Chegar em uma cidade onde moram apenas 700 pessoas, para quem vive em uma cidade grande, como São Paulo, é algo muito distinto, mas ao mesmo tempo é uma das características que fazem dessa pequenina cidade no meio da cordilheira dos Andes tão especial. Assim é El Chaltén, no sul da Argentina, a jovem cidade de 27 anos!
Acordamos pela manhã fria em El Calafate, e fomos caminhando com nossas mochilas até a rodoviária, ainda estava escuro, pois em meados de abril com a proximidade do inverno os dias demoram mais para clarear. Lá entramos no micro ônibus que nos levaria para El Chaltén, a capital do trekking e sonho dos alpinistas e mochileiros, diziam os sites de dicas de viagem.
Três horas de ônibus e a paisagem é de tirar o fôlego. O motorista escutava músicas de amor em espanhol, ‘a la’ Luiz Miguel e o bolero apaixonado foi a trilha sonora de todo o percurso. Nessas ocasiões percebo que volto a ser criança, pois fiquei com o rosto colado na janelinha durante toda a viagem!
Quando estávamos quase chegando, o motorista encostou o ônibus na estrada e nos deu a opção de descer e apreciar o gigantesco maciço de rochas, lindo, enorme, e incrível, Fitz Roy! Uma montanha emblemática da Patagônia Argentina, que encanta pelo seu formato e pelas nuvens que cobrem o cume durante quase todos os dias! E por isso a cidade se chama El Chaltén. É a montanha que fuma, na língua dos Indígenas da região. Tiramos muitas fotos, já abismados com tamanha beleza.
Entramos no ônibus e mais alguns minutos adentramos na cidadezinha. A rodoviária de lá é uma mera casinha ao lado de um hostel, onde o ônibus estaciona e todos desembarcam. Na ‘rodoviária’ uma mocinha lhe dá algumas dicas sobre a cidade e um mapa (como se fosse necessário, já que a cidade se resume em uma avenida principal, e algumas ruazinhas ao redor).
Fomos procurar nossa cabana que eu havia encontrado na internet e feito a reserva, sem a necessidade de pagamento prévio, um simples e-mail e tudo estava resolvido, que facilidade!
Fomos recepcionados pelo dono das cabanas, o Sr. Gustavo, um portenho, muito simpático e educado, que ajuda o filho nas temporadas, cuidando das cabanas em El Chaltén. A nossa cabana era um pouco pequena e apertada, uma beliche, uma mesa com duas cadeiras, uma cozinha, com fogão duas bocas, um frigobar, um micro-ondas e um banheirinho, uma tv pequena e um aparelho de dvd! Bem quentinha, mas minúscula, para um casal, e olha que eu sou pequena, mas meu noivo não. Mas quem é que vai para uma cidadezinha de aventuras para ficar dentro de um quarto?
Assim que acabamos de arrumar as coisas, já colocamos nossas mochilas de trilha, com lanche, chocolate e água e ‘pé na trilha’. A primeira que fomos fazer foi a Laguna Capri, na verdade não sabíamos de nada sobre as trilhas e caminhos, então pedimos algumas dicas para o Sr. Gustavo e saímos para caminhar. Tudo é muito bem organizado e sinalizado, então é muito fácil passear!
As trilhas vão das mais simples às mais longas e tem para todos os gostos e fôlegos. Encontramos bem na placa do inicio da trilha com uma viajante da Nicarágua, uma menina muito simpática que estava viajando sozinha e acabou nos acompanhando durante o passeio. O caminho é inteiro autoguiado com marcas pela trilha, não tem como errar. Logo no início da subida você já consegue ter uma ideia do que é aquele lugar. Os lagos são de um verde água lindíssimo. Sim! A cor do lápis de cor. Tiramos muitas fotos e a cada trecho que passávamos a visão era deslumbrante. Lagos, montanhas, bosques de folhas coloridas, pois estávamos em pleno outono. Estava frio, mas agradável, pois ao caminhar você acaba esquentando bastante.
Depois de algumas horas chegamos à laguna Capri! É uma visão que por mais que eu relate ou mostre nas fotos, não tem palavras para descrever como aquele pedaço de paraíso é lindo! Uma laguna de águas transparentes, a montanha Fitz Roy ao fundo com a neve no topo, um céu azul aberto e um sol iluminando tudo ao redor e dando mais brilho a cada detalhe! Vale cada passo de subida! Lá fizemos um piquenique e voltamos.
À noite fomos comer em um restaurante pequeno e bem movimentado, a comida é muito boa e farta e os preços pequenos, a estrela da casa com certeza é o bife de chorizo com batatas assadas.
Nos dias que seguiram o sol brilhou e o céu mostrou seu total esplendor, nos brindando com dias preciosos. Fizemos uma trilha de 8 horas até o topo de uma montanha linda e pequena, escondida nas ‘costas’ de Chaltén, A Loma do Pliegue Tumbado! Uma subida dura de quatro horas para se chegar em umas das paisagens mais dramáticas que já vi nessas minhas viagens. É difícil, cansativo, mas o que você observa lá de cima, não tem preço. Montanhas, lagos, bosques, glaciares e muito mais, cores e mais cores, e tirando o vento que sopra feroz, você não escuta mais nada. A descida é mais fácil, mas ao final do dia, as energias estão no limite que até ir ao restaurante para jantar se torna difícil.
Fizemos uma trilha para uma cachoeira, Chorillo del Salto, super fácil e tranquila, e a queda d’água é muito bonita, levamos lanche subimos em um lado da montanha e passamos algumas horas conversando, comendo e vendo a ‘vida passar’. Aproveitamos o dia de descanso e à tarde sentamos perto de um rio e ficamos contemplando o sol, escutando o som das águas e observando as montanhas ao redor, quase meditativo, olhar toda aquela imensidão de belezas naturais.
Pegamos uma tempestade patagônica e pudemos escutar e sentir a potencia dos ventos. Que vento feroz! Saímos na rua pela noite embaixo de chuva para comprar umas empanadas e o vento quase nos derrubou.
Chalten é famosa pela sua ventania e seu clima de cordilheira. Pudemos aproveitar o sol, o céu limpo, o frio, a chuva e o vento. O que mais poderíamos querer? Foram dias incríveis, em uma cidadezinha tão pequena, os sites de dicas poderiam exagerar mais, pois o lugar é muito lindo.
El Chaltén é assim, pequenina, com natureza sem fim e deslumbrante, pessoas amáveis e prestativas e uma energia tão boa que só de falar já tenho saudades e quero voltar.