Pessoas idosas que enfrentam sonolência excessiva durante o dia podem ter um risco maior de desenvolver uma condição pré-demencial, conhecida como Síndrome do Risco Cognitivo Motor (SRCM), de acordo com um estudo publicado na quarta-feira (6) pela revista científica Neurology.
A SRCM é caracterizada por lentidão na marcha e queixas cognitivas em indivíduos. Os atingidos ainda não têm diagnóstico de demência, mas apresentam dificuldades nas funções motoras e cognitivas básicas do cotidiano.
Realizada entre 2011 e 2018, a pesquisa acompanhou 445 adultos com uma média de idade de 75,9 anos. Durante o período, os participantes foram avaliados anualmente por meio de esteiras para monitorar sua marcha, com coletas de informações sobre qualidade e quantidade de sono.
O método utilizado foi o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI). Esse questionário avalia aspectos como o tempo necessário para adormecer, duração e eficiência do sono e presença de disfunção diurna — dificuldade em permanecer acordado ou desinteresse nas atividades diárias.
Resultados
Ao longo do estudo, 36 participantes desenvolveram a síndrome SRCM. Quando os pesquisadores analisaram os dados, descobriram que a sonolência excessiva durante o dia estava fortemente associada ao desenvolvimento da síndrome.
Especificamente, aqueles que relataram dificuldades em se manter acordados, bem como falta de entusiasmo para realizar tarefas, apresentaram risco 3,3 vezes maior de desenvolver a condição, em comparação com os que não tinham esses sintomas.
A pesquisa destaca que a sonolência diurna excessiva foi o fator de maior risco, com 35,5% dos participantes que relataram essa sensação desenvolvendo a síndrome, em contraste com apenas 6,7% daqueles que não apresentaram queixas de sono.
Esses resultados reforçam estudos anteriores, que já apontavam uma relação entre distúrbios do sono e aumento no risco de demência.
Em 2021, duas pesquisas semelhantes indicaram que dormir menos de cinco horas por noite ou até seis horas pode aumentar sensivelmente a possibilidade de demência.
Limitações
No entanto, a professora de neurodegeneração Tara Spires-Jones, diretora do Centro para Descoberta em Ciências Cerebrais da Universidade de Edimburgo, na Escócia, afirma que o estudo possui limitações.
Ela explica que os dados sobre o sono foram relatados pelos próprios participantes. Isso pode introduzir viés, especialmente em pessoas com dificuldades de memória, segundo a especialista. Além disso, a pesquisa foi feita com um grupo relativamente pequeno.
Embora o estudo tenha encontrado uma associação, ainda não se sabe se a sonolência excessiva é uma causa ou consequência da demência. Mais pesquisas são necessárias para entender melhor essa relação e como intervenções podem ajudar a prevenir o risco de demência no futuro.