Os pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram uma meia para o tratamento do pé diabético. De acordo com os cientistas, a descoberta é uma versão mais barata e eficaz para o alívio das úlceras, que são uma das complicações mais comuns do diabetes mellitus.
O item inovador foi criado com um tecido de fibra de carbono e um liberador de óxido nítrico (NO). De acordo com os cientistas, a substância tem funções anti-inflamatórias, antimicrobianas e de redução da dor, podendo atuar por até 12 dias sobre a pele do paciente.
Para chegar ao resultado, eles realizaram a absorção — fixação de moléculas de um fluido a uma substância sólida — do composto químico nitroprussiato sobre o tecido. Em seguida, verificaram a capacidade da fibra de liberar óxido nítrico e reter cianeto, dois subprodutos da decomposição do nitroprussiato.
A equipe responsável pela descoberta é formada pelos professores Elisane Longhinotti, Eduardo Henrique Silva de Souza e Luiz Gonzaga de França Lopes, além do bolsista do programa Empreende UFC, Isaac Lucas Araújo Lopes, e do doutor em química Pedro Martins da Silva Filho, que trabalhou na pesquisa durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Química (PGQUIM) da UFC.
Próxima fase: testes clínicos
A meia para tratar os pés de diabéticos já recebeu a carta-patente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), sendo a 57ª patente da UFC. A novidade também foi aprovada no Edital Centelha, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Entretanto, de acordo com a equipe, o produto ainda precisa passar por mais etapas antes de ser comercializado. Além de avaliar aspectos como a concentração de nitroprussiato e o uso de outras fibras, serão necessários testes clínicos para comprovar a eficácia da meia no tratamento de feridas crônicas.
“Precisamos realmente realizar o estudo clínico, primeiro em cobaias animais e depois em pessoas”, explicou o doutor Martins.
A equipe também precisará definir como as meias serão produzidas, incluindo o tipo de corte e costura, e como elas podem ser aprimoradas para beneficiar pacientes com outras doenças, como o câncer.
13 milhões de diabéticos no Brasil
O benefício da descoberta dos cientistas do Ceará não se limita apenas aos pés. O tecido também permitirá o desenvolvimento de luvas e ataduras, já que as lesões por neuropatia diabética podem ocorrer em outras partes do corpo dos pacientes, como as mãos.
A diminuição da sensibilidade em diabéticos pode levar a lesões traumáticas que não causam dor. Muitos desses pacientes apresentam sintomas frequentes de formigamento e sensação de queimação, explicam os médicos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o dano aos nervos é a complicação crônica mais comum e debilitante do diabetes, sendo responsável por dois terços das amputações não traumáticas.
De acordo com dados da entidade, atualmente há mais de 13 milhões de pessoas vivendo com a doença no Brasil, o que representa 6,9% da população.