Privação do sono prejudica capacidade do cérebro de suprimir memórias indesejadas

Estudo revela o papel crucial do sono REM no controle da memória.

Por George Citroner
12/01/2025 18:47 Atualizado: 12/01/2025 18:47
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Uma noite mal dormida não apenas o deixa cansado, mas também pode dificultar o controle de lembranças indesejadas, segundo um estudo recente sobre o papel do sono na memória emocional.

A pesquisa, publicada recentemente na PNAS, destaca o papel crucial que o sono — especialmente o sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês) — desempenha no gerenciamento de memórias emocionais.

“As lembranças de experiências desagradáveis muitas vezes entram em nossa mente consciente em resposta a lembretes, mas tendem a ser passageiras e podem ser apagadas da mente novamente”, disse Scott Cairney, professor sênior do Departamento de Psicologia da Universidade de Iorque e coautor do estudo, em uma declaração.

Como o descanso afeta nossa capacidade de esquecer

Usando imagens de ressonância magnética funcional (fMRI, na sigla em inglês), os pesquisadores estudaram a atividade cerebral de 85 adultos saudáveis divididos em dois grupos: os que tiveram uma noite de sono tranquila e os que ficaram acordados a noite toda.

Os participantes viram rostos emparelhados com várias cenas, inclusive imagens emocionalmente negativas, como acidentes de carro ou brigas. Em seguida, foi solicitado que as pessoas se lembrassem da cena associada ou suprimissem a lembrança.

“Os participantes que estavam privados de sono não conseguiram acionar a área do cérebro que nos ajuda a suprimir memórias indesejadas. Consequentemente, eles não conseguiram anular os processos relacionados à memória no hipocampo que dão origem a pensamentos intrusivos”, disse Cairney. 

Os participantes bem descansados, entretanto, apresentaram maior ativação no córtex pré-frontal dorsolateral direito — uma região do cérebro responsável pelo controle de pensamentos, ações e emoções — em comparação com os indivíduos privados de sono. Eles também apresentaram atividade reduzida no hipocampo, que está envolvido na recuperação da memória.

Essas descobertas são particularmente relevantes para pessoas com distúrbios de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático, em que as memórias intrusivas podem ser frequentes e angustiantes, de acordo com os pesquisadores.

O sono REM é fundamental para a supressão da memória

Os participantes que tiveram mais sono REM, o estágio em que ocorrem os sonhos mais vívidos, demonstraram maior capacidade de envolver o córtex pré-frontal dorsolateral direito durante a supressão da memória. Isso sugere que o sono REM ajuda a restaurar a capacidade do cérebro de controlar memórias indesejadas.

“Isso é muito importante para nossa compreensão dos problemas de saúde mental, pois está bem documentado que as pessoas que sofrem de ansiedade, depressão ou transtorno de estresse pós-traumático também têm dificuldade para dormir”, disse Cairney.

“Agora que temos uma melhor compreensão dos mecanismos no cérebro que podem ajudar a restringir as memórias e os pensamentos negativos, talvez possamos trabalhar em tratamentos mais direcionados e terapias comportamentais que ajudem a melhorar o sono”, acrescentou.

Os autores do estudo enfatizaram que suas descobertas contribuem para o aumento das evidências sobre como a privação do sono afeta a capacidade de regular pensamentos e ações.