Um destino de grande riqueza cultural para os amantes da literatura
Dublin sempre foi considerada a cidade das palavras. Sua vida literária está escrita em todos os lugares por onde se anda, desde os bares, parques, igrejas, casas velhas e mansões majestosas localizadas às margens do rio Liffey. O amor pela literatura nunca se apagará, está estampado nas ruas da cidade e é inerente ao povo irlandês. Em 2010, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) concedeu à Dublin o título de Cidade Patrimônio Mundial de Literatura, uma das (somente) seis cidades do mundo a compartilhar esta honra.
Como fã incondicional de James Joyce e WB Yeats, eu cheguei à Dublin para seguir os passos desses grandes ícones da literatura e tentar ver a cidade através de seus olhos.
Os personagens: Stephen Daedalus e Bloom Leopold; ambos criados por James Joyce, devem sua existência à grande obcessão que Joyce tinha pelo local onde nasceu. Ele deixou a cidade em 1904, quando ainda era jovem e nunca mais regressou, no entanto, a cidade ainda “aguarda o seu retorno”.
Dublin era a fonte de onde surgiram todas as suas obras posteriores. Joyce escreveu: “Sempre escrevo sobre Dublin, porque se posso chegar ao coração de Dublin, posso chegar ao coração de todas as cidades do mundo”.
Joyce não estava sozinho! O coração de Dublin era também inspiração de Jonathan Swift (As viagens de Gulliver); Oscar Wilde (O Retrato de Dorian Grey), George Bernard Shaw (Pigmalião), Willian Yeats (O Crepúsculo Celta), Brendan Behan (Confissões de um Irlandês Rebelde), Sean O’ Casey (Pinturas em um Vestíbulo) e Samuel Beckett (Os Dias Felizes); todos iniciaram suas jornadas literárias lá.
Um amigo irlandês certa vez me disse: “É sóbrio escrever aqui, acompanhado desse inquieto grupo de escritores frequentadores de pubs”. A ironia certamente estava no fato de que os escritores de Dublin eram apaixonados pela Irlanda, por sua história, cultura e tradições. Claro, a língua em que escreviam suas obras, é a língua de seus conquistadores – o inglês.
Em toda a Dublin ecoa o som melodioso de seu legado literário. Os taxistas recitam monólogos sobre literatura e política. Um guarda do Museu Nacional me perguntou de onde eu vinha e, quando eu disse que vinha da Califórnia, ele começou uma discussão sobre o escritor John Steinbeck.
As lembranças gloriosas da literatura de Dublin estão em todas as partes, desde o monumento de pedra de Brendan Behan no Cemitério de Glasnevin às placas nas fachadas das casas georgianas anunciando que o grande escritor de mistérios, Sheridan Le Fanu, ou o brilhante Oscar Wilde, viveram naquelas instalações. Na Biblioteca Nacional da Irlanda, as obras de WB Yeats ainda têm grande influência, possuindo uma grande exposição de gravações onde o autor lê sua obra.
Certamente o melhor lugar para se começar uma turnê literária em Dublin é o Museu dos Escritores de Dublin, em Parnell Square. Esta casa estilo georgiano e cuidadosamente restaurada atua como o último e maior “Reduto de Anotações” de Dublin. Cada autor, desde Swift à Beckett, possuem um espaço em uma caixa de cristal com uma mini biografia; uma pequena coleção de objetos de recordação. É um grande local para se introduzir no ambiente literário da cidade.
Dali, é uma curta caminhada até o Museu de James Joyce, pois Joyce está em todas as partes de Dublin.
Sua estátua em bronze localiza-se na rua O’Connell. Ilustrações iluminam as cenas de “Os cidadãos de Dublin” ocupando toda uma ala na Galeria Nacional, e o Hotel de Finn, onde sua esposa e musa inspiradora, Nora Barnacle, trabalhou como camareira, ainda conserva cuidadosamente sua assinatura.
No Museu de James Joyce, você pode comprar suas obras, conhecer como era sua casa em Trieste, ou acompanhar uma discussão recriada por seus contemporâneos falando sobre os méritos e honra de sua obra mestra: “Ulisses”. A exposição mais eletrizante do Museu se encontra sob uma claraboia. Chega-se lá através da porta Nº 07 na rua Eccles, pela qual Leopold Bloom (personagem de “Ulisses”) caminhou no dia 16 de junho de 1904, assegurando assim o nome da grande lenda literária que é Joyce.
Para o decano dos escritores irlandeses, uma visita na manhã de domingo à catedral anglicana de São Patrício, leva a pessoa ao seu mundo. Jonathan Swift, autor do livro: “As viagens de Gulliver”, foi decano da catedral durante quase 30 anos e está enterrado ali junto à sua querida “Stella”, Esther Johnson.
Eu estava ali quando a música do grande coro da catedral, fundada em 1432, inundou suas arcadas góticas e me perguntei como as pessoas dali reagiam à língua mordaz de Swift.
Talvez o melhor lugar para se encontrar a literatura em sangue vivo da cidade esteja em alguns pubs irlandeses, os quais têm sido frequentados por todos os autores literários que florescem na atualidade. Vozes que rugem e o tom se eleva com o acompanhamento musical da multidão. O Pub Davy Byrne em Duke Street é onde Leopold Bloom almoçava, assim como James Joyce, seu criador. O Pub da Igreja, o qual é uma antiga igreja reutilizada, localiza-se na Jervis Street e foi a igreja onde Sean O’Casey foi batizado.
Dublin é uma cidade de escritores, seja qual for a temporada, seja qual for a hora, uma cidade literária de maravilhosas luzes na qual ecoa o idioma irlandês, porém criou obras ícones em uma língua estrangeira.