Estudos recentes sugerem que pesadelos frequentes podem ser mais do que simples distúrbios do sono: eles serviriam como um sinal precoce de problemas sérios na saúde cerebral, especialmente entre adultos mais velhos.
Um estudo realizado por pesquisadores do Imperial College London trouxe à tona uma conexão entre sonhos angustiantes e o risco de declínio cognitivo, incluindo demência, em diferentes faixas etárias.
Apresentada na Academia Europeia de Neurologia, a pesquisa monitorou dois grupos: 605 adultos de meia-idade acompanhados por mais de 13 anos e 2.600 idosos seguidos por sete anos.
De acordo com os dados, indivíduos que relataram pesadelos frequentes, pelo menos uma vez por semana, apresentaram risco maior de comprometimento cognitivo. Para os adultos de meia-idade, o risco foi quatro vezes maior. Já nos idosos, a probabilidade de desenvolver demência mais que dobrava.
Além dos fatores emocionais, como estresse, ansiedade e depressão, que são conhecidos por desencadear sonhos perturbadores, o estudo sugeriu que a genética também desempenha um papel crucial.
Parkinson e TDAH
Certos genes podem predispor algumas pessoas a ter pesadelos mais frequentes, aumentando, assim, a vulnerabilidade a doenças cerebrais, como a demência. Isso aponta para uma relação complexa entre os pesadelos e a saúde cerebral, com possíveis implicações no diagnóstico precoce de doenças neurodegenerativas.
Pesadelos também têm sido associados a outras condições neurológicas. Pesquisas anteriores já haviam identificado uma ligação entre sonhos angustiantes e a doença de Parkinson.
Agora, os cientistas sugerem que essa conexão pode se estender a outras doenças, como doenças autoimunes, incluindo lúpus, e até transtornos neurológicos em crianças, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Essas descobertas estão levando os especialistas a repensar o tratamento dos pesadelos. Tradicionalmente considerados apenas como um sintoma de distúrbios emocionais, os pesadelos agora começam a ser encarados como uma possível janela para a saúde cerebral.
Perspectivas e intervenções
Segundo os estudiosos, profissionais de saúde devem prestar mais atenção aos relatos de pesadelos, principalmente em pacientes mais velhos, tratando-os como um possível indicativo de declínio cognitivo iminente.
Identificar pesadelos frequentes poderia abrir portas para intervenções precoces, que poderiam ajudar a reduzir o risco de demência ou outros problemas cognitivos.
A ideia de que esses sonhos perturbadores podem servir como um alarme para doenças cerebrais traz novas perspectivas para o diagnóstico e o tratamento de condições neurológicas, oferecendo uma chance de prevenir o avanço do declínio cognitivo, antes que ele se torne irreversível.
Com esses avanços, os pesadelos ganham um novo significado na medicina, apontando para a importância de monitorar a saúde cerebral desde cedo, bem como tratar possíveis sinais de alerta com a seriedade que eles merecem.