Filme “Free China” ganha prêmio internacional

21/05/2012 03:00 Atualizado: 28/02/2018 16:14

FILADÉLFIA – Um documentário que retrata como dois praticantes do Falun Gong se levantaram contra o regime chinês com grande custo pessoal ganhou mais um prêmio de excelência num festival de cinema na última quarta-feira.

China Livre: A coragem de acreditar” recebeu honras máximas na inauguração do Festival de Cinema Internacional para a Liberdade de Expressão na Filadélfia. Anteriormente, ele ganhou o prêmio principal em sua categoria no Festival de Cinema da Consciência em Hollywood Ocidental em 6 de maio e mais um prêmio máximo no 45º Festival de Cinema Internacional de Houston em 23 de abril.

As histórias pessoais dos praticantes são contadas contra o pano de fundo da perseguição de 13 anos enfrentada por mais de 100 milhões de chineses. Os membros da audiência no evento de quarta-feira disseram que tinham ouvido e lido sobre o Falun Gong, mas não tinham ideia da magnitude da perseguição e nunca foram trazidos tão perto dela.

“Espero que este filme mude nosso mundo”, disse Margaret Chew Barringer, uma poeta e cineasta. O festival de cinema é a mais recente iniciativa da American Insight, uma organização sem fins lucrativos dedicada à promoção da liberdade de expressão fundada por Barringer. “Free China” foi exibido para uma casa cheia no Benjamin Franklin Hall.

“Fiquei impressionada com o alcance humano dele”, disse Sharon Eisenhour sobre o filme. Eisenhour é professora da Escola de Comunicação da Universidade Temple, nos EUA. “Um monte de pessoas neste país não tem ideia da extensão da perseguição”, disse ela.

A cerimônia de premiação foi precedida pelo discurso de um júri altamente qualificado, incluindo Karen Curry, ex-chefe e produtora veterana de notícias da CNN de Nova York. Também no júri estava Anne-Marie Slaughter, professora de Política e Relações Internacionais na Universidade de Princeton que serviu como diretora de Planejamento Político do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

C. K. Williams, poeta ganhador do Pulitzer; Reggie Shuford, conselheiro sênior da Fundação União das Liberdades Civis Norte-Americanas; Vernon Odom, apresentador do programa semanal de relações públicas do Canal 6 TV, e Bob Craig, apresentador do programa Big Band Jazz com Bob Craig, também falaram.

Lydia Hunn, professora do Colégio de Artes Midiáticas e Design da Universidade Drexel, disse que chegou às lágrimas com a história de Jennifer Zeng, a mulher chinesa retratada no filme. “Eu não sabia a extensão disto. Eu não sabia que havia tanta repressão”, disse ela.

Zeng foi uma ex-membra do Partido Comunista Chinês, que pertencia à classe média-alta chinesa, e depois se tornou uma prisioneira da consciência na China e uma ativista dos direitos humanos no exílio. Ao contar sua história, o filme examina a jornada para a liberdade tomada por milhões de cidadãos chineses que escolheram falar contra a injustiça na China.

Zeng, que recebeu asilo político na Austrália e agora vive nos Estados Unidos, é autora do livro best-seller “Testemunhando a História: A luta de uma mulher pela liberdade e pelo Falun Gong”.

“Foi extremamente comovente”, disse a professora Hunn. “Ela foi tão honesta em sua descrição do sofrimento de ter de mentir sobre abandonar sua crença para poder sair e contar sua história, foi uma tortura para ela.”

Zeng, que estava visivelmente sensibilizada ao discursar na cerimônia de premiação, disse, “Para mim, a liberdade de expressão significa duas coisas: se uma pessoa tem um coração gentil o suficiente para ver a verdade, e, segundo, se tem a sabedoria e a coragem para procurar a verdade, ou simplesmente aceitá-la quando ela é apresentada.”

Zeng disse que os 13 longos anos de sacrifício e sofrimento suportados por milhões de praticantes do Falun Gong na China se tornaram o mais importante teste para a consciência das pessoas e para a capacidade de assumir uma posição entre o bem e o mal, entre o certo e o errado.

“No fim do dia, não são os políticos ou governos, mas as escolhas de cada um de nós que moldará e criará nosso próprio futuro”, disse ela.

Além de Zeng, o cidadão norte-americano Charles Lee também é retratado no filme. Lee é um ex-aluno da Escola de Medicina de Harvard que foi preso num campo de trabalho chinês por três anos por tentar divulgar a perseguição do Falun Gong na China através da televisão estatal chinesa.

Lee sofreu o mesmo tratamento desumano que Zeng: tortura física e mental, lavagem cerebral, alimentação forçada, trabalho forçado, e a ameaça de se tornar uma vítima de extração forçada de órgãos.

Tanto Lee e Zeng discutiram suas experiências nos campos de trabalho chineses de fazer brinquedos e outros produtos de consumo vendidos nos Estados Unidos por empresas norte-americanas. O filme também examinou o papel das principais empresas de tecnologia ocidentais no desenvolvimento da censura da internet do regime chinês para suprimir a liberdade de expressão.

Jennifer Lynn, uma produtora de transmissão na Filadélfia, disse que ficou “impressionada com o poder da história”. Lynn, apresentadora da edição da manhã da afiliada NPR da WHYY/91FM na Filadélfia, disse, “A história é de coragem e verdade. Realmente poderosa. Tudo que quero fazer agora é compartilhar com mais pessoas.”

“Não seria maravilhoso ter parques cheios de gente por todo este país praticando o Falun Gong em homenagem ao filme e à história por aqueles que são perseguidos?”, disse Lynn.

No discurso proferido na cerimônia de premiação, Lee, que estava acompanhado por sua esposa e filha de dois anos, agradeceu ao povo norte-americano por seu papel na tentativa de acabar com a injustiça na China. Ele disse que a perseguição ao Falun Gong alcançou muito além dos 100 milhões de praticantes do Falun Gong diretamente afetados.

“Internacionalmente, também afeta países que têm comércio, relações diplomáticas, políticas e culturais com a China”, disse ele. “A perseguição também é diretamente contra os princípios universais da verdade, compaixão, e tolerância. O teste é o mais difícil para as pessoas de consciência, porque elas sabem que os praticantes do Falun Gong são boas pessoas e que a perseguição é ilegal e desumana. Se elas querem continuar a fazer negócios com o regime comunista, elas pensam que têm de fechar os olhos à perseguição.”

Lee continuou, “Eu acredito que é da responsabilidade de cada um de nós defendermos as normas morais que são os alicerces de qualquer sociedade. A China sem o Partido Comunista será uma China verdadeiramente livre e uma amiga estável de todos os países ao redor do mundo.”

Free China foi selecionado de um grupo de seis finalistas que exploraram temas de censura, resistência, desigualdade, coragem, mudança e esperança. Um júri de 50 componentes de todas as esferas da vida escolheu o vencedor.

O filme será distribuído gratuitamente para escolas de ensino médio a nível mundial.

Free China foi dirigido por Michael Perlman, o premiado diretor de “Tibete, Além do Medo”, e produzido por Kean Wong, um cineasta chinês-australiano, produtor de TV, e apresentador da NTDTV.

“Com a perseguição da verdade, compaixão e tolerância, elimina-se a moralidade e os princípios que são a base de uma sociedade civil, livre, e próspera”, disse Wong no início da noite de premiação.

“Eu acho que é por isso que a questão do Falun Gong é tão crítica, pois se a verdade, compaixão e tolerância, e outras belas práticas espirituais têm permissão de se espalhar, então a moral de toda a nação pode renascer. E então, naturalmente, o governo não terá de se preocupar com a estabilidade”, continuou Wong. “Se os indivíduos e as famílias têm a liberdade de viver uma vida moral para que a sociedade de que são parte abrace e cultive os valores morais, isto é o que a China precisa.”

Perlman disse que dirigiu o filme na esperança de que promoveria verdadeira liberdade na China. “E para que o governo chinês saiba que eles não têm nada a temer permitindo a liberdade na China. Porque este é o caminho que fará a China ainda mais forte econômica e politicamente.”

“A história está ao lado da liberdade em todo o mundo”, continuou ele. “E é algo que todos nós juntos, tanto nos Estados Unidos e ao redor do mundo, individual e coletivamente, podemos trabalhar e fazer acontecer.”