Um avanço significativo na saúde neonatal do Brasil está em andamento com o desenvolvimento de um novo teste do pezinho. O teste é capaz de detectar mais de 50 doenças em recém-nascidos.
Desenvolvido pela startup Immunogenic em parceria com o programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da Fapesp, o teste já está em uso em algumas localidades, como São Paulo. Ele representa uma evolução considerável em relação ao teste tradicional, que atualmente identifica apenas seis enfermidades.
O teste do pezinho é uma parte essencial da triagem neonatal desde os anos 1970 no Brasil. Tornou-se obrigatório em 1992. A coleta de sangue do calcanhar do bebê, que é rápida e minimamente invasiva, permite diagnosticar diversas doenças genéticas e imunológicas.
Com o novo exame da Immunogenic, é possível detectar condições graves como a atrofia muscular espinhal (AME) e a imunodeficiência grave combinada (SCID). Essas doenças exigem tratamento imediato para garantir um desenvolvimento mais saudável do bebê.
Antonio Condino-Neto, líder do projeto e professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, destaca que a nova tecnologia foi pensada para atender às especificidades do brasileiro.
“São bons testes, mas nós estamos calibrando há 15 anos o DNA brasileiro, que é diferente dos DNAs de outros países”, explicou.
Essa especificidade se torna fundamental para garantir o diagnóstico precoce e a aplicação de terapias adequadas.
O novo teste é também mais acessível financeiramente, o que abre portas para sua utilização em uma escala maior.
Atualmente, a triagem neonatal ampliada com este teste está disponível em alguns serviços públicos do município de São Paulo. Mais de 8 mil bebês são testados todos os meses.
A próxima etapa do projeto envolve o registro na Anvisa e a busca de parceiros para ampliação da produção. O objetivo é levar o exame para outras regiões do país e também internacionalmente.
Uma lei sancionada em 2021 determina que, até 2026, todos os serviços de saúde no Brasil ofereçam a versão ampliada do teste do pezinho.
Contudo, para que isso se torne realidade, é necessário que o exame entre no rol de cobertura obrigatória da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Assim, os planos de saúde poderiam cobrir os custos.
Condino-Neto acredita que a conscientização popular e a pressão por parte da população são essenciais para que o teste seja disponibilizado amplamente.
“A cobertura pelos planos de saúde pode aliviar as contas do SUS”, afirma Condino-Neto.
O teste não é apenas uma ferramenta de diagnóstico, mas um passo importante para melhorar a qualidade de vida e o prognóstico de bebês em situação de vulnerabilidade genética. Ele assegura um início de vida mais saudável e promissor.