Moralidade e música sempre caminharam juntas nos tempos antigos. Na história chinesa consta que o marquês Wen, muito conhecido por ter feito profundas reformas positivas no governo, teve uma conversa sobre música com Jiang Ziya (507 a.C. – 420 a.C), famoso educador e estudante de Confúcio.
O marquês Wen perguntou a Jiang: “Quando ouço música antiga, eu rapidamente fico sonolento, mas quando escuto a música moderna, do Reino Zheng ou do Reino Wei, eu não sinto sonolência. Por favor, diga-me por que a música antiga é entediante e a música moderna atrai a atenção das pessoas”.
Jiang Ziya respondeu: “Quando a música antiga é executada, ela se move de forma limpa e soa pacífica e ampla. Os instrumentos de corda e sopro seguem o ritmo do tambor. A música sempre começa com o tambor e termina com os címbalos. O Xiang, um antigo instrumento musical, é usado para conduzir a parte final e o Ya, um tipo de canto, é usado para controlar a velocidade da música. Homens de caráter expressam significados profundos e louvam por meio da música e da dança as realizações dos antigos imperadores sagrados. Aconselhar as pessoas a cultivarem virtudes, cuidarem da vida familiar e levar paz ao mundo são os temas da música antiga”.
Jiang Ziya continuou: “Quando a música moderna é tocada, ela soa caótica e desequilibrada. Seu som está cheio de elementos desarmoniosos, o que faz que a imersão da pessoa na música seja profunda a ponto de fazer a pessoa desaparecer nela ou se identificar com ela… Quando a música termina, ela não lhe ensinou nenhuma verdade, nem exaltou as realizações dos antigos imperadores sagrados. Essa é a característica da música moderna. Você está falando de música, mas na realidade você gosta do som. Música e som têm semelhanças, porém são diferentes”.
Marquês Wen pediu educadamente: “Por favor, diga-me qual é a diferença”.
Jiang Ziya respondeu-lhe: “Nos tempos antigos, o Céu e a Terra, o Divino e o humano, estavam em harmonia, as quatro estações eram adequadas e as pessoas cultivavam com auto-disciplina para desenvolver bondade e virtude. Por isso, eles tinham colheitas fartas ano após ano. As doenças não se manifestavam, demônios e males não se levantavam, e esse era um mundo de paz. Depois isso se perdeu. Mais tarde, Confúcio surgiu e estabeleceu regras que regem a conduta adequada do imperador e dos funcionários da corte, e entre pais e filhos. Quando as regras de conduta foram criadas, o mundo voltou a ser estável. Novamente, ritmos musicais adequados foram criados, os cinco sons foram integrados harmoniosamente e os instrumentos musicais começaram a tocar harmoniosamente para acompanhar o canto de poemas. Este é o chamado som da virtude. Apenas o som da virtude pode ser chamado de música. O que você gosta é possivelmente o som da complacência”.
Marquês Wen de Wei perguntou imediatamente: “Por favor, diga-me de onde o som complacente vem”.
Jiang Ziya respondeu-lhe: “A música do Reino Zheng é frívola e sedutora, desperta a extravagância e a imoralidade. A música do Reino de Song é sentimental e fraca, deprime a vontade. A música do Reino Wei tem um ritmo rápido que cansa a mente. A música do Reino de Qi é arrogante e má, e faz que a pessoa se tornar prepotente. Estes quatro tipos de música fazem que a pessoa se entregue à canção e, assim, também as mulheres. São prejudiciais à integridade moral e, portanto, não são adequadas às cerimônias realizadas pela realeza”.
Jiang Ziya continuou: O Livro dos Poemas diz que os “Nossos ancestrais só estavam dispostos a ouvir apresentações austeras e harmoniosas”. Ser austera faz a pessoa mostrar respeito, ser harmoniosa faz a pessoa ser afável. Quando alguém é respeitoso e afável, quão grandes coisas ele não pode fazer? O imperador de um país deve ter cuidado com o seu gosto pessoal. Os funcionários possivelmente farão ou imitarão o que o imperador gosta. As pessoas comuns imitam o que é moda na realeza. Assim, podemos entender porque é dito no Livro dos Poemas, “É muito fácil levar o povo a se perder”.
Dessa forma Jiang Ziya explicou ao Marquês Wen o que provocou a degeneração da música moderna de seu tempo e como esta agia no sentido de sustentar essa degeneração.