É difícil argumentar contra a conservação ambiental. É por isso que os políticos muitas vezes usam questões ambientais para silenciar a oposição, disse o analista Rupert Darwall em seu novo livro “Green Tyranny” (“Tirania Verde”).
Ao amarrar seus objetivos à legislação ambiental, a indústria e os grupos políticos podem ocultar suas segundas intenções sob uma bandeira verde, disse ele. Por exemplo, eles podem promover ou prejudicar certas indústrias, retratando-as como ambientalmente amigáveis ou prejudiciais.
Embora muitos ambientalistas estejam genuinamente preocupados com o meio ambiente, o ambientalismo é usado por alguns como um Cavalo de Tróia para mudanças políticas que não têm nada a ver com o meio ambiente, de acordo com Darwall.
Regulamentos ambientais fortes também requerem Estados administrativos fortes ou uma concentração de poder significativa. O alarmismo em torno de questões ambientais pode levar um público temerário a abandonar suas liberdades, disse Darwall.
Em “Tirania Verde”, ele rastreou e examinou as histórias alarmistas sobre a chuva ácida e o inverno nuclear, mostrando como elas foram usadas para o ganho político e econômico. Um processo semelhante está em ação na luta contra a mudança climática, disse Darwall. E isso é “uma luta pela alma dos Estados Unidos”.
“Evitar uma catástrofe planetária dá ao presidente e ao poder executivo uma maior autoridade do que a concedida pela Constituição”, disse ele durante uma palestra de apresentação do seu livro na Heritage Foundation em Washington, D.C., em 28 de novembro. “Isso é algo maior do que a política energética. É maior do que a economia. Em última análise, trata-se de uma batalha entre o Estado administrativo e a ordem constitucional dos Estados Unidos. É sobre como os Estados Unidos são governados. Em uma palavra, trata-se da liberdade.”
Estocolmo conduz a narrativa
No centro da narrativa de Darwall está o ex-primeiro-ministro sueco Olof Palme. Na década de 1960, Palme começou a promover o alarme sobre a chuva ácida. Ele teve a ajuda do meteorologista Bert Bolin, que escreveu o primeiro relatório do governo sobre o assunto.
Darwall disse que Palme queria obter apoio para o seu impopular programa de energia nuclear, o que requeria matar a indústria do carvão. Um consenso científico nos anos que se seguiram afirmou que as chuvas ácidas causadas pela queima do carvão estavam devastando florestas e lagos em todo o mundo.
No entanto, um estudo de 10 anos e US$ 500 milhões, encomendado pelo governo federal dos EUA, concluiu em 1990 que a chuva ácida não era responsável por esse dano ambiental. Ela só teve um efeito limitado em alguns tipos específicos de árvores e em elevadas altitudes. No entanto, este estudo foi essencialmente ignorado, mesmo pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA.
Na década de 1970, Palme começou a expressar preocupações sobre as mudanças climáticas. E chegou a dizer a um repórter em 1974 que isso o preocupava mais do que qualquer outro problema no mundo.
Darwall escreveu em “Tirania Verde”: “A Suécia acabaria a década atormentada por greves e fechamento de locais de trabalho, além dos maiores impostos de qualquer nação industrial, impostos necessários para financiar os gastos públicos que atingiriam 64% do PIB. Para um primeiro ministro falar sobre o aquecimento global – as temperaturas globais, na verdade, estavam em declínio desde meados da década de 1940 – como o problema que mais o preocupava quando a economia se desmoronava poderia parecer sem sentido.”
Mas não era sem sentido se usado por Palme para reforçar sua campanha anticarvão e pró-nuclear, disse Darwall. Novamente, Bolin colaborou com Palme e escreveu o artigo “Energia e Clima” em 1975, influenciando a política energética sueca para limitar os combustíveis fósseis. Bolin e Palme foram fundamentais na fundação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) na década de 1980. O IPCC continua a ser central para a questão das mudanças climáticas hoje.
A aparente neutralidade da Suécia em face de um mundo bipolar na época conferiu-lhe influência para iniciar uma mobilização global sobre essas questões, disse Darwall. Durante a Guerra Fria, disse ele, os soviéticos também usaram Estocolmo para espalhar o medo sobre um inverno nuclear. O objetivo político desse outro medo ambiental era pressionar pela suspensão da corrida armamentista nuclear dos Estados Unidos.
Com o ambientalismo da Suécia surgiu também seu modo de governança, disse Darwall. Ele cita o livro de Roland Huntford, “Os Novos Totalitários”: “A sociedade sueca é o produto de uma cultura conformista que inculca a submissão inquestionável à autoridade.”
Ele também cita o poeta alemão Hans Magnus Enzensberger, que disse que o Estado sueco tinha regulado “os assuntos dos indivíduos num grau sem paralelo em outras sociedades livres”. Darwall escreveu: “Isso não só gradualmente corroeu os direitos dos seus cidadãos, mas esmagou seu espírito.”
Mais regulamentação, menos liberdade
Esse tipo de administração forte é o que seria necessário para aderir a soluções de mudança climática como o Acordo de Paris, disse Darwall. O mercado livre não reduziria as emissões suficientemente, apenas o envolvimento pesado do governo poderia fazer isso.
“O aquecimento global levanta a questão sobre a natureza e o propósito do Estado”, escreveu Darwall. “Se o seu papel é efetuar uma transformação radical da sociedade ou se sua principal tarefa é proteger a liberdade.”
A separação dos poderes na Constituição dos EUA está em jogo, disse ele. “A arquitetura completa do Acordo [de Paris] foi projetada para contornar o requisito da Constituição para a consulta e consentimento do Senado”, escreveu ele. Quando o então presidente Barack Obama ratificou o acordo em 2015, ele contornou o Senado.
A submissão à governança global também seria necessária, disse Darwall, citando Palme: “Devemos superar e chegar a uma nova época em que todos percebam que a interdependência mútua é tão importante que devemos desistir de parte da soberania nacional.”
Palme também disse que as soluções de mudança climática não poderiam ser alcançadas sem ideias socialistas. Fundamentalmente, o movimento ambiental foi manipulado por radicais socialistas, disse Darwall.
Verde é o novo vermelho
Os esquerdistas radicais na Alemanha, conhecidos como os 68istas, tornaram-se instrumentais no movimento ambientalista. “Eles pegaram os conceitos da esquerda do passado e os vestiram com um aspecto ecológico que vemos hoje. Em vez da visão marxista catastrófica sobre o capitalismo, uma ecocatástrofe. Em vez da utopia socialista, uma nova utopia ecológica. Em vez do culto da fábrica, o culto da floresta. Em vez da cor vermelha, a cor verde”, escreveu Darwall, citando o escritor político americano Paul Berman.
A corrida pelas energias renováveis começou na Alemanha e isso se provou caro e ineficaz, disse Darwall. A Lei de Energia Renovável de 2000 deveria criar empregos verdes na Alemanha, mas criou fábricas de painéis solares na China.
Foi promovido que deveria custar o equivalente a uma colher de sorvete na conta mensal de eletricidade, mas a subida dos preços provocou revolta nos cidadãos. Ao longo de nove anos, isso custou aos cidadãos US$ 304 bilhões em contas mais altas, disse Darwall.
Entre 1999 e 2012, as emissões de carbono das usinas de energia alemãs de fato aumentaram enquanto as emissões das usinas de energia norte-americanas caíram. Isso ocorreu porque a complexidade de estabelecer uma rede para lidar com os picos e vales da energia solar e eólica acabou repelindo do mercado as fábricas de gás de baixa emissão, criando maior dependência pelos combustíveis de maior emissão.
Energia renovável: uma transferência de riqueza
Com um preço acentuado, sem reduzir as emissões e matando milhares de aves com seus moinhos de vento, Darwall disse que o programa de energia renovável da Alemanha não tinha nada a ver com melhorar o meio ambiente. “Foi uma cortina de fumaça para uma agenda verde radical e uma enorme transferência de riqueza dos consumidores para os aproveitadores econômicos verdes”, escreveu ele.
Ele citou um discurso proferido em 1986 por um alto funcionário alemão. “O funcionário foi de uma candura encantadora usando ‘expressões vazias’ para promover a agenda ambiental”, disse Darwall. “‘Equilíbrio ecológico’, por exemplo, foi uma das expressões usadas, que de fato não tem sentido. Outra foi a afirmação de que a ecologia e a economia não estavam em conflito… Lembre-se disso quando você se deparar com reivindicações sobre ‘crescimento verde’ ou ‘bonanças de emprego de energia limpa’.”
O ambientalismo alemão influenciou especialmente a Califórnia, disse Darwall. À medida que a Califórnia aumentava a energia solar e eólica, os preços da eletricidade aumentaram. “Até 2014, a Califórnia estava importando um terço de sua eletricidade”, escreveu Darwall. “Promovendo-se como um modelo para a América, é evidentemente impossível para todos os outros quarenta e sete estados contíguos importarem um terço de sua eletricidade um do outro.”
Darwall estudou economia e história na Universidade de Cambridge e teve vários cargos de finanças, incluindo como assessor especial do chanceler do Tesouro britânico. Ele acha que os riscos da mudança climática foram exagerados, enquanto os custos das soluções de mudança climática foram minimizados.
O que está em jogo é a vitalidade econômica dos Estados Unidos. Os Estados Unidos estão a caminho de serem uma superpotência de hidrocarbonetos, disse ele.
Espiral de silêncio
Darwall percebe que sua visão é impopular, pelo menos em público. Ele disse que muitas pessoas que, em particular, concordariam com ele, não expressariam essas opiniões publicamente porque isso contradiria a narrativa predominante na mídia.
“A reportagem unilateral da mídia é uma característica marcante do debate sobre o clima e a energia”, escreveu ele. Isso cria o que é conhecido como uma “espiral de silêncio”. Este termo descreve a situação em que as pessoas não estão dispostas a expressar suas opiniões se os outros ao seu redor provavelmente discordam.
Darwall cita uma pesquisa do Centro de Pesquisa Pew de 2014, entre outras fontes, que mostrou que as pessoas são menos propensas a compartilhar suas opiniões quando sentem que sua visão não é amplamente compartilhada. O Pew explicou: “Uma população informada requer que as pessoas sejam expostas à informação sobre questões políticas importantes e tenham uma postura aberta para discutir essas questões com as pessoas ao seu redor.”