuns na cidade onde visitamos o Castillo de San Marcos e o Hotel de Ponce de Leon, são lugares de importância histórica para o país.

Off to the road. Cruzamos o norte da Flórida, Alabama, Mississippi e chegamos à Louisiana e ao delta do Rio Mississippi, em Nova Orleans, Nawlins ou simplesmente NOLA. Essa cidade foi a maior surpresa que eu já tive nas minhas andanças pelo mundo: um lugar repleto de alegria, música, pessoas amigáveis e simpáticas, que têm muita história pra contar (quem não se lembra do Katrina?).

O jazz é constante e o legal é ver que as novas gerações abraçam o ritmo, dando a ele um novo brilho sem abrir mão das raízes. Fomos ao Garden District, repleto de mansões antiquíssimas, andamos de Steamboat pelo Mississippi, comemos a comida Cajun em diversos restaurantes, como o “Court of Two Sisters”, fomos às baladas da Bourbon Street, conhecemos as antigas plantações de algodão, onde escravos eram explorados pelos senhores do sul e ainda pegamos uma balsa para explorar os pântanos da Louisiana.

Optar por viajar de carro nos proporcionou momentos incríveis não só nessas cidades, mas durante todo o percurso. Mãos no volante, pé no acelerador e fome de novas experiências é o básico para uma viagem de carro de sucesso. Que as estradas nos levem para novos horizontes com novas paisagens, pessoas e lições para aprender. Pode me chamar de old school, mas entre as nuvens e o asfalto, prefiro ficar aqui embaixo.