Pesquisadores brasileiros descobrem molécula que aumenta esperança no combate ao Alzheimer

A doença é a forma mais comum de demência em idosos, representando mais da metade dos casos nessa população.

Por Igor Iuan
04/10/2024 15:56 Atualizado: 04/10/2024 15:56

A esperança surge no combate à doença de Alzheimer com a descoberta de uma molécula, a LASSBio-1911. Ela demonstrou potencial em proteger o cérebro de camundongos afetados pela condição, restaurando suas funções cognitivas.

Desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB-UFRJ), o estudo foi publicado no British Journal of Pharmacology e promete abrir novos caminhos para o tratamento dessa grave doença neurodegenerativa.

A LASSBio-1911 pertence à classe dos inibidores das enzimas histonas desacetilases (iHDAC), compostos comumente utilizados no tratamento de câncer e que têm ganhado atenção por suas propriedades neuroprotetoras.

A pesquisa focou especificamente na ação da molécula sobre os astrócitoscélulas cerebrais responsáveis por dar suporte e nutrição aos neurônios. Com o avanço da idade e a progressão de demências, os astrócitos perdem suas funções, o que agrava os sintomas do Alzheimer.

Flávia Gomes, neurocientista que coordenou o estudo, destacou a importância da LASSBio-1911, explicando que, embora a molécula não seja nova, sua aplicação no Alzheimer é recente.

Segundo a neurocientista, a molécula é conhecida há mais de cinco anos e vem sendo testada em outras doenças, como câncer de próstata, e passou a ter seu potencial explorado em modelos experimentais de Alzheimer.

Resultados promissores

Os resultados obtidos com os camundongos foram animadores: a LASSBio-1911 não apenas reverteu a perda cognitiva, mas também melhorou o desempenho dos animais em testes comportamentais. 

Segundo os pesquisadores, a LASSBio-1911 pode ajudar a iluminar novos alvos farmacológicos, especificamente os astrócitos, que até então não eram foco em tratamentos.

Luan Diniz, professor do ICB-UFRJ, observou que a pesquisa demonstra que o Alzheimer não é apenas uma doença neuronal, mas também glial — ou seja, ligada a células do sistema nervoso central. Isso amplia a perspectiva sobre possíveis intervenções.

O estudo foi parte da dissertação de mestrado de Juliana Morgado, que, junto a outros colaboradores, têm explorado o papel das células gliais na neurodegeneração — processo no qual ocorre a perda progressiva da estrutura ou funcionamento dos neurônios.

A molécula brasileira foi planejada, sintetizada e caracterizada por um grupo liderado pelo professor Carlos Alberto Manssour Fraga, falecido em 8 de maio e um dos maiores especialistas em Química de Fármacos no Brasil.

Próximos passos

De acordo com Gomes, a pesquisa básica é essencial para a geração de conhecimento científico que sirva para aplicações clínicas. O trabalho experimental é importante, tendo em vista novos testes clínicos e estratégias terapêuticas para doenças neurodegenerativas, segundo a especialista.

As próximas etapas da pesquisa incluem a avaliação de outros compostos com estruturas semelhantes, com a finalidade de verificar sua eficácia em prevenir ou reverter déficits cognitivos em animais idosos.

A causa do Alzheimer ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que fatores genéticos desempenhem papel expressivo. Os pesquisadores se mostram otimistas com o desenvolvimento de novas terapias que possam beneficiar milhões de pessoas afetadas pelo Alzheimer.