Cientistas anunciaram que um homem de 60 anos, de Berlim, Alemanha, é a sétima pessoa no mundo a ser curada do HIV após um transplante de células-tronco, realizado há quase seis anos. O diferencial deste caso é que, ao contrário da maioria, as células do doador não foram geneticamente modificadas para resistir ao vírus.
O caso foi um dos principais destaques na 25ª Conferência Internacional sobre AIDS, realizada em Munique no final de julho, conforme publicou a Scientific American. O relato desafia a crença anterior de que a mutação genética era essencial para a cura do HIV.
A maioria dos pacientes curados do HIV com transplante de células-tronco recebeu células com uma mutação genética específica, conhecida como CCR5-delta32, que confere resistência natural ao vírus.
No caso do paciente alemão, as células-tronco do doador tinham apenas uma cópia do gene mutado, o que resulta em níveis mais baixos de expressão do CCR5.
Tentativas anteriores de transplantes de células-tronco de doadores com genes CCR5 normais foram frustradas pelo reaparecimento do HIV semanas ou meses após a interrupção da terapia antirretroviral, com exceção de um paciente em Genebra, na Suíça.
Com cerca de 10% das pessoas de ascendência europeia possuindo pelo menos uma cópia mutada do gene CCR5, essas novas descobertas podem “ampliar o horizonte” quanto às opções de tratamento de HIV, como destacou a médica e pesquisadora que estuda o HIV na Universidade da Califórnia, em San Diego, Sara Weibel.
No entanto, esse procedimento, geralmente usado para tratar leucemia, continua sendo uma solução arriscada e não viável para a maioria dos pacientes com HIV.
O primeiro “Paciente de Berlim”
O primeiro caso de cura do HIV foi o de Timothy Ray Brown, um alemão que ficou conhecido como o “Paciente de Berlim”.
Em 2007, ele recebeu um transplante de medula óssea não com a intenção de curar o HIV, mas para tratar uma leucemia. Porém, a confirmação de que estava livre do vírus começou a ser reconhecida no ano seguinte.
Outros pacientes também receberam células-tronco de doadores com uma mutação no gene CCR5, que codifica um receptor usado pela maioria das cepas do HIV para infectar células imunológicas. Isso levou os cientistas a considerar essa mutação como a melhor esperança para a cura do vírus até agora.
O próximo “Paciente de Berlim”
O novo estudo foi apresentado no Congresso de Munique deste ano pelo médico-cientista e imunologista da Universidade de Medicina de Berlim, Christian Gaebler.
O homem alemão, que agora é chamado de o próximo “Paciente de Berlim”, foi diagnosticado com HIV em 2009 e, em 2015, desenvolveu leucemia mieloide aguda.
Os médicos não conseguiram encontrar um doador de células-tronco com mutações em ambas as cópias do gene CCR5. No entanto, encontraram uma doadora com uma cópia mutada, semelhante à do paciente. Em um mês, as células-tronco dele foram substituídas pelas da doadora.
Três anos depois, em 2018, o paciente interrompeu o uso dos medicamentos antirretrovirais que controlam o HIV e, desde então, não há sinais de replicação do vírus.
Desafios e riscos
No entanto, para a médica especialista em doenças infecciosas, Sharon Lewin, que lidera o Instituto Peder Doherty de Infecção e Imunidade em Melbourne, na Austrália, o novo caso relatado mostra que encontrar a cura para o HIV “não se resume apenas ao CCR5”.
O transplante de células-tronco envolve riscos significativos, como rejeição do enxerto, infecções e a possibilidade de desenvolver câncer devido a mutações. Atualmente, cerca de 40 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo.