No seu livro “As Origens do Totalitarismo”, Hannah Arendt parece ter-se dirigido menos a seus contemporâneos dos anos 50 e 60 do que a nós, cidadãos deste estranho Século XXI, que vai transformando o saudoso (e enganoso) triunfo da democracia liberal e da economia de mercado em uma férrea hegemonia da sociedade de controle, em torno do eixo Davos-Pequim, sob os ensinamentos de uma espécie de “Mao Tse-Schwab” ou “Gates Tse-Tung”, com forte apoio da camarilha narco-socialista latino-americana.
Hannah Arendt introduziu a distinção entre ditadura e totalitarismo, caracterizando o regime ditatorial como aquele exercido por uma pessoa, com vistas somente à sua própria permanência no poder, enquanto no regime totalitário o poder é exercido não por uma pessoa ou grupo, e sim por uma ideologia, modelo muito mais nocivo e destrutivo, pois opera sobre a mente dos oprimidos (e dos próprios opressores) e não apenas sobre o corpo. O totalitarismo surge quando uma sociedade perdeu suas referências culturais e espirituais, fragmentou-se em indivíduos desenraizados e, sem saber como pensar, entrega o comando de suas ideias e portanto de sua conduta a um sistema de pensamento externo, organizado para a dominação e não para a busca da verdade. Trata-se exatamente do quadro que estamos vivendo ao redor do mundo, hoje. Num completo deserto moral e espiritual, as pessoas entregam voluntariamente o poder sobre suas vidas a unidades externas de comando a pretexto de “salvar o planeta”, “combater a desigualdade” ou “salvar vidas na pandemia”, tudo sob a máscara da manipulação onde a verdadeira ciência é substituída pela palavra “ciência” e o controle dos meios de comunicação se impõe a ferro e fogo. Ora, stalinistas e nazistas também agiam em nome da “ciência”, também governavam pela propaganda e pela censura, também justificavam suas atrocidades pelo bem comum de seus povos. Ambos consideravam que certos elementos de suas sociedades não mereciam qualquer proteção legal, algo que se observa hoje no discurso dos globalistas contra as pessoas que se recusam a receber determinadas injeções potencialmente letais ou, no Brasil, contra os “bolsonaristas”, uma “raça maldita” da qual o país precisa ver-se “livre”, segundo um famigerado político da esquerda.
Hannah Arendt entendeu como o totalitarismo é gerado. Entendeu que o totalitarismo não chega anunciando o mal que representa, mas pretendendo instalar algum tipo de bem, e penetra pela manipulação discursiva no vazio da consciência humana deixado pelo materialismo. Ela entendeu, mas seus sucessores na intelectualidade ocidental, durante décadas, não entenderam, e permanecem nessa ignorância cúmplice. Baixaram a cabeça e não veem os marxistas – os quais, eles sim, entenderam Hannah Arendt – tomarem de assalto a civilização ocidental sem serem percebidos, brandindo palavras como “clima” e “gênero” em lugar de “operários” e “burguesia”, empunhando bandeiras com créditos de carbono e seringas em lugar da foice-e-martelo.
Os intelectuais e políticos que poderiam ter barrado esse avanço preferiram o comodismo – quando não o colaboracionismo. Desdenharam, com ar de superioridade, qualquer sugestão de uma renovação comunista na forma do globalismo: “Oh, não tem foice e martelo, não é comunismo”. Certo. Então esse é o critério? Mas, quando aparece o Partido Comunista Chinês, a entidade mais poderosa do mundo, ostentando abertamente sua foice-e-martelo, os mesmos intelectuais e políticos novamente se desviam da bola: “Tem foice-e-martelo, mas não é comunismo.” Nunca é comunismo, nunca é totalitarismo para eles, porque se o reconhecessem como tal teriam de combatê-lo em nome da democracia que ainda dizem prezar. Estão sempre prontos a combater o fascismo imaginário, jamais o comunismo real. Se alguém aparece bebendo um copo de leite, gritam “fascismo” e soam todos os alarmas de cancelamento e censura, mas não esboçam qualquer reação quando, à sua volta, se vai estabelecendo um sistema de pontos sociais para filtragem ideológica, ou quando as cortes constitucionais se transformam em tribunais de exceção. Querem tudo, menos lutar contra um sistema que de alguma forma os beneficia.
O totalitarismo do Século XXI não derrotou as elites “democráticas” ocidentais no campo das ideias, nem as mandou para o Gulag, ou enforcou-as: simplesmente comprou-as.
No Brasil, as elites política, econômica e intelectual já se venderam completamente, embarcaram no barco totalitário e ali ocuparam confortáveis camarotes. Importaram a ideologia “woke” para justificar a roubalheira. De outro ponto de vista, o comunismo instalou-se no Brasil por meio da corrupção endêmica, a corrupção não só material mas também moral. Chamei a esse sistema a “ditadura do corruptariado”, mas na terminologia de Hannah Arendt não se trata efetivamente de uma simples ditadura, e sim de um verdadeiro regime totalitário, pois esse mecanismo não é regido por um grande líder, uma espécie de Super Corrupto (haveria tantos disputando esse título!), senão por um sistema de manipulação psicológica e repressão crescente, operado por algumas figuras bem conhecidas, mas independente delas.
Esse regime está a ponto de consolidar-se. O barco totalitário está a ponto de zarpar, com o povo nos porões escuros, acorrentado. Com cinismo e astúcia, o sistema deu a essa servidão imposta ao povo o nome de “democracia”, pendurou a palavra “democracia” nas paredes da prisão, de tal maneira que, quando alguém se insurge e exclama que não quer estar ali, e implora por liberdade, o sistema intervém, furioso: “Como é? Você não quer estar aqui? Você é contra a democracia?” Não, apenas sou contra este calabouço fétido. Sou contra o seu sistema totalitário, mesmo que você o chame de democracia. Sou contra o estado de putrefação ética a que você nos submete, mesmo que o chame de estado democrático de direito. Quero sair para a luz da liberdade e da verdade, mesmo que você a chame de extremismo ou o que quer que seja. “Anti-democrático! Raça maldita! Joguem-no ao mar!”
Está zarpando o barco que conduz o Brasil para o seu túmulo. Faz parte de toda uma frota que conduz o Ocidente, que conduz todas as nações livres do mundo e a própria humanidade para o túmulo.
Esse barco não pode zarpar.
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