Em memória do massacre da Praça da Paz Celestial

O comunismo na República Popular da China vem do marxismo, que foi importado do Ocidente

31/05/2019 17:54 Atualizado: 09/06/2019 08:47

Por Mei Chen

Uma árvore tão grande
Cabeças sustentam o céu, os pés pressionam a terra
Firme você está em meio ao uivo do vento e da chuva
Ereto mesmo sob a neve e o gelo pesado
“Venha”, você diz à tempestade
Ouça as histórias das minhas folhas verdes
Sinta sua euforia e dor

Esta é uma canção atualmente pouco conhecida escrita por um artista em homenagem a Hu Yaobang, ex-secretário geral do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, que morreu em 15 de abril de 1989. Sua morte marcou o início do movimento estudantil que levou ao infame massacre da Praça da Paz Celestial em 4 de junho de 1989.

Meus olhos se encheram de lágrimas quando pensei nessa música; não por Hu, mas por minha pátria, a China.

Oh, China, onde está sua preciosa sabedoria, beleza e justiça? A violência e a corrupção comunista te atacaram por 70 anos. Muitos bravos jovens deram suas vidas pela sua vitalidade, mas o último século não foi gentil com seus filhos e filhas. Agora sou um orgulhoso cidadão dos grandes Estados Unidos, mas meu coração ainda deseja que meu país retorne à sua glória total.

Com esses pensamentos em mente, sento-me para escrever sobre o Massacre da Praça da Paz Celestial, que se aproxima do seu 30º aniversário.

A maior farsa do Partido

A cultura chinesa é mágica e sua linguagem tem seus segredos. Se você souber ler os caracteres chineses tradicionais, os segredos do mundo podem ser revelados a você.

Por exemplo, o ideograma 黨 (partido político) é composto pelos caracteres 尚 (aspirar a) e 黑 (negrume ou escuridão). Mas 國 (país) é composto por 囗 (invólucro murado), 戈 (arma), 一 (um) e 口 (boca ou pessoa). Isso revela que um partido político tem uma tendência a usar truques sujos e que um país exige que cada pessoa cumpra seu dever de protegê-lo com armas.

Desde que o Partido Comunista Chinês tomou o poder na China em 1949, a maior armadilha em que jogou o povo chinês (e o mundo) foi confundir os significados dessas duas palavras: China e Partido. Todos os dias a máquina de propaganda iguala os “filhos da China” aos “filhos do Partido” e, em vez de “Mãe China”, diz “Mãe Partido”. Em vez de “sacrifício pelo país”, ele proclama “sacrifício pelo Partido”.

O povo chinês é um povo patriota, e com o sequestro da palavra “país” pela palavra”Partido”, as últimas gerações de chineses viveram em uma realidade deformada. Como crianças, nosso dever é amar, perdoar e proteger nossa mãe. É trágico acreditar que sua “mãe” é o Partido Comunista.

Apesar de todos os males trazidos pelo Partido — as mortes injustas causadas pelo Movimento Anti-Direita, a fome massiva causada pelo Grande Salto Adiante, o derramamento de sangue devido à Revolução Cultural, etc. — os filhos e filhas o perdoaram. A lógica do Partido afirma que ele, o Partido, é sempre “grande, sábio e reto”, e quando não é, ele se auto-corrigirá a fim de continuar sendo “grande, sábio e reto”.

Eventos que levaram ao massacre

Durante a Revolução Cultural ocorrida entre 1966 a 1976, o Partido declarou que muitos setores da sociedade eram “contra-revolucionários”. Os intelectuais ocuparam o nono lugar, pelo que foram chamados de “Os Nove Fedorentos”.

Para não gerar mais Nove Fedorentos, o ensino universitário foi suspenso no país. Todos os estudantes tiveram que se mudar para o campo para receber a reeducação dos camponeses. Os estudantes tiveram que “glorificar-se” com esterco de vaca em seus pés e pulgas em seus corpos.

Coisas politicamente corretas tinham que ser praticadas diariamente ao mesmo tempo recitando o “Pequeno Livro Vermelho” de Mao Tsé-tung. Qualquer desejo além da leitura de jornais políticos ou das diretrizes do Comitê Central do Partido muito provavelmente não seriam realizados.

Com a morte de Mao em 1976, esse controle estrito que beirava a loucura perdeu seu tirano. Embora os líderes do Partido tivessem seu próprio suprimento garantido de necessidades básicas, eles não se incomodavam em obter algo mais luxuoso. Deng Xiaoping assumiu o comando da máquina do Partido e declarou a necessidade de desenvolvimento econômico.

Em 1977, a universidade foi retomada. O país precisava urgentemente dos Nove Fedorentos, pelo menos nas áreas de ciência e tecnologia. A predominância da “Mãe Partido” não significava muito no cenário mundial, a menos que alguns intelectuais fossem logo obtidos.

Deng também percebeu a fraqueza da economia de planejamento centralizado, então começou a distribuir terras para os camponeses e privatizou algumas estatais. O processo de privatização favoreceu fortemente os quadros do Partido e seus círculos internos, os quais plantaram as sementes da corrupção.

Com uma sociedade mais aberta, os chineses começaram a aprender um pouco da verdade sobre o mundo. Até mesmo alguns chefes do Partido foram atraídos pela democracia ao estilo ocidental, que podiam vislumbrar no mundo exterior. Hu Yaobang foi o chefe do Partido de mais alto cargo a ser influenciado.

Em 1986, colégios e universidades em toda a China realizaram eleições estudantis. A democracia deu um pequeno passo quando os estudantes puderam votar em seus próprios presidentes de associações estudantis, em vez de serem nomeados pelos escritórios locais dos comitês do Partido.

Movimento estudantil

Em Xangai, os estudantes ficaram um pouco mais ambiciosos. Eles pensaram que os Representantes do Povo (equivalentes aos membros do Congresso dos Estados Unidos) deveriam ser escolhidos por voto pelo povo em vez de serem nomeados pelos escritórios locais do Partido Comunista.

Houve pequenos protestos a princípio, depois protestos maiores, e depois estudantes de todo o país juntaram-se aos protestos. Os chefes do Partido, liderados por Deng, viram isso como um sinal de alerta de que o ideal da democracia ocidental era perigoso para o regime de partido único. A máquina de propaganda trabalhou extraordinariamente para esmagar a “anarquia capitalista”.

Hu foi forçado a renunciar e admitiu que era muito brando com o anarquismo capitalista. O movimento estudantil foi esmagado em 27 dias. Os estudantes voltaram para as aulas, mas se lembraram de Hu como seu herói. Do comitê de sete pessoas que forçou Hu a renunciar, a única voz dissidente era a de Xi Zhongxun, pai do atual líder do Partido Xi Jinping.

Desde o início da reforma econômica de Deng, em 1979, o país seguiu dois caminhos paralelos, de acordo com as duas famosas teorias de Deng. Uma maneira é o controle econômico suave: “Gato preto ou gato branco, enquanto capturar os ratos, é um bom gato”. O outro caminho é o controle político estrito: “Quatro princípios fundamentais: primeiro, siga o caminho do socialismo; segundo, insista em um regime único por parte dos despossuídos [que mais tarde foi mudado para um ‘regime único de democracia popular’]; terceiro, insista com a liderança do Partido Comunista Chinês; quarto, insista no marxismo/leninismo e no maoísmo”.

O movimento estudantil foi visto como uma campanha sinistra de influência ocidental com a finalidade de dar um golpe de Estado suave que usurpou o domínio do Partido na China. A máquina do Partido pensou que estava no meio de uma armadilha do império dos Estados Unidos e do Ocidente em geral. De fato, pode-se dizer que eles estavam certos sobre o desejo do Ocidente de transformar pacificamente a China em uma verdadeira democracia. No entanto, o Partido considerou que era uma guerra não declarada, e isso foi comunicado ao povo chinês.

O Partido estava muito atento a esta “guerra”, no entanto, esta “guerra” foi travada sem muita atenção dos americanos. Atualmente, uma tentativa de “transformação pacífica” para o socialismo está ocorrendo nos Estados Unidos como um contra-ataque. O acordo com a Organização Mundial do Comércio da era Clinton deu ao Partido Comunista Chinês uma oportunidade.

Hu sofreu um ataque cardíaco e morreu em 15 de abril de 1989. Estudantes de todo o país foram espontaneamente para as ruas para lamentar sua morte. Estudantes universitários da área de Pequim se reuniram na Praça da Paz Celestial.

Este evento tornou-se a faísca que desencadeou a insatisfação acumulada dos estudantes contra o estado do país: inflação severa, desemprego e corrupção governamental, bem como falta de liberdade de imprensa, política e reunião.

Eles esperavam que o Partido “grande, sábio e sempre correto” visse isso como um ato de patriotismo. Afinal de contas, esses estudantes foram informados muitas vezes de que eles eram a esperança do Partido (e do país) e que eles eram a flor e a nata, considerando que apenas uma pequena porcentagem dos formandos do ensino médio poderia chegar à faculdade nesse momento.

Havia uma facção dentro do Partido, incluindo o então primeiro-ministro Zhao Zhiyang, que simpatizava com a causa. Infelizmente, Deng viu isso de uma maneira muito diferente. Ele estava convencido de que era o presságio de que o capitalismo tomaria o poder. Para ele, a estabilidade do regime do Partido era primordial, o pacifismo não tinha lugar e nas negociações eles deveriam permanecer firmes.

Pode-se imaginar o desespero dos estudantes. Eles decidiram fazer uma greve de fome e levantaram uma réplica da Estátua da Liberdade na Praça da Paz Celestial. Alunos de 400 cidades expressaram seu apoio.

Deng disse a infame frase de que haveria derramamento de sangue, se necessário, em troca de mais 20 anos de estabilidade. O Partido decidiu dispersar os manifestantes pela força militar. O toque de recolher foi ordenado a partir de 20 de maio e, na noite de 3 de junho e na manhã de 4 de junho, o Exército Popular de Libertação entrou na praça com tanques.

Oficiais do Partido se recusaram a divulgar dados sobre as vítimas. Muitos chineses só sabiam que as autoridades tinham expulsado decisivamente os sinistros amotinados e estudantes que haviam se tornado marionetes de algumas forças anti-China. Os líderes estudantis do movimento foram rotulados de “amotinados anti-revolucionários” e mandados de prisão foram emitidos contra eles.

Mais tarde, as autoridades começaram a prender em grande escala os participantes da “revolta”, não só em Pequim, mas também em outros lugares. As estimativas não oficiais do número de mortes variam entre centenas e dezenas de milhares. Dessa forma, a incipiente democracia na China foi esmagada.

Desde o massacre na Praça da Paz Celestial, o dia 4 de junho foi considerado uma data “sensível” para o Partido. Houve pressão constante sobre o regime chinês para corrigir o rótulo de “revolta” que foi dado ao movimento estudantil de 1989.

A história de Fang Zheng

Naquela fatídica manhã de 4 de junho, Fang Zheng era um dos estudantes que protestavam na Praça da Paz Celestial. Fang era um estudante de pós-graduação da Universidade de Atletismo de Pequim e media quase 1,80 metros. Uma parceira de estudos mais jovem estava com ele.

Quando as tropas responsáveis pelo cumprimento do toque de recolher ordenaram que os estudantes deixassem a praça, avançaram pelo lado sudeste da praça, andando pela rua Chang’an. De repente, Fang viu tanques avançando rapidamente em direção a eles por trás. Em um momento de adrenalina, ele empurrou sua parceira para o lado, mas era tarde demais para ele escapar do tanque.

Sua última lembrança antes de desmaiar foi ver o canhão do tanque através de uma olhada de canto de olho, e depois ele viu os ossos brancos de suas pernas esmagadas. Ele acordou 24 horas depois no chão de uma sala de reuniões no Hospital JiShuiTan, perto da praça, com um círculo de pessoas observando-o. Ele se perguntou se eles eram anjos, porque com sua altura, ele não estava acostumado a ser olhado de cima.

O hospital estava superlotado quando o levaram para lá. Ele permaneceu no chão por muitos dias antes de ser transferido para um quarto de hospital e, 20 dias depois, recebeu alta da clínica universitária.

Os 20 anos seguintes de sua vida na China lhe causavam dor quando se lembrava deles. A universidade recusou-se a emitir seu diploma. Eles sumiram com sua coleção de fotos de formatura com seus colegas de classe para não deixar evidências em um registro histórico.

Ele foi submetido a inumeráveis interrogatórios para forçá-lo a negar que foi atropelado por um tanque do exército. Eles deixaram que sua identificação de estudante expirasse sem entregar-lhe uma nova. Fang fez trabalhos esporádicos para ganhar a vida até que finalmente conseguiu escapar da China em 2009.

Hoje ele é presidente do Fundo para a Democracia na China. Ele está dedicando sua vida à possibilidade de que haja democracia para os chineses. Ele não tem esperança em curto prazo, mas está confiante de que a democracia será alcançada na China em longo prazo.

A história de Feng Congde

Feng Congde era o vice-comandante-em-chefe do movimento estudantil na Praça da Paz Celestial. A liderança estudantil deu grande importância à pureza do movimento ao rejeitar a participação de forasteiros, provavelmente acreditando que o regime seria mais cooperativo.

Feng escapou da prisão e se escondeu na China por 10 meses antes de fugir para o exterior. Ele era um estudante de pós-graduação que estava terminando sua tese sobre inteligência artificial na prestigiada Universidade de Pequim. Era um idealista que ansiava pela democracia ocidental, que era conhecida como a “Civilização Azul”, em referência à civilização ocidental além do oceano. Em contraste, a civilização chinesa foi chamada de “Civilização Amarela”, em referência à cultura do rio Amarelo.

Naquela época, Feng era um ateu convicto educado pelo Partido. No entanto, enquanto ele estava escondido, um grupo de estranhos que praticava qigong, um tipo de prática espiritual, deu-lhe refúgio. O grupo estava assumindo um risco extremamente alto ao ajudá-lo. Os membros do grupo acreditavam que o caminho correto para a China era seguir o caminho harmonioso da Civilização Amarela, não a da democracia ocidental. No entanto, eles achavam que as autoridades estavam erradas em perseguir os estudantes.

Enquanto Feng esteve escondido com eles, todas as sirenes da rua e cada batida na porta o faziam tremer de medo. Ele orou a Pusa Guanyin, uma divindade que o grupo adorava, para que o protegesse. Naquela época, ele achava que era uma superstição e não acreditava nisso, mas se sentia obrigado a ser sincero por causa de seus salvadores. O que aconteceu depois fez com que ele reconsiderasse seu ateísmo.

Ele era um líder proeminente do movimento estudantil, e um mandado de prisão com sua foto foi distribuído em todos os lugares. Mas de alguma forma, em três ocasiões durante sua fuga, quando ele teve encontros próximos com policiais ou soldados, eles pareciam estar cegos à sua presença. Para ele aquilo era inexplicável.

Os membros do grupo disseram a ele que Guanyin o estava protegendo fazendo com que os policiais não o vissem. Ele ficou intrigado e começou a praticar qigong com o grupo quando ficou escondido em uma cabana na montanha por três meses. Sua visão da Civilização Amarela mudou completamente.

Feng finalmente conseguiu fugir para a França através de Hong Kong. Lá, ele trocou seus estudos para religião. Quando perguntado sobre seus pensamentos 30 anos após o massacre da Praça da Paz Celestial, ele disse ter percebido profundamente que a República Popular da China não é do povo, não é uma república e nem sequer é chinesa (como cultura). O comunismo na República Popular da China vem do marxismo, que foi importado do Ocidente.

Quando o mundo compartilhar o valor do republicanismo, disse ele, o mundo desfrutará de uma esplêndida prosperidade. Os pais fundadores dos Estados Unidos estabeleceram o país como uma república. Feng acredita que o republicanismo é também a essência da “Civilização Amarela”.

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