Capela Sistina, onde Michelangelo colocou seu talento e coração

10/01/2014 06:06 Atualizado: 06/03/2018 16:02

A Capela Sistina faz parte do Palácio Apostólico, residência oficial do Papa. É famosa por sua decoração com afrescos pintados pelos mais grandiosos artistas da Renascença: Michelangelo, Rafael, Bernini e Sandro Botticelli, Rosselli, Signorelli, Ghirlandaio, Perugino.

O nome Capela Sistina faz referência ao Papa Sisto IV que, entre os anos de 1477 e 1480, foi responsável pela restauração da Capela Magna, capela medieval, que foi demolida e da qual foram utilizados os alicerces para a construção da Capela Sistina.

Depois da construída a Capela Sistina, uma equipe de artistas – entre os quais Domenico Ghirlandaio, Pietro Perugino e Sandro Botticelli –, deu início à pintura de diversos afrescos, que retratam episódios religiosos bem como retratos papais. A conclusão desses trabalhos ocorreu em 1482 e, um ano depois, em 15 de agosto de 1483, o Papa Sisto IV, através de uma missa, consagrou a Capela Sistina à Nossa Senhora da Assunção, denominação dada a Maria, mãe de Jesus.

A Criação de Adão é possivelmente o mais famoso dos afrescos da Capela. Como um toque de dedo, Deus dá vida a Adão feito à Sua semelhança. Foi pintada por volta do ano 1511.
A Criação de Adão é possivelmente o mais famoso dos afrescos da Capela. Como um toque de dedo, Deus dá vida a Adão feito à Sua semelhança. Foi pintada por volta do ano 1511 (Domínio público)

Uma das maravilhas da Capela Sistina é o seu teto, que foi pintado por Michelangelo. Anos depois da inauguração da Capela, em 1508, Michelangelo foi chamado a Roma pelo então papa Júlio II para esculpir o mausoléu desse Papa, mas Michelangelo acabou sendo convidado a pintar o teto da Capela Sistina.

Segundo se conta, Michelangelo teria aceitado o trabalho contrariado, convencido de que era mais escultor que pintor. Ele julgou que, pintar o teto, foi um conluio de seus rivais para desviá-lo da obra para a qual havia sido chamado a Roma: o mausoléu do Papa. No entanto, Michelangelo dedicou-se à tarefa e o fez com tanta maestria que ofuscou o brilho das obras-primas que seus antecessores já haviam pintado na Capela. Realmente, os afrescos no teto da Capela Sistina são um dos maiores tesouros artísticos da humanidade.

Michelangelo demorou quatro anos para terminar esse trabalho e o fez com grande dificuldade, pois teve que trabalhar deitado em cima de um andaime de 16 metros de altura e pintar sobre sua cabeça. Isso fazia que a tinta pingasse em seu rosto o dia todo. Ao final do dia, ele tinha cãibras a tal ponto que mal conseguia ler as cartas que seus familiares lhe enviavam.

Michelangelo realmente se dedicou ao trabalho. Quando ele estava pintando um canto escuro do teto com extraordinário afinco e esmero, alguém lhe perguntou: “Por que você se esforça tanto a pintar um canto escuro do teto, que possivelmente ninguém olhará”, Michelangelo simplesmente respondeu: “Deus verá”.

O Profeta Isaías, de Michelangelo.
O Profeta Isaías, de Michelangelo, afresco no teto da Capela (Domínio público)

No pontificado do papa Paulo III, em 1534, Michelangelo é convidado a voltar à Capela Sistina para pintar, na parede logo atrás do altar, um afresco de tema O Juízo Final. Essa pintura levou sete anos para ser feita.

Michelangelo pagou um preço altíssimo por esses anos de trabalho. Sua visão ficou reduzida e desgastou-se muito. Michelangelo relatou que, quando, com apenas 37 anos, terminou seus trabalhos na Capela, “seus amigos se impressionaram com o homem velho que ele se tornará”.

Vista externa da Capela Sistina do alto da Basílica de São Pedro.
Vista externa da Capela Sistina do alto da Basílica de São Pedro (Maus-Trauden/GNU General Public License)

Desde a época de Sisto IV, a capela tem servido como lugar tanto para cerimônias religiosas como para uso de funcionários envolvidos em relevantes atividades papais. É o local onde se realiza o Conclave, o processo pelo qual um novo Papa é escolhido.

Cardeais sentados na capela Sistina para iniciar a eleição do sucessor do Papa Benedito.
Cardeais sentados na capela Sistina para iniciar a eleição do sucessor do Papa Benedito (Internet)
Visão geral do interior da capela Sistina. Na parede do fundo, atrás do altar, o afresco 'O Juízo Final', de Michelangelo. O interior da Capela Sistina tem 41 metros de comprimento, 13 de largura e 21 de altura.
Visão geral do interior da capela Sistina. Na parede do fundo, atrás do altar, o afresco O Juízo Final, de Michelangelo. O interior da Capela Sistina tem 41 metros de comprimento, 13 de largura e 21 de altura (Internet)

Faça um passeio virtual pela Capela Sistina antes de prosseguir na leitura. O visual é fantástico.

O teto da Capela Sistina:

Teto da Capela.
Teto da Capela (Internet)

A parte central do teto da Capela, pintado por Michelangelo, retrata cronologicamente a história do livro Gênesis do Antigo Testamento. (1) Deus separando a Luz das Trevas, (2) Deus criando o Sol e a Lua, (3) Deus separando a terra das águas, (4) A Criação de Adão, (5) A Criação de Eva, (6) O Pecado Original e A Expulsão do Paraíso, (7) O Sacrifício de Noé, (8) O Dilúvio Universal e, por último, (9) Noé Embriagado com vinho.

Nos quatro cantos são retratadas cenas também do Antigo testamento. No canto superior esquerdo, Judith matando o general assírio Holofornes. No inferior esquerdo, Davi matando o gigante Golias. No superior direito, a Serpente de Bronze, a qual salvou os israelitas picados pela serpente do deserto. No inferior direito, O castigo de Amã, que por querer exterminar o povo Judeu, acabou enforcado com sua família.

Dafne, uma das cinco Sibilas pintadas por Michelangelo.
Dafne, uma das cinco Sibilas pintadas por Michelangelo, no teto da Capela (Domínio público)

Na região mais lateral do teto estão retratadas as Sibilas – mulheres da mitologia greco-romana, que possuíam poderes proféticos – bem como profetas do Velho testamento: Zacarias, Joel, Isaías, Ezequiel, Daniel, Jeremias e Jonas.

Nas velas do teto, nos espaços de formato triangular, estão retratados os principais ancestrais de Jesus Cristo desde os tempos de Abraão. Nas lunetas, espaço acima das janelas, também mostram antepassados de Cristo, entre eles, os reis Davi e Salomão. Cenas do Livro dos Reis complementam a história contida nos afrescos.

O Juízo Final:

A parede atrás do altar foi destinada ao maior afresco e para o qual Michelangelo dedicou, durante sete anos, todo seu gênio, coração e esforço: O Juízo Final.

Por ser uma pintura na parede, na vertical, muitos podem pensar que foi uma obra mais fácil de ser pintada que o teto da capela. No entanto, levou três anos a mais para ser feita, principalmente, devido ao grande tamanho do afresco, que dificultou enormemente ver o conjunto do que era pintado e dificultou se movimentar para pintar ou retocar diferentes partes do afresco.

Afresco O Juízo Final, na parede atrás do altar.
Afresco ‘O Juízo Final’, na parede atrás do altar (Domínio público)

O afresco ocupa inteiramente a parede atrás do altar. Para sua execução, duas janelas foram tampadas e grandes pinturas da época de Sisto IV foram apagadas, isto é, Michelangelo pintou sobre elas.

Em O Juízo Final, Michelangelo expressa energicamente o conceito de Justiça Divina e de modo implacável com relação aos condenados. Cristo, na parte central do afresco, julga a todos no dia do juízo final, sendo que os justos sobem ao Céu passando pela direita de Cristo, enquanto que os condenados descem passando pela esquerda de Cristo em direção à condenação eterna no inferno. A ressurreição dos mortos e anjos tocando trombetas completam a composição.

Além das enormes realizações de Michelangelo para a Capela Sistina, outros artistas também contribuíram para a decoração do local.

Na parede esquerda, a partir do altar, são encontradas pinturas que retratam cenas do Velho Testamento. Entre elas, “Moisés a caminho do Egito e a circuncisão de seus filhos”, de Pinturicchio, “Cenas da Vida de Moisés” e “A Punição de Korah, Natan e Abiram”, obras de Botticelli, “A Travessia do Mar Vermelho” e “Moisés no Monte Sinai e a Adoração do Bezerro de Ouro”, ambas de Cosimo Rosselli e “A Morte de Moisés”, pintada por Lucas Signorelli.

Na parte direita estão obras que simbolizam o Novo Testamento: “O Batismo de Jesus”, pintado por Pinturicchio, “Tentação de Cristo e a Purificação do Leproso”, pintado por Botticelli, “Vocação dos Apóstolos”, pintado por Ghirlandaio, “O Sermão da Montanha” e “A Última Ceia”, obras de Rosselli, e “A Entrega das Chaves à São Pedro”, de Perugino.

A Capela Sistina, por sua esplendorosa beleza artística e significado histórico e cultural, é um dos lugares do mundo que merece ser conhecido.