Pesquisadores revelam uma ligação entre um poluente atmosférico comum e o autismo

Em quantidades saudáveis, o óxido nítrico é benéfico para a saúde humana, mas a exposição ambiental excessiva pode ser um problema.

Por Conan Milner
03/12/2024 18:49 Atualizado: 03/12/2024 18:49
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times. 

Enquanto os cientistas trabalham para entender o aumento acentuado do transtorno do espectro do autismo (TEA) nas últimas décadas, um provável culpado ambiental que surgiu é a poluição do ar.

A poluição do ar pode levar à neuroinflamação, um fator de risco importante em vários distúrbios neurológicos, incluindo o autismo.

Em uma revisão publicada on-line em 12 de novembro na revista Brain Medicine, os pesquisadores explicaram que, quando se trata do potencial prejudicial da poluição do ar, o cérebro em desenvolvimento corre um risco especial. Durante a gravidez, as futuras mães inalam partículas poluentes no ar. À medida que essas partículas passam pela corrente sanguínea das mães, os bebês que elas carregam têm pouca defesa, pois a barreira hematoencefálica do feto não está desenvolvida o suficiente para se proteger contra a influência da poluição.

A revisão rastreia as evidências que ligam a poluição do ar ao autismo e sugere novos caminhos para o tratamento e o diagnóstico.

Os pesquisadores analisaram uma variedade de partículas poluentes e descobriram que as partículas menores, especialmente PM2.5, eram particularmente problemáticas. As partículas minúsculas são capazes de atravessar a placenta e afetar o desenvolvimento do cérebro do feto.

Outra descoberta importante foi que a exposição precoce ao óxido nítrico—um componente comum do escapamento dos carros—também pode causar problemas.

O principal autor da revisão, Haitham Amal, é um especialista reconhecido internacionalmente em sinalização celular e distúrbios cerebrais. No ano passado, Amal e sua equipe se tornaram os primeiros pesquisadores a estabelecer uma ligação entre o óxido nítrico e a patogênese do autismo.

Pesquisas anteriores haviam sugerido que a exposição ao óxido nítrico poderia levar ao autismo. Mas Amal diz que esses eram apenas estudos de correlação. Amal foi o primeiro a validar o fato.

“Inibimos as enzimas que produziam óxido nítrico e vimos as consequências em nível comportamental. Esse é o único estudo na literatura que mostra experimentalmente a ligação entre o óxido nítrico e o autismo”, disse Amal ao Epoch Times.

Essas descobertas podem ter implicações além do autismo. Amal diz que o óxido nítrico compartilha um mecanismo molecular que pode afetar várias doenças neurodesenvolvimentais e neurodegenerativas.

Um olhar mais atento ao óxido nítrico

O óxido nítrico é um poluente atmosférico comum produzido principalmente pelas emissões de veículos e pela combustão de combustíveis fósseis. Os efeitos tóxicos da inalação desse gás incolor são conhecidos há décadas.

O óxido nítrico também é essencial para a nossa saúde. O corpo produz seu próprio suprimento para as funções cardiovasculares, respiratórias e imunológicas. Para as pessoas que desejam aprimorar ainda mais essas funções, existem suplementos e produtos farmacêuticos disponíveis que estimulam o corpo a aumentar a produção de óxido nítrico.

“O óxido nítrico é uma molécula muito importante, não apenas no corpo, mas também no cérebro. Ele está envolvido na função sináptica e neuronal e em outros processos”, disse Amal.

Entretanto, a exposição ao óxido nítrico no meio ambiente é diferente. Foi demonstrado que ele causa estresse oxidativo, principalmente em indivíduos propensos a distúrbios inflamatórios que, acredita-se, são mais suscetíveis à sua influência.

Para identificar a exposição ao óxido nítrico como um fator que contribui para o autismo, Amal e sua equipe analisaram amostras de crianças com baixo funcionamento e TEA, modelos de camundongos transgênicos e plataformas humanas in vitro. Esses dados estabelecem uma forte ligação, mas muitas descobertas anteriores já apontavam para essa conexão. Sabe-se que a exposição ao óxido nítrico e seu derivado, o dióxido de nitrogênio, durante a gravidez e a primeira infância, interrompe o desenvolvimento normal do cérebro.

Os pesquisadores sugerem que os indivíduos com predisposição genética para o autismo podem ser mais vulneráveis aos efeitos nocivos do óxido nítrico. Amal e sua equipe postulam que as mutações nos genes que lidam com o estresse oxidativo e a regulação do óxido nítrico, por exemplo, podem aumentar o impacto inflamatório.

Limitando a exposição

Se a exposição ao óxido nítrico é um risco, faz sentido evitar a exposição. Felizmente, há menos do que costumava haver. De acordo com a U.S. Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos EUA), os óxidos nítricos no meio ambiente foram reduzidos substancialmente desde 1980.

Os pesquisadores afirmam que a redução da exposição pode desempenhar um papel fundamental na prevenção de casos não genéticos de TEA e na melhoria dos resultados de saúde pública. Entretanto, a prevenção em um determinado período de tempo é crucial.

“A exposição a esses poluentes durante a gravidez e no início do desenvolvimento pós-natal representa um risco significativo de TEA, pois esses períodos são essenciais para o desenvolvimento do cérebro, incluindo a migração neuronal e a mielinização”, escreveram Amal e seus colegas.

Amal também está ajudando a desenvolver um medicamento que inibe o óxido nítrico. O trabalho pré-clínico mostra uma reversão dos fenótipos semelhantes aos do TEA quando se tem como alvo a produção de óxido nítrico em animais, e os dados com amostras de células-tronco humanas revelaram resultados semelhantes.

“Acreditamos que essa pode ser uma estratégia positiva”, disse Amal.

Embora a revisão acrescente mais peso à ideia de que a poluição do ar possa influenciar o autismo, Amal e sua equipe dizem que os cientistas devem examinar outros fatores de confusão ao realizar sua pesquisa.

“Fatores de estilo de vida, como o tabagismo ativo e passivo na gravidez, também precisam ser levados em conta”, escreveram os pesquisadores. “Também é essencial considerar o local de residência e a posição socioeconômica, pois os bairros mais pobres provavelmente apresentam mais poluição, maior vulnerabilidade a esses fatores e maior risco de TEA”.