Nos tempos antigos, os chineses valorizavam o efeito da música sobre o coração humano.
Liji ou o “Clássico dos Ritos”, um dos cinco livros do cânone do confucionismo compilado durante a Dinastia Han (202 a.C. – 220 d.C.), diz o seguinte: “A virtude é um sólido vaso de barro que guarda a natureza do homem e a boa música fortalece da virtude”.
Os antigos sábios chineses diziam que dos numerosos tipos de música e dos diversos níveis musicais, apenas os tons capazes de ressoar em sintonia com as mais altas leis celestiais podem ser chamados de música.
A música deve ajudar no aprimoramento pessoal e na harmonização da sociedade, por isso, deve ser inspiradora e de natureza bondosa. Na China Antiga, a música estava integrada ao ensino de padrões morais, porque, por meio da arte musical, era possível transmitir e melhorar o “li”, isto é, a conduta e os costumes retos do ser humano.
Os antigos chineses acreditavam que as representações artísticas associada ao elevado significado interior da música deveriam refletir a bondade e a beleza necessárias ao equilíbrio do coração humano. Se a música é pobre e de baixo nível, ela possivelmente se coloca contra as bondosas leis naturais estabelecidas no universo, incentivando assim o lado negativo da natureza humana e levando as pessoas à decadência moral e, consequentemente, à degradação social. No entanto, os tons que ressoam em harmonia com os níveis altos estão em harmômia com as leis celestiais, de modo que, quando as pessoas os escutam, seus espíritos se elevam e, alimentados, se curvam à virtude.
A técnica musical em si mesma não é o mais importante. O conteúdo e significado internos à música é o mais importante. Da mesma maneira, a virtude de um músico é mais importante que seu talento musical. Ao longo da história chinesa, os melhores músicos tinham um alto nível de virtude. Por exemplo, Shikuang, que viveu no Período das Primaveras e Outonos (770-476 a.C.), não somente tinha um grande conhecimento musical como também um alto nível de virtude. Na música que ele compunha, de natureza serena e elevada, via-se sua personalidade nobre. Todos os imperadores e altos funcionários convidavam Shikuang para tocar. Toca vez que ia tocar uma música, ele se vestia de forma cerimoniosa e solene, de acordo com a conduta e os costumes retos. Tocava com retidão para transmitir a harmonia entre o corpo, o espírito e a Terra. Escutando sua música, as pessoas mergulhavam na gentileza e bondade, e seus espíritos se elevavam.
A música é um componente cultural indispensável a uma sociedade e reflete a época. Graças a uma conduta e costumes retos e virtuosos, podemos obter entendimentos mais profundos e elevados sobre a vida e o universo. O significado moral incorporado à música tradicional chinesa é diferente do entendimento que temos da música contemporânea.
A música tradicional chinesa tinha tons e ritmos capazes de comover e ressoar com força no interior de uma pessoa; sentia-se seu efeito reto no coração. Isso era chamado de o despertar de “li” – a conduta e os costumes retos do ser humano. A música se reflete na virtude, enquanto que a conduta e os costumes retos se refletem no comportamento da pessoa. Música e “li” se unem e fundem num sistema completo e harmonioso, que conecta o Céu e a Terra. E as pessoas que a escutam se inclinam à gentileza e à bondade, gerando um campo de retidão que conduz a uma estabilidade social duradoura.
“Qual a diferença entre a música antiga e a música moderna?” Esta é uma velha pergunta já formulada pelo Imperador Wei Wenhou do Estado de Lu a um discípulo de Confúcio chamado Zixia que viveu entre os anos 507 e 425 a.C. Zixia deu uma resposta que ainda perdura:
“Os tons da música antiga vêm sendo transmitidos desde os antigos através de homens sábios e de virtude. Possui ritmos regulares e solenes, e tem profundos significados internos. Quando um homem de bem escuta tal música, ele pode sentir e compreender que seu significado interior transmite virtude celestial. Ele pode motivar-se a melhorar como pessoa e viver em harmonizar com os outros, o que leva o povo a melhorar e traz paz ao mundo. Ao contrário, a música moderna é mundana, já que seu ritmo é caótico, superficial e carrega todo tipo de desejos mundanos; leva a pessoa a ser decadente e arrogante. Sem evocação interior, a imensa maioria deste tipo de música data de reinados de imperadores ou funcionários vaidosos e corruptos. Esta se opõe à virtude e não podemos sequer chamá-la de música”.