Pesquisa revela que o uso de tablets alimenta a raiva e as birras em crianças pequenas

Como o tempo de tela das crianças pequenas está se tornando mais predominante, elas estão experimentando mais raiva, frustração e crises de ansiedade do que nunca.

Por Sheramy Tsai
15/08/2024 13:44 Atualizado: 15/08/2024 13:44
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Se o seu filho pequeno tem tido mais crises de birra, o tablet pode ser o problema. Uma nova pesquisa sugere que o uso excessivo de telas está alimentando o aumento da raiva e frustração em crianças em idade pré-escolar, tornando suas explosões de temperamento mais difíceis de lidar.

O uso de dispositivos móveis entre crianças pequenas aumentou, com o tempo de tela saltando de cinco minutos por dia em 2020 para 55 minutos em 2022—uma mudança que destaca o papel crescente da tecnologia na primeira infância. Aos 4 anos, a maioria das crianças já possui seus próprios dispositivos.

A conexão entre tempo de tela e raiva

Um novo estudo publicado na JAMA Pediatrics identificou uma ligação entre o uso de tablets e surtos emocionais em crianças pequenas. O estudo acompanhou 315 pré-escolares ao longo de dois anos e descobriu que aqueles que passavam mais tempo em tablets aos 3,5 anos eram mais propensos a apresentar sinais de raiva e frustração aos 4,5 anos.

O estudo baseou-se em dados relatados pelos pais sobre o uso de tablets e comportamento emocional, acompanhando o desenvolvimento de cada criança ao longo do tempo. Os pesquisadores descobriram que um aumento de uma hora no uso diário de tablets aos 3,5 anos estava relacionado a um aumento de 22% na raiva e frustração no ano seguinte.

A pesquisa também revelou que as crianças mais propensas à raiva aos 4,5 anos muitas vezes aumentavam o uso de tablets aos 5,5 anos, sugerindo que, enquanto o tempo excessivo de tela pode desencadear problemas emocionais, esses mesmos problemas podem levar as crianças a depender ainda mais das telas, criando um ciclo difícil de quebrar.

“Crianças que são mais desafiadoras e menos reguladas tendem a ser expostas a mais tempo de tela pelos pais”, afirma o estudo. “Os pais relatam usar a mídia de tela como uma ferramenta de calma para ajudar a gerenciar as explosões emocionais das crianças pequenas.”

Realizada durante a pandemia da COVID-19, a pesquisa também destacou como as tensões únicas desse período podem ter influenciado os resultados do estudo. Com muitas famílias lidando com rotinas interrompidas e estresse elevado, o uso de tablets pelas crianças e seus estados emocionais podem ter sido mais instáveis.

Em média, as crianças no estudo passavam cerca de uma hora por dia em tablets aos 5,5 anos, embora isso variasse amplamente.

Embora estudos anteriores tenham sugerido uma ligação entre o tempo de tela e problemas comportamentais, esta pesquisa é uma das primeiras a examinar essa relação ao longo do tempo nos mesmos indivíduos. Ao acompanhar as mesmas crianças por vários anos, o estudo fornece evidências de que o uso de tablets pode tanto causar quanto resultar em desafios emocionais na primeira infância.

“Pais e cuidadores devem monitorar de perto o uso de tablets por crianças em idade pré-escolar, especialmente em crianças que têm uma maior tendência a expressar raiva e frustração”, disse a autora principal Caroline Fitzpatrick ao The Epoch Times.

Por que a primeira infância é importante

A primeira infância é crítica para o desenvolvimento das habilidades de regulação emocional. O cérebro passa por um crescimento rápido, tornando atividades como brincadeiras interativas, leitura e interações sociais essenciais para o desenvolvimento das habilidades emocionais e cognitivas. As maneiras como essas habilidades são cultivadas podem variar significativamente.

Em um esforço para gerenciar os desafios dessa fase de desenvolvimento, muitos pais recorrem aos tablets para ocupar as crianças ou acalmá-las durante surtos emocionais, com 65% dos cuidadores relatando o uso de telas para esse fim.

“Essa estratégia provavelmente terá um efeito reverso a longo prazo, pois pode interferir na capacidade das crianças de desenvolver estratégias internas para gerenciar suas emoções”, disse Fitzpatrick. Como o uso de tablets é frequentemente uma atividade solitária, oferece menos oportunidades para as crianças praticarem essas habilidades cruciais.

Um estudo publicado no início deste ano no JAMA Network Open descobriu que pré-escolares que passavam duas ou mais horas por dia em telas tinham níveis significativamente mais baixos de bem-estar psicológico em comparação com aqueles que tinham apenas uma hora de tempo de tela. Essas crianças eram menos propensas a demonstrar curiosidade, resiliência e emoções positivas—indicadores-chave de desenvolvimento saudável—e mais propensas a apresentar problemas comportamentais como hiperatividade e agressividade.

Essas descobertas estão alinhadas com preocupações mais amplas na comunidade médica sobre o impacto do tempo de tela nas mentes jovens. A Academia Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente recomenda limitar o tempo de tela não educacional para crianças de 2 a 5 anos a no máximo uma hora por dia durante a semana e três horas nos fins de semana, enfatizando a importância da moderação.

Em contraste, a Academia Americana de Pediatria sugere que a qualidade das interações com a mídia digital é mais importante do que aderir a limites de tempo rigorosos.

“Não há evidências suficientes demonstrando um benefício das diretrizes específicas de limitação de tempo de tela”, diz a declaração de posição.

Dicas para gerenciar o tempo de tela em pré-escolares

Fitzpatrick enfatiza a importância de gerenciar o tempo de tela de maneira cuidadosa para apoiar o desenvolvimento saudável em pré-escolares. Ela sugere envolver as crianças em atividades que desenvolvam habilidades de regulação emocional, como leitura compartilhada de livros e brincadeiras imaginativas.

“As tecnologias para crianças não devem incluir recursos como reprodução automática, que podem levar a períodos mais longos de envolvimento do usuário”, aconselha Fitzpatrick. Em vez disso, ela recomenda optar por designs tecnológicos que incentivem o uso conjunto entre a criança e o cuidador, ampliando as oportunidades de aprendizado.

Ela sugere que os cuidadores estabeleçam um plano familiar de uso da mídia para definir regras claras em relação ao tempo de tela e garantir que as crianças sejam expostas a conteúdo educacional de alta qualidade. Desativar a reprodução automática e outros recursos que possam atrair as crianças a continuar visualizando conteúdo também é aconselhável. Incentivar as crianças a desligar o tablet quando terminarem sua atividade pode ajudá-las a desenvolver melhor a autorregulação.

“Pais e educadores podem garantir que as crianças usem as telas nos contextos certos”, observa Fitzpatrick, acrescentando que as telas devem ser evitadas durante as refeições e rotinas de dormir. Ela também destaca a importância de modelar um uso equilibrado da mídia, sugerindo que pais e educadores limitem seu próprio tempo de tela na presença das crianças.

Ao estabelecer limites claros e dar o exemplo, os cuidadores podem ajudar as crianças a desenvolver relações mais saudáveis com a tecnologia. Em última análise, evitar o uso de telas como uma ferramenta para acalmar ou tranquilizar as crianças é crucial para promover a resiliência emocional a longo prazo.