Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
A maioria dos americanos conhece George Washington (1732-1799) como o comandante das forças americanas em Valley Forge, o general que derrotou os britânicos em Yorktown e o primeiro presidente dos Estados Unidos. Muito poucos sabem que Washington foi em grande parte autodidata, especialmente em guerra e política.
Livros para batalha
Contudo, mais do que a experiência qualificou Washington para esta posição. Ele leu até chegar ao seu posto, consumindo manuais práticos sobre serviço militar e guerra. Em um artigo na internet, George Washington’s Practical Self-Education (A educação autodidata prática de George Washington, em tradução livre), o escritor observou que Washington “usava a leitura como um meio para atingir um fim – ele queria saber como cultivar melhor, como liderar um exército, como liderar um país, como se comportar civilmente. Não havia outra maneira senão ler e combinar com sua experiência direta.”
A título de exemplo, o escritor citou esta passagem do livro de Adrienne M. Harrison, Uma mente poderosa: a autoeducação de George Washington: “Washington incentivou seus oficiais a estudar, particularmente os textos militares britânicos mais recentes, como Um Tratado de Disciplina Militar, de Humphrey Bland. Washington escreveu que ‘não tendo oportunidade de melhorar com o exemplo, vamos ler’”.
O Tratado de Bland, um manual de dever escrito para oficiais, era praticamente uma bíblia naquela época para os militares britânicos.
Em um artigo da American Heritage, intitulado George Washington: A Life in Books (George Washington: Uma Vida em Livros, em tradução), Kevin Hayes compartilhou com os leitores um relato curioso feito pelo oficial hessiano Johann Greenwald: “Às vezes, fiquei surpreso ao capturarmos bagagens americanas durante aquela guerra e descobrir que toda mochila humilde, contendo apenas algumas camisas e um par de calças rasgadas, estava repleta de livros militares.” Em contraste, Greenwald descreveu com desdém os oficiais britânicos, observando que seus “malotes estavam frequentemente cheios de sacos de pó para cabelo, caixas de pomada perfumada, baralhos (em vez de mapas) e, por cima de tudo, alguns romances ou peças de teatro.”
O que o próprio Washington praticou – ler para aprender os aspectos práticos da estratégia, táctica e organização militar – ele pregou aos seus subordinados.
Agricultura e política: noções básicas
Washington aplicou esse mesmo método de combinar experiência prática e leitura em outras áreas. Em seus experimentos agrícolas em Mount Vernon, ele evitava o que chamava de “agricultores de livro”, referindo-se a autores que escreviam sobre agricultura sem experiência prática. Em vez disso, adquiriu e estudou livros como A New System of Agriculture (Um Novo Sistema de Agricultura), de Edward Weston, e Practical Treatise of Husbandry (Tratado Prático Sobre Agricultura), de Duhamel, para iniciar e orientar suas tentativas de inovação.
Embora não tivesse a educação clássica nem o treinamento jurídico de outros Fundadores, Washington estudou e absorveu o livro The Federalist (O Federalista) e documentos menores e maiores produzidos pelo Congresso Continental. No retrato em tamanho real de Gilbert Stuart, que retrata Washington como presidente, uma cópia de The Federalist está apoiada sobre The Journal of Congress em uma mesa ao lado de Washington, com outros livros americanos importantes mostrados abaixo. O novo presidente estende a mão direita em direção a essas obras, num gesto que indica sua importância fundamental para a república.
George Washington provavelmente folheou esta primeira página dos ensaios de O Federalista, o que contribuiu grandemente para o seu apoio à independência americana. Domínio público
Faíscas para a imaginação
Apesar de sua inclinação pelo prático, Washington leu algumas obras de ficção. Como muitos de sua época, encontrou diversão em Tristram Shandy, de Laurence Sterne. Uma noite com Ben Franklin o apresentou a Dom Quixote, de Cervantes, que ele adquiriu em 17 de setembro de 1787, dia em que a Convenção Federal, da qual ele foi presidente, adotou a Constituição.
No entanto, a obra literária que mais influenciou Washington foi Cato, A Tragedy, de Joseph Addison, escrita em 1713, uma peça histórica ambientada na Roma Antiga. Seus temas centrais são liberdade, virtude e honra. No prefácio de uma compilação de 2004 da peça e de alguns ensaios de Addison, o historiador Forrest MacDonald observou que muitos dos fundadores dos EUA admiravam essa versão de Cato. Franklin memorizou trechos dela, e Patrick Henry e o espião executado Nathan Hale adaptaram falas da peça, fazendo delas suas próprias.
Desde jovem, Washington também caiu sob o encanto de Cato. Ele aprendeu muitos trechos e passagens de cor, organizou apresentações da peça em Valley Forge e mantinha uma cópia dela ao lado de sua cama. Nesse caso, podemos ver o idealismo de Washington, em vez de sua praticidade, em destaque.
Tornando-se um cavalheiro
Na adolescência, Washington copiou as 110 Regras de Civilidade e Comportamento Decente em Companhia e Conversação. Escritas por jesuítas franceses em 1595, essas regras foram traduzidas para o inglês pela primeira vez em 1640 por um garoto inglês de 12 anos, Francis Hawkins, que as utilizou como base para seu livro, Youth’s Behavior (Comportamento da Juventude, em tradução). Foi a partir desse livro que Washington copiou as regras.
Essas diretrizes tiveram um impacto profundo na maneira como Washington tratava as pessoas, especialmente em termos de respeito. Ele estudou as regras, memorizou muitas delas e as aplicou com grande sucesso tanto em sua vida social quanto no comando de homens, seja no âmbito militar ou político. Elas o ajudaram a desenvolver o porte e a gravidade pelos quais ficou famoso.
Os livros que Washington buscou com tanto empenho assimilar serviram-no bem ao longo de sua vida, mas, acima de tudo, seus esforços notáveis de autoeducação beneficiaram o povo americano.