‘Música para a Alma’ é um projeto musical que nasceu depois que Jorge Bergero, violoncelista argentino e idealizador do projeto, passou por uma difícil situação em 2011. Sua esposa, María Eugenia Rubio, a quem conheceu quando tocava como flautista no Teatro Colón de Buenos Aires, morreu devido a um câncer de mama.
Antes do falecimento de María, o casal resolveu transmitir sua arte e alegria, mesmo em meio à dor e à insegurança, através da ferramenta pela qual eles eram mais apaixonados: a música.
O objetivo a que se propuseram era o de oferecer um momento de paz a quem estivesse passando por uma situação similar, e que, devido à sua condição, não teria meios de mobilizar-se para desfrutar da música, motivo pelo qual eles levariam a música aonde a pessoa estivesse.
O ano de 2011, sem dúvida, seria um divisor de águas para o casal. Durante a internação da flautista na Fundación Salud, Jorge e um grupo de dez colegas começaram a fazer concertos uma vez ao mês para os residentes do estabelecimento. Mesmo que Eugenia não pudesse tocar flauta, devido à sua condição de saúde, ela participava cantando. No final do ano, no entanto, ela morreu, depois de uma intensa luta contra a doença.
Entretanto, o projeto se manteve, e as apresentações chegaram a Escola para Crianças Cegas Santa Cecília, localizada no bairro portenho de Caballito. “O contato com as crianças foi algo inesperado, muito forte”, disse Jorge ao Epoch Times. Esse foi o grande motivo pelo qual decidiram continuar com a iniciativa.
“Uma menina cega pôde acompanhar alguns violinistas, e realmente foi como uma espécie de despertar para essa possibilidade, que levava o contato com a música a um lugar diferente do qual vínhamos fazendo profissionalmente. Dessa conexão surgiu a ideia de continuar fazendo estes tipos de concertos”, acrescenta o músico.
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Do terno no Teatro Colón ao nariz de palhaço no hospital
A experiência adquirida por Jorge Bergero permite que ele viva em dois mundos diferentes. Por um lado, a sua vida como um profissional com uma carreira de trinta anos “usando terno”, com pouco contato visual com as pessoas – por estar no palco -, e onde a relação com o público é mais distante.
Por outro, ele também pode desfrutar de um outro mundo: aquele em que o seu público são pacientes em leitos hospitalares – onde coloca o seu nariz de palhaço -, centro universitários ou lares de idosos. Nesse sentido, “o entusiasmo gerado é muito profundo, é uma conexão que se relaciona com uma situação de dor ou de necessidade, e na qual estão presentes cem por cento”, acrescentou.
“São experiências que ensinam muito sobre o poder da comunicação através da arte. Lembro-me que em seus últimos meses, Eugenia poderia transformar toda uma situação de muita dor física: estava com um respirador e deu algumas pinceladas, fez alguns traços com energia! Eu acho que era mais a alma do que o corpo que pintava, porque o corpo não aguentava mais “, continuou Jorge.
Então, recordou a experiência de quando tocou em um colégio de crianças deficientes auditivas. “Começamos a fazer as crianças seguirem a orquestra, e havia um menino que estava lá há pouco tempo, e todos ficaram surpresos, pois era calado, não falava com ninguém, expressava-se muito pouco e, de repente, floresceu! Ele começou a rir e a interagir; foi despertado o que estava mais profundo dentro do seu ser”.
‘Música para a Alma’ é um projeto que cresceu exponencialmente, por isso planeja consolidar-se como associação civil e continuar a proporcionar concertos para aqueles que precisam de um momento de alegria. Nos quase quatro anos, o projeto atraiu mais de mil voluntários, de músicos e fotógrafos, até aqueles que colaboram na parte de web design.
Os músicos profissionais que compõem esse projeto pertencem à Orquestra Sinfônica Nacional, Orquestra Nacional de Música Argentina Juan Dios Filiberto, Orquestra Filarmônica do Teatro Colón, Coro do Teatro Colón, Orquestra Filarmônica de Montevideo, entre muitas outras.
Dizem que a música é capaz de melhorar o corpo e a alma: esta experiência é uma prova tangível disso.