Por dentro da reunião secreta do governo sobre imunidade natural contra COVID-19

Por Zachary Stieber
04/02/2023 16:37 Atualizado: 06/02/2023 15:09

Quatro das mais altas autoridades de saúde dos EUA – incluindo o Dr. Anthony Fauci – se reuniram em segredo para discutir se as pessoas naturalmente imunes deveriam ou não ser isentas de vacinas contra a COVID-19, revelou o Epoch Times.

Os oficiais trouxeram quatro especialistas externos para discutir se a proteção obtida após a recuperação da COVID-19, conhecida como imunidade natural, deveria contar como uma ou mais doses de vacina.

“Havia interesse de várias pessoas na administração em ouvir basicamente as opiniões de quatro imunologistas em termos do que pensávamos sobre […] a infecção natural como contribuição para a proteção contra doenças moderadas a graves e até que ponto isso deveria influenciar a dosagem”, disse o Dr. Paul Offit, um dos especialistas, ao Epoch Times.

Offit e outro especialista defenderam que os naturalmente imunes precisam de menos doses. Os outros dois especialistas argumentaram que a imunidade natural não deveria ser levada em consideração.

A discussão não levou a uma mudança na política de vacinação dos EUA, que nunca reconheceram a proteção pós-infecção. Fauci e outras autoridades americanas que ouviram os especialistas minimizaram repetidamente essa proteção, alegando que seria inferior à imunidade concedida pela vacina. A maioria dos estudos sobre o assunto indica o contrário.

A reunião, realizada em outubro de 2021, foi brevemente discutida antes em um podcast. O Epoch Times confirmou de forma independente que a reunião ocorreu, identificou todos os participantes e descobriu outros detalhes importantes.

O Dr. Jay Bhattacharya, um professor de medicina da Universidade de Stanford, que não participou da reunião, criticou como tal discussão importante ocorreu a portas fechadas com apenas algumas pessoas presentes.

“Foi uma decisão realmente impactante que eles tomaram a portas fechadas com um número muito pequeno de pessoas envolvidas. E eles tomaram a decisão errada”, disse Bhattacharya ao Epoch Times.

Epoch Times Photo
Um e-mail obtido pelo Epoch Times mostra o Dr. Vivek Murthy entrando em contato com colegas para marcar a reunião. (Epoch Times)

Os participantes da reunião:

Do governo:

Fauci, chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID) e principal consultor médico do presidente Joe Biden até o final de 2022

Dr. Vivek Murthy, o cirurgião geral dos EUA

Dra. Rochelle Walensky, chefe dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA

Dr. Francis Collins, chefe dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, que inclui o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, até dezembro de 2021

Dr. Bechara Choucair, coordenador de vacinas da Casa Branca até novembro de 2021

Fora do governo:

Offit, diretor do Vaccine Education Center no Children’s Hospital of Philadelphia e consultor da U.S. Food and Drug Administration sobre vacinas

Dr. Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota e ex-membro do conselho consultivo COVID-19 de Biden

Akiko Iwasaki, professora de imunobiologia e biologia molecular, celular e do desenvolvimento na Universidade de Yale

Dr. Peter Hotez, co-diretor do Texas Children’s Hospital Center for Vaccine Development e reitor da Baylor College of Medicine’s School of Tropical Medicine

Fauci e Murthy decidiram realizar a reunião, de acordo com os e-mails obtidos pelo Epoch Times.

“Você estaria disponível hoje à noite, das 9h às 9h30, para uma ligação com alguns outros colegas científicos sobre imunidade induzida por infecção? Tony e eu acabamos de conversar e esperávamos fazer isso o mais cedo possível”, escreveu Murthy em uma carta a Fauci, Walensky e Collins.

Todos os três rapidamente disseram que conseguiriam.

Walensky perguntou quem estaria lá.

Murthy listou os participantes. “Eu acho que você conhece todos eles, certo?” ele disse.

Walensky disse que conhecia todos menos uma pessoa. “Parece uma boa equipe”, acrescentou ela.

Epoch Times Photo
Do alto à esquerda, no sentido horário: Dr. Vivek Murthy, Dr. Francis Collins, Dr. Anthony Fauci e Dra. Rochelle Walensky. (Getty Images)

‘Benefício claro’

Durante a reunião, Offit apresentou sua posição – de que a imunidade natural deve contar como duas doses.

Na época, o CDC recomendou três injeções – uma série primária de duas doses e uma de reforço – para muitos americanos com 18 anos ou mais, logo expandindo esse conselho para todos os adultos, embora os testes dos reforços tenham analisado apenas a imunogenicidade e a eficácia entre aqueles sem evidências. de infecção prévia.

A pesquisa indicou que a imunidade natural era duradoura e superior à vacinação. Por outro lado, o CDC publicou um artigo que concluia que a vacinação era melhor.

Osterholm ficou do lado de Offit, mas achou que a recuperação da COVID-19 deveria contar apenas como uma dose única.

“Adicionei minha voz na reunião para contabilizar uma infecção como equivalente a uma dose de vacina! Sempre acreditei que a imunidade híbrida provavelmente fornece a maior proteção”, disse Osterholm ao Epoch Times por e-mail.

A imunidade híbrida refere-se à obtenção de uma vacina após a recuperação da COVID-19.

Alguns artigos descobriram que a vacinação após a recuperação aumenta os anticorpos, que se acredita serem um correlato de proteção. Outra pesquisa mostrou que os naturalmente imunes têm um risco maior de efeitos colaterais do que aqueles que não se recuperaram da infecção. Alguns especialistas acreditam que o risco vale o benefício, mas outros não.

Hotez e Iwasaki, por sua vez, argumentaram que a imunidade natural não deveria contar como nenhuma dose – como tem acontecido em praticamente todos os Estados Unidos desde que as vacinas contra a COVID-19 foram lançadas pela primeira vez.

Iwasaki referiu-se a um estudo britânico de pré-impressão, logo após publicado na Nature, que concluiu, com base em dados de pesquisa, que a proteção das vacinas Pfizer e AstraZeneca era melhor entre pessoas com evidência de infecção anterior. Ela também indicou um estudo em que trabalhou, no qual se descobriu que pessoas naturalmente imunes tinham concentrações de anticorpos mais altas do que os vacinados, mas que os vacinados “atingiram níveis comparáveis de respostas de neutralização à cepa ancestral após a segunda dose da vacina”. Os pesquisadores também descobriram que as células T – consideradas protetoras contra doenças graves – foram reforçadas pela vacinação.

Há um “benefício claro” em aumentar independentemente da infecção anterior, disse Iwasaki, que desde então recebeu mais de US$ 2 milhões em doações dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, aos participantes após a reunião em um e-mail obtido pelo Epoch Times. Hotez recebeu $ 789.000 em doações do NIH no ano fiscal de 2020 e recebeu outras doações totalizando milhões em anos anteriores. Offit, que co-inventou a vacina contra o rotavírus, recebeu US$ 3,5 milhões em doações do NIH de 1985 a 2004.

Hotez recusou os pedidos de entrevista por meio de um porta-voz. Iwasaki não respondeu aos pedidos de comentários.

Nenhum participante representou especialistas como Bhattacharya, que dizem que os naturalmente imunes geralmente não precisam de nenhuma dose.

Epoch Times Photo
Em um e-mail obtido pelo Epoch Times, Akiko Iwasaki escreveu para outros participantes da reunião logo após o término do encontro. (The Epoch Times)

Declarações públicas

Em público, Hotez retratou repetidamente a imunidade natural como pior do que a vacinação, inclusive citando o amplamente criticado artigo do CDC, que se baseou em apenas dois meses de testes em um único estado.

Em uma postagem no Twitter de 29 de outubro de 2021, ele se referiu a outro estudo do CDC, que concluiu que os naturalmente imunes tinham cinco vezes mais chances de testar positivo em comparação com pessoas vacinadas sem infecção anterior e declarou: “Ainda mais evidências, desta vez de @CDCMMWR mostrando que a imunidade induzida por vacina é muito melhor do que infecção e recuperação, o que alguns chamam estranhamente de ‘imunidade natural’. Os grupos antivacina e de extrema direita enlouquecem, mas é a realidade.”

Nesse mesmo dia, o CDC emitiu um “resumo científico” que detalhava a posição da agência sobre a imunidade natural versus a proteção das vacinas. O resumo, que nunca foi atualizado, diz que as evidências disponíveis mostram que tanto os vacinados quanto os naturalmente imunes “têm um baixo risco de infecção subsequente por pelo menos 6 meses”, mas que “o corpo de evidências para imunidade induzida por infecção é mais limitado do que isso para imunidade induzida por vacina.

Evidências mostram que a vacinação após a infecção, ou imunidade híbrida, “aumenta significativamente a proteção e reduz ainda mais o risco de reinfecção” e é a base das recomendações do CDC, disse a agência.

Vários meses depois, o CDC reconheceu que a imunidade natural era superior à vacinação contra a variante Delta,. O CDC, que já fez representações enganosas antes sobre as evidências que apoiam a vacinação dos naturalmente imunes, não respondeu a um pedido de comentário sobre se a agência algum dia atualizará o resumo.

Iwasaki inicialmente estava aberta a reduzir o número de doses para os naturalmente imunes – “Acho que isso corrobora a ideia de apenas dar uma dose para pessoas que tiveram COVID-19”, disse ela em resposta a uma postagem no Twitter no início de 2021. Depois, a professora passou a argumentar que cada pessoa infectada tem uma resposta imune diferente e que a imunidade natural, mesmo que forte inicialmente, diminui com o tempo.

Osterholm criticou pessoas que afirmam que a imunidade natural é fraca ou inexistente, mas também afirmou que a imunidade concedida pela vacina é melhor. Osterholm também mudou a postura que assumiu na reunião apenas alguns meses depois, dizendo em fevereiro de 2022 que “temos que fazer de três doses o padrão real” enquanto também “tentamos entender que tipo de imunidade obtemos de uma infecção anterior”.

Offit tem sido o principal crítico do Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados, que aconselha os reguladores dos EUA sobre vacinas, sobre suas autorizações de reforços contra COVID-19. Offit disse que os reforços são desnecessários para os jovens e saudáveis porque não acrescentam muito à série primária. Ele também criticou os reguladores por autorizar injeções atualizadas sem consultar o comitê e sem dados clínicos. Dois dos principais funcionários da Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA), que lá cumpre um papel similar ao da Anvisa no Brasil, renunciaram devido ao impulso para as doses de reforço. Nenhum funcionário da FDA foi listado nos convites para a reunião secreta sobre imunidade natural.

Fauci e Walensky minimizam a imunidade natural

Fauci e Walensky, duas das autoridades de saúde dos EUA com mais destaque durante a pandemia, subestimaram repetidamente a imunidade natural.

Fauci, que disse em um e-mail em março de 2020 que presumia que haveria “imunidade substancial após a infecção”. Depois, ele viria a dizer que a imunidade natural era real, mas que a durabilidade era incerta. Ele observou os estudos que encontraram níveis mais altos de anticorpos da imunidade híbrida.

Em setembro de 2021, meses depois de afirmar que as pessoas vacinadas “podem se sentir seguras de que não serão infectadas”, Fauci disse que não tinha “uma resposta realmente firme” sobre se os naturalmente imunes deveriam ser vacinados.

“É concebível que caso você tenha sido infectado, você está protegido – mas pode não estar protegido por um período indefinido de tempo”, disse Fauci à CNN quando pressionado sobre o assunto. “Então, acho que é algo que precisamos sentar e discutir seriamente.”

Após a reunião, Fauci diria que a imunidade natural e a imunidade concedida pela vacina diminuem e que as pessoas devem ser vacinadas independentemente da infecção anterior para aumentar sua proteção.

Walensky, antes de se tornar diretora do CDC, assinou um documento chamado John Snow Memorandum, em resposta à Declaração de Great Barrington, da qual Bhattacharya foi coautor. A declaração pedia proteção focada aos idosos e enfermos, afirmando: “A abordagem mais compassiva que equilibra os riscos e benefícios de alcançar a imunidade de rebanho é permitir que aqueles que correm um risco mínimo de morte vivam suas vidas normalmente para construir imunidade ao vírus por meio de infecção natural, protegendo melhor aqueles que correm maior risco”.

O memorando, por outro lado, disse que “não há evidências de imunidade protetora duradoura ao SARS-CoV-2 após infecção natural” e apoiou as duras medidas de lockdown impostas nos Estados Unidos e em outros lugares.

Em março de 2021, após se tornar diretora, Walensky divulgou recomendações para que os naturalmente imunes fossem vacinados, observando que havia “durabilidade substancial” da proteção seis meses após a infecção, mas que “casos raros de reinfecção” foram relatados.

Walensky divulgou o estudo do CDC sobre imunidade natural em agosto de 2021 e o segundo estudo em outubro de 2021. Mas quando o terceiro artigo foi publicado concluindo que a imunidade natural era superior, ela não emitiu uma declaração. Walensky disse mais tarde a um blog que o estudo descobriu que a imunidade natural fornecia forte proteção, “talvez até mais do que aqueles que foram vacinados e ainda não receberam reforço”.

Mas, como veio antes da Omicron, ela disse, “não está totalmente claro como essa proteção funciona no contexto da Omicron e dos reforços”.

Walensky, Murthy e Collins não responderam aos pedidos de entrevistas. Fauci, que deixou o cargo no final de 2022, não foi encontrado.

Murthy e Collins também retrataram a imunidade natural como inferior. “A partir dos estudos sobre imunidade natural, estamos vendo cada vez mais dados que nos dizem que, embora você obtenha alguma proteção contra infecções naturais, não é tão forte quanto o que obtém da vacina”, delcarou Murthy na CNN cerca de dois meses antes da reunião. Collins, em uma série de postagens no blog, destacou os estudos que mostram níveis mais altos de anticorpos após a vacinação e instou as pessoas a se vacinarem. Ele também expressou apoio aos mandatos de vacinas.

Epoch Times Photo
Professor de medicina da Universidade de Stanford, Dr. Jay Bhattacharya, membro fundador da Academia para Ciência e Liberdade do Hillsdale College, no Hillsdale College Kirby Center em Washington em 17 de março de 2022. (Bao Qiu/The Epoch Times)

Orientação sobre Vacinas Não Alterada

Alguns outros países ofereceram benefícios para naturalmente imunes.

Poucos dias depois que as autoridades americanas ouviram os especialistas, Israel anunciou que as pessoas que apresentassem prova sorológica de infecção anterior poderiam obter um “passe verde”, exigido no país para entrar em determinados locais, por seis meses. Alguns países da União Europeia disseram que os naturalmente imunes precisavam apenas de uma única dose, em vez de duas, para receber um certificado digital, permitindo a livre circulação dentro do bloco. O passe de viagem do Reino Unido estava disponível para pessoas que testaram positivo para COVID-19 se o teste fosse feito nos 180 dias anteriores.

Mas a política dos EUA sobre vacinas, que tem sido a base para requisitos de vacinação em setores como educação e saúde, não foi alterada após a reunião.

“Acho que é porque as opiniões eram geralmente diversas, então não havia uma mensagem clara e unificada disso”, disse Offit ao Epoch Times, acrescentando por e-mail que havia “geralmente uma divisão entre os participantes sobre como pensar sobre isso”, sem “conclusões firmes”.

Bhattacharya disse que a discussão aconteceu tarde demais, afirmando que já estava claro em 2020 que a imunidade natural protege contra doenças graves e reinfecções.

“O fato de que o chefe do CDC e o cirurgião geral parecem ter ignorado esses fatos científicos básicos é um escândalo”, disse ele. “E resultou em incontáveis americanos perdendo seus empregos por nada.”

Em 2022, o CDC disse que as pessoas que se recuperaram da COVID-19 poderiam esperar até três meses após a infecção para serem vacinadas, afirmando que a reinfecção “é menos provável nas semanas e meses após a infecção” e que a espera “pode resultar em uma resposta imune melhorada à vacinação.”

Com o tempo, algumas outras políticas dos EUA passaram a reconhecer a imunidade natural. Walensky em abril de 2022 (pdf), por exemplo, ao ordenar o fim de uma política de saúde pública denominada Título 42, disse que o fazia porque as mortes e internações na era Omicron eram menores “devido, em parte, à ampla imunidade da população .”

Uma nota de rodapé afirmava: “Além da imunidade induzida pela vacina, estudos mostraram consistentemente que a infecção por SARS-CoV-2 reduz o risco individual de infecção subsequente e um risco ainda menor de hospitalização e morte”. O SARS-CoV-2 causa a COVID-19.

Em agosto de 2022, o CDC facilitou suas diretrizes da COVID-19, afirmando em parte que “pessoas que tiveram COVID-19, mas não foram vacinadas, têm algum grau de proteção contra doenças graves de infecção anterior”.

E em 26 de janeiro, a FDA convocou Offit e os outros conselheiros do comitê consultivo de vacinas para considerar várias questões relacionadas a vacinas. Entre elas havia a dúvida sobre se deveria-se aconselhar pessoas com imunidade natural a receber apenas uma injeção, mesmo que nunca tenham sido vacinadas antes.

Lia Onely contribuiu para esta notícia.

Entre para nosso canal do Telegram

Assista também: