Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
A adição de altas doses de vitamina C a um regime de tratamento de câncer pode dobrar o tempo de sobrevivência, de acordo com um ensaio clínico que testou esse tratamento em pacientes com câncer de pâncreas.
Normalmente diagnosticado em estágios avançados, o câncer de pâncreas tem um prognóstico ruim e deixa os pacientes com opções de tratamento limitadas, sendo que a maioria sobrevive apenas oito meses com a quimioterapia padrão.
“Quando começamos o estudo, achávamos que seria um sucesso se chegássemos a uma sobrevida de 12 meses, mas dobramos a sobrevida geral para 16 meses”, disse o autor sênior do estudo, Dr. Joe Cullen, professor de cirurgia e oncologia por radiação da Universidade de Iowa, em um comunicado à imprensa.
“Os resultados foram tão fortes (…) que conseguimos interromper o estudo mais cedo.”
Publicado na edição de novembro da Redox Biology, o estudo sugere que a vitamina C em altas doses pode não apenas ajudar a retardar ou até mesmo matar as células cancerígenas, mas também reduzir o sofrimento físico das pessoas submetidas à quimioterapia.
Melhor tolerância e menos efeitos colaterais
O estudo de fase 2 demonstrou que 34 pacientes com câncer de pâncreas metastático em estágio 4 que receberam quimioterapia e altas doses de vitamina C sobreviveram, em média, 16 meses – o dobro dos oito meses observados naqueles tratados apenas com quimioterapia. Além do benefício de sobrevivência, os pacientes que receberam vitamina C apresentaram menos efeitos colaterais e puderam concluir mais ciclos de tratamento sem atrasos ou reduções de dose.
“Além de aumentar a sobrevida geral, os pacientes parecem se sentir melhor com o tratamento”, disse Cullen.
O regime de quimioterapia incluiu dois medicamentos: gemcitabina, que interfere na divisão das células cancerosas, e nab-paclitaxel, que impede a replicação das células cancerosas. Esses medicamentos são comumente usados para tratar o câncer de pâncreas, mas podem causar náusea e fadiga e resultar em um sistema imunológico enfraquecido.
De acordo com o estudo, a vitamina C parece ajudar a proteger as células saudáveis contra esses efeitos colaterais, reduzindo o estresse oxidativo e a inflamação desencadeados pela quimioterapia. Como resultado, os pacientes conseguiram tolerar melhor o tratamento e continuar seus ciclos sem interrupção.
Os pesquisadores descobriram que os pacientes que receberam altas doses de vitamina C apresentaram menos efeitos colaterais da quimioterapia. Isso os ajudou a manter o controle do tratamento e reduziu os riscos associados à quimioterapia.
Mais da metade dos pacientes do grupo da vitamina C apresentou níveis estáveis de glóbulos brancos sem febre. Em contraste, quase dois terços do grupo que recebeu apenas quimioterapia apresentaram baixa contagem de glóbulos brancos, o que os colocou em maior risco de infecção. Além disso, mais de 12% do grupo que recebeu apenas quimioterapia apresentou febre devido à baixa contagem de glóbulos brancos, o que pode levar à hospitalização. Cerca de 95% do grupo que recebeu vitamina C apresentou níveis estáveis de plaquetas, enquanto mais de 12% do grupo que recebeu apenas quimioterapia apresentou plaquetas baixas, aumentando o risco de sangramento.
Além de menos efeitos colaterais, os pacientes que receberam vitamina C intravenosa em altas doses também tiveram mais dois meses de sobrevida livre de progressão, durante os quais o câncer não cresceu ou se espalhou.
IV é a chave
Um dos principais fatores desse sucesso é a forma como a vitamina C em altas doses, fornecida explicitamente por via intravenosa, atua no organismo.
Pesquisas anteriores realizadas por Cullen e sua equipe descobriram que a vitamina C administrada por via intravenosa atinge níveis sanguíneos muito mais altos do que quando administrada por via oral. Essas concentrações mais altas desencadeiam reações químicas que atingem as células cancerosas, deixando as células saudáveis praticamente inalteradas.
De acordo com os pesquisadores, a vitamina C intravenosa gera peróxido de hidrogênio na corrente sanguínea, que é tóxico para as células cancerosas, mas relativamente inofensivo para as saudáveis.
“As células cancerosas são muito menos eficientes na remoção do peróxido de hidrogênio do que as células normais”, afirmou Garry Buettner, professor de oncologia por radiação da Universidade de Iowa, em um comunicado à imprensa sobre a pesquisa anterior. “Assim, as células cancerosas são muito mais propensas a sofrer danos e morrer devido a uma grande quantidade de peróxido de hidrogênio.”
Buettner disse que esse direcionamento seletivo se deve ao fato de as células cancerosas terem níveis mais baixos de uma enzima chamada catalase, que normalmente decompõe o peróxido de hidrogênio. “Isso explica como os níveis muito, muito altos de vitamina C (…) não afetam o tecido normal, mas podem ser prejudiciais ao tecido tumoral.”
“Em um de nossos estudos de fase 1 para câncer de pâncreas, em que combinamos vitamina C intravenosa em altas doses com radiação, ainda temos três sobreviventes de longo prazo”, disse Cullen no recente comunicado à imprensa. “Eles já estão vivos há nove anos, o que está muito além da faixa de sobrevivência típica.”
O papel da vitamina C no tratamento de outros cânceres
O novo estudo se soma ao crescente conjunto de evidências que apoiam a vitamina C intravenosa em altas doses como um complemento valioso para o tratamento do câncer. Em janeiro, a equipe da Universidade de Iowa publicou outro estudo clínico de fase 2, que mostrou que a combinação de vitamina C intravenosa com quimioterapia e radiação melhorou significativamente as taxas de sobrevivência em pacientes com glioblastoma.
O glioblastoma é um tipo de câncer cerebral agressivo e de crescimento rápido, conhecido por seu prognóstico ruim e resistência a tratamentos, o que o torna um dos cânceres mais difíceis de tratar. No estudo, os pacientes com glioblastoma que receberam altas doses de vitamina C juntamente com quimioterapia e radiação sobreviveram em média 19,6 meses – quase cinco meses a mais do que os pacientes que receberam apenas o tratamento padrão.
Um terceiro estudo de fase 2 que investiga a vitamina C intravenosa para câncer de pulmão de células não pequenas está em andamento, com resultados previstos para o final de 2024.
“Nosso objetivo é mostrar que a adição de vitamina C intravenosa em altas doses, que é muito barata e muito bem tolerada, pode melhorar o tratamento desses cânceres que estão entre os mais mortais que afetam a população dos EUA”, disse Cullen.