Reduzir medicamentos para pressão arterial não aumenta riscos relacionados ao coração, conclui estudo

Uma pesquisa recente explora a segurança de medicamentos para redução da pressão arterial em residentes de lares de idosos.

Por Rachel Ann T. Melegrito
03/12/2024 20:07 Atualizado: 03/12/2024 20:07
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times. 

Medicamentos para pressão arterial estão entre os mais prescritos em excesso.

Mais de 70% dos adultos com 60 anos ou mais têm hipertensão, e mais da metade deles utiliza medicamentos para pressão arterial com o objetivo de prevenir eventos cardiovasculares, como ataques cardíacos e derrames. No entanto, para aqueles que não necessitam desses medicamentos, seu uso pode causar mais danos do que benefícios.

Um novo estudo, que desafia décadas de práticas médicas, sugere que residentes de casas de repouso poderiam reduzir ou até interromper o uso de medicamentos para pressão arterial em 30% ou mais, sem aumentar o risco de ataques cardíacos ou derrames.

Idosos têm maior probabilidade de sofrer reações adversas e efeitos colaterais devido ao uso de múltiplos medicamentos (polifarmácia), já que sua capacidade de absorver e eliminar substâncias é frequentemente reduzida. Suspender esses medicamentos pode ajudar a reduzir o risco de efeitos colaterais, como tontura e quedas, além de minimizar as interações medicamentosas associadas à polifarmácia.

Fazendo mais mal do que bem

Publicado no JAMA Network Open em 25 de novembro, o estudo revelou que interromper ou reduzir em pelo menos 30% a dosagem de medicamentos para pressão arterial (PA) em residentes de casas de repouso não resultou em hospitalizações por ataques cardíacos ou derrames após dois anos, em comparação com aqueles que continuaram tomando suas prescrições.

Pesquisadores analisaram dados de prontuários eletrônicos de residentes de longa permanência com 65 anos ou mais, admitidos nos centros comunitários do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA (VA). Esses residentes utilizavam ao menos um medicamento para PA. Cerca de 18% dos aproximadamente 13.000 residentes tiveram a dosagem ou frequência de seus medicamentos para PA reduzida por pelo menos duas semanas.

Os pesquisadores monitoraram esses residentes por dois anos e não identificaram diferença significativa no risco de hospitalização por ataques cardíacos ou derrames entre aqueles que reduziram ou interromperam seus medicamentos para PA e aqueles que mantiveram suas prescrições inalteradas.

Esse resultado pode ser atribuído aos efeitos colaterais desses medicamentos, que potencialmente superam os benefícios de uma pressão arterial rigidamente controlada, explicou Michelle Odden, doutora em epidemiologia e professora associada no Departamento de Epidemiologia e Saúde Populacional da Escola de Medicina da Universidade Stanford, em entrevista por e-mail ao Epoch Times.

“A outra possibilidade é que a pressão arterial alta talvez não seja tão arriscada em pessoas idosas com várias condições de saúde ou outras condições, como fragilidade, que as obriguem a viver em uma casa de repouso”, acrescentou ela.

Além disso, os residentes que reduziram ou interromperam seus medicamentos para PA tendiam a apresentar níveis ligeiramente mais baixos de pressão arterial sistólica (o número superior) e diastólica (o número inferior) antes de deixarem os medicamentos. Esse grupo também fazia uso de mais medicamentos anti-hipertensivos e tinha histórico de condições como diabetes, derrame, insuficiência renal e lesão renal aguda.

A hipertensão arterial é um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares. Medicamentos para PA podem ser necessários por toda a vida, especialmente se mudanças no estilo de vida não forem suficientes.

Não controlar a hipertensão pode levar a complicações graves. Por exemplo, um aumento de 20 mmHg na pressão sistólica e 10 mmHg na pressão diastólica pode dobrar o risco de doenças cardíacas isquêmicas, ataques cardíacos e derrames.

No entanto, pesquisas anteriores indicaram que reduzir excessivamente a pressão arterial sistólica (abaixo de 130 mmHg) ou o uso excessivo de medicamentos para PA pode prejudicar idosos, particularmente aqueles em uso de múltiplos medicamentos ou com problemas de saúde preexistentes.

Uma investigação de 2015 constatou que pessoas com pressão arterial particularmente baixa e aquelas que tomavam múltiplos medicamentos para PA apresentavam mais que o dobro do risco de morte em comparação com outros com pressão arterial alta, destacando os perigos do tratamento excessivo em populações frágeis.

O novo estudo relatou que essas descobertas contrastam com uma revisão anterior da Cochrane. A Cochrane é uma organização sem fins lucrativos britânica reconhecida como referência em saúde baseada em evidências. A revisão sugeria que interromper ou reduzir medicamentos para PA aumentava o risco de ataques cardíacos em 86% e de derrames em 44%. No entanto, os autores afirmaram que a revisão apresentava evidências fracas, observando que os estudos incluídos eram de baixa qualidade, tinham períodos de acompanhamento curtos, focavam exclusivamente na interrupção de medicamentos diuréticos anti-hipertensivos e foram conduzidos há mais de 20 anos.

O uso a longo prazo pode causar danos aos rins

Além de prevenir doenças cardiovasculares, medicamentos para pressão arterial (PA) também são prescritos para evitar danos aos rins. No entanto, algumas pesquisas sugerem que o uso prolongado desses medicamentos pode causar o efeito contrário, levando a danos renais.

Um estudo publicado na Circulation Research em outubro apresentou uma possível explicação para o motivo pelo qual o uso prolongado de inibidores do sistema renina-angiotensina (RAS), um tipo comum de medicamento para PA, pode causar danos aos rins.

A renina é uma proteína que eleva a pressão arterial. Células nos rins liberam renina quando a pressão arterial está baixa e interrompem sua liberação para reduzir a pressão arterial. A renina também ativa a angiotensina, que contrai os vasos sanguíneos para aumentar a pressão arterial. Os inibidores do RAS reduzem a pressão arterial bloqueando esses processos bioquímicos.

A pesquisa foi conduzida em camundongos e utilizou imagens tridimensionais para detectar alterações nos rins dos animais.

Os pesquisadores descobriram que suprimir a renina e a angiotensina com medicamentos anti-hipertensivos fez com que os vasos sanguíneos nos rins se dilatassem de forma anormal, resultando em danos renais.

“Descobrimos que a inibição do RAS causa uma doença vascular generalizada, afetando todas as arteríolas (pequenos vasos sanguíneos) e seus glomérulos associados (unidades de filtração dos rins)”, explicou a Dra. Maria Luisa S. Sequeira-Lopez, professora da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia e coautora do estudo, ao Epoch Times.

Sequeira-Lopez afirmou que a inibição do RAS também estava associada a um aumento de cicatrizes, inflamações e nervos desorganizados em vasos sanguíneos comprometidos.

Parar ou não parar de tomar anti-hipertensivos

A decisão de continuar ou interromper o uso de medicamentos para pressão arterial (PA) é complexa e deve ser discutida com um médico.

Fatores-chave para determinar se é apropriado reduzir ou suspender as prescrições incluem a expectativa de vida, a quantidade de medicamentos que o paciente está tomando e a presença de condições de saúde preexistentes, como demência ou deficiências físicas, de acordo com Michelle Odden.

Evidências em estudos com camundongos indicam danos persistentes mesmo após a interrupção do uso prolongado de medicamentos, embora os rins possuam uma função de reserva considerável, explicou Maria Luisa S. Sequeira-Lopez. “A interrupção de tratamentos de curto prazo em camundongos pode reverter a patologia, mas em humanos, não sabemos em que ponto isso pode se tornar irreversível. Estudos são necessários”, afirmou ela.

Sequeira-Lopez também observou que a hipertensão pode ter várias causas subjacentes, muitas vezes correlacionadas com níveis baixos de renina, tornando os inibidores do RAS menos adequados para certas pessoas.

“Identificar a causa da hipertensão em cada caso e desenvolver abordagens personalizadas de medicina de precisão para o tratamento da hipertensão será o objetivo futuro, a fim de evitar possíveis efeitos colaterais indesejados dos medicamentos”, destacou.