Um leitor canadense, Jan, introduz uma nova prática espiritual, o Falun Gong. Ele é praticante há 16 anos e “entrou no meu caminho espiritual de uma maneira inesperada”:
Eu cresci como um católico, embora realmente apenas no sentido mais básico da palavra. Logo no início, tentei ser um católico propriamente dito, era um coroinha, mas encontrei o que vi como hipocrisia suficiente na igreja (sem necessidade de detalhes aqui), então eu orgulhosamente me declarei agnóstico na adolescência. Eu passei a ver a religião como uma ferramenta para pessoas poderosas subjugarem as massas.
Eu decidi que a ciência seria suficiente como visão de mundo, um paradigma. Depois eu me envolvi um pouco com o taoísmo, mas puramente para fins de relaxamento.
Eu estudei para me tornar um biólogo, com particular interesse em ecologia, evolução e conservação. Eu me imaginei me tornando professor. As coisas estavam indo bem. Fui abençoado com generosas bolsas de pesquisa. Fiz excelentes contatos em minhas áreas de interesse, estabeleci ótimas colaborações, encontrei locais de campo ideais. O que realmente me interessou foram os modelos não-darwinistas da evolução. Para meus estudos de doutorado, fiz pesquisa de campo em Madagascar para estudar a hibridação aparente entre diferentes espécies de lêmure.
Retornando do campo, comecei a me sentir fraco, deprimido e, depois de algum tempo, minha capacidade de realizar atividades simples degenerou progressivamente. Trabalhar com ferramentas de micro laboratório tornou-se progressivamente mais trabalhoso e difícil. Eu pensei que eu estava sobrecarregado, mas nenhuma quantidade de sono estava de fato me ajudando.
Um dia, correndo para atravessar o semáforo, minhas pernas pararam de funcionar apropriadamente, e eu mal consegui chegar ao outro lado. Eu me registrei no hospital universitário.
Eu fui diagnosticado com Síndrome de Guillain Barre. Meu sistema imunológico estava atacando meu sistema nervoso periférico, e eu estava lentamente perdendo o controle. Tendo encontrado um distúrbio neurológico raro, os médicos continuaram enviando internos e residentes para tentarem um diagnóstico. Eu não estava melhorando, pior do que isso, ainda não havia tratamento conhecido para minha doença. No dia em que entrei no hospital, também descobri que tinha uma infecção parasitária por vermes e, depois, mononucleose. Basicamente, meu corpo estava acabado.
Seguiram-se seis meses difíceis. Eu assisti minha carreira se desintegrar. As parcerias acadêmicas que eu desenvolvi evaporaram e eu não consegui mais ensinar de maneira eficaz. Meu relacionamento romântico já rochoso sofreu ainda mais.
Voltei para minha cidade natal, onde minha mãe me encorajou a tentar “terapias alternativas”. Eu fiz, mas nenhuma foi eficaz. Então voltei para a minha cidade universitária. Lá, em meio à uma lanchonete esfumaçada, eu me encontrei com um velho conhecido que havia explorado várias disciplinas orientais. Ele me deu um DVD, dizendo que o que estava nele o ajudou a se recuperar da síndrome da fadiga crônica, que ele havia experimentado alguns anos atrás.
Eu nunca vou esquecer de quando eu assisti esse vídeo pela primeira vez. Foi um vídeo que apresentava os exercícios e a meditação do Falun Gong – um tipo de yoga chinesa enraizada nos princípios budistas, também conhecido como Falun Dafa. Depois de meia hora tentando imitar os exercícios lentos do vídeo, comecei a me sentir melhor pela primeira vez em minha memória. Foi realmente um sentimento indescritível – meu coração, corpo e mente estavam todos em festa.
Li um livro introdutório sobre os ensinamentos do Falun Dafa, embora muitas das referências às tradições chinesas de qigong e folclórica fossem difíceis de compreender. Tudo o que eu sabia era que, como eu estava aprendendo esses exercícios dia após dia, eu estava me sentindo melhor. Em algum momento, percebi que meus reflexos tinham retornado (perda de reflexo é um sintoma comum de Guillain Barre).
Alguns meses depois, fui fazer um checkup com minha neurologista. Eu nunca vou esquecer as palavras dela: “Parabéns. Você está em remissão completa. Eu não tenho explicação, mas continue fazendo o que você está fazendo.” Eu fiz, e realmente não olhei para trás.
Havia alguns efeitos colaterais curiosos, no entanto. Cerca de uma semana depois de começar, comecei a odiar o gosto dos cigarros. Eu nunca fui um fumante pesado, mas gostei do aspecto social, e foi consistente. Algum tempo depois, experimentei a mesma coisa com álcool. Acontece que ambos os estados são descritos no livro inicial de ensinamentos do Falun Gong, Zhuan Falun. Como um ensinamento da escola budista, o Falun Gong encoraja o abandono de vícios e apegos insalubres. Eu estava fascinado, porque não era algo que eu realmente esperava ou necessariamente queria que acontecesse.
Certa noite, enquanto eu meditava, experimentei o que realmente me colocou no caminho do Falun Dafa. Eu tive a facinante experiência de ver toda a minha vida passar como um flash diante dos meus olhos. Eu havia lido sobre essas coisas, mas é muito difícil imaginá-las até que você as vivencie. Basicamente, eu vi vinhetas da minha vida, passo a passo, desde tenra idade. Eu experimentei isso como se fosse um filme, suponho, mas ao mesmo tempo, o tempo estava se movendo muito rapidamente. Eu pude ver grande parte da minha vida em questão de minutos.
Mas era estranho: era claramente a minha vida, mas não era como eu me lembrava dela. Não exatamente. No meio do caminho, ocorreu-me: era a minha vida vista através dos olhos da minha mãe. Isso me surpreendeu. Eu chorei por várias horas.
Minha mãe e eu tivemos um relacionamento complicado. Nós nos amávamos, queríamos que funcionasse, mas não poderíamos ficar na mesma sala sem tensão por mais de 15 minutos. Com essa experiência, eu realmente, pela primeira vez, a entendi, entendi suas provações e tribulações, entendi quais eram suas dores e motivações.
Eu também sabia como consertar nosso relacionamento. Da próxima vez que voltei para casa, pude iniciar o processo de conserto em 24 horas. Não perfeitamente, claro, mas o relacionamento se tornou algo completamente diferente: totalmente amoroso e respeitoso.
Eu soube então que havia encontrado algo realmente tocante e profundo. Compreendi os ensinamentos do Falun Gong, que o cultivo era um caminho para se livrar constantemente dos apegos e para ganhar uma perspectiva mais ampla e mais abrangente, mais tolerante e compassiva sobre o mundo. Aqui eu vi isso se manifestando em minha vida real. Inicialmente, eu estava fisicamente curado e, agora, vi que eu era capaz de mudar padrões de comportamento que não acreditavam que eu tivesse o poder de mudar. Com isso, decidi me comprometer com a disciplina.
É fascinante que muitos dos problemas que tive com a religião organizada estejam ausentes do Falun Gong. Coletando dinheiro? Proibido, de acordo com uma das poucas regras estritas. Hierarquia? Nenhuma, surpreendentemente. Só se pode medir o progresso de alguém se baseando nos ensinamentos e olhando para si mesmo, não apontando para os outros. Tomar os outros como modelos não é uma opção, nem impor a outro como ele deve se comportar.
Estudando os ensinamentos, me vi cada dia mais verdadeiro, compassivo e tolerante. (Verdade, Compaixão e Tolerância são os princípios centrais do Falun Dafa.) Eu cheguei fascinado pela cura física, mas o que encontrei ao longo do caminho foi algo muito mais profundo – a cura espiritual, e ouso dizer, em certo sentido, a salvação.