Sentada numa grande pedra na Ilha de Paulet – uma ilha rodeada por oceano cinza – pude observar crateras vulcânicas cobertas de neve e grandes ondas marítimas batendo-se nas encostas da Antártida.
A Ilha de Paulet é uma grande colônia de pinguins-de-adélia, uma das cinco espécies de pinguins que vivem permanentemente na ilha.
A Antártida, com seus imponentes penhascos, vulcões ativos, bacias em forma cartográfica modeladas por icebergs e com suas insondáveis extensões, é um dos lugares mais isolados e espetaculares da Terra. Por séculos este continente branco envolto em neve foi o destino de marinheiros, baleeiros e exploradores dispostos a irem a locais extraordinários para desvendar seus segredos.
Este é certamente o lugar mais distante do planeta. Foi a impressão que tive quando participei de uma expedição no Cruzeiro Hurtigruten. Foram três dias de viagem por ar e dois dias navegando para alcançarmos a ponta da fronteira da Antártida.
O continente antártico é uma vez e meia o tamanho dos Estados Unidos. Se a pessoa visualizar a Antártida como o perfil de uma cabeça de elefante com sua tromba para cima, até o momento, só se tem explorado a ponta da tromba.
Esforços de preservação e os sintomas das mudanças climáticas globais
Muitas nações reclamam pedaços de terra neste vasto potencial de recursos naturais. Desde 1961, o continente tem estado sob o Tratado Antártico em que 49 nações são signatárias. O tratado foi um marco que ‘congelou’ as reclamações de propriedade e declarou que somente a investigação científica pacífica era permitida.
Todas as nações do Tratado mantêm centros de investigação durante o ano. As operadoras de turismo, que enviam cerca de 20 a 42 cruzeiros por ano a essas águas, possuem regulamentos de forma a não criarem danos aos nativos locais: pinguins, baleias, focas e outras variedades de pássaros marinhos, para que essas espécies não se sintam ameaçadas por visitantes humanos. Nada pode ser deixado para trás.
Apesar das precauções de conservação, os sintomas da mudança climática global têm se tornado visíveis e estão afetando a população de pinguins-de-adélia. Os cientistas descobriram que as espécies estão abandonando as colônias do norte e se movendo para o sul em direção ao clima mais frio. A população de pinguim-gentoo, o mais adaptável das espécies da Antártida, está se apoderando das áreas de reprodução dos pinguins-de-adélia.
Diante da pedra em que eu estava sentada, havia dois pinguins demonstrando afeição mútua enquanto outro alimentava seus dois filhotes. É difícil para um humano caminhar na Ilha de Paulet, afinal, uma população de mais de 250 mil pinguins não é algo fácil de ignorar. Naquela tarde, nosso barco atravessou uma passagem de 100 metros chamada Fole de Netuno e chegamos a um local onde há uma caldeira submersa de um vulcão ativo, cujo tamanho é de cerca de 18 milhas quadradas.
A Ilha da Decepção é um aglomerado de rochas vulcânicas cobertas por neve de onde saem fumaça e gases. Dá para ver ao longe os edifícios das estações espanholas em contraste com a paisagem de três focas comendo caranguejos. No século passado, os baleeiros traziam os cadáveres de suas presas a uma pequena entrada existente na caldeira, que é conhecida por Baía dos Baleeiros. Diz-se que uma pessoa podia caminhar sobre os imensos ossos de baleias que ficavam por toda a baía.
O antigo vulcão que criou a Ilha da Decepção ainda está ativo. A última vez que entrou em erupção foi entre 1968 e 1970, quando destruiu duas estações de investigação chilenas. Os cientistas espanhóis cravaram barras de metal de vários metros nas rochas acima, na borda do vulcão, e abaixo, no fundo da caldeira, para medir o movimento sísmico. A pressão vulcânica está aumentando e isto é sinal de outra erupção num futuro próximo.
Uma aventura como nenhuma outra
O navio ficou ancorado em alto mar e seis de nós subimos num pequeno bote, fomos à praia e saltamos na água fria. A areia era realmente cascalho negro, deslizando como lava congelada abaixo das fortes ondas. Enquanto caminhávamos, o cascalho se movia e cedia sob nossos pés. Devido às botas de borracha, obrigatórias por um tratado internacional, era difícil subir na borda do vulcão.
Fora da cratera, o mar batia nas escarpas íngremes e o vento trazia um leve, mas inconfundível cheiro de pinguins. Dentro da cratera havia uma série de pequenas depressões e dois lagos, um amarelo e outro verde cor de jade.
A neblina começou a fechar a paisagem como uma cortina e prosseguir subindo tornou-se perigoso. Voltei ao nosso ponto de partida, onde nossa alegre turma tirava a roupa para nadar na Antártida. Isto aconteceu graças ao desafio de um amigo que cresceu na Noruega e eu o segui.
O fundo do mar era pedregoso e irregular. A água era tão fria que era difícil respirar. Abaixo de mim, havia um velho vulcão murmurando em seus sonhos e, um pouco mais distante da borda da cratera, havia baleias, focas e pinguins nadavam nas correntes geladas.
Não parecia importar que água quente jorrasse através das fissuras novas e velhas. Estas correntes não influenciavam o gelo ao meu redor. Assim, logo escapei e deixei o mar para os pinguins e os comedores de caranguejos.