De acordo com pesquisadores do Conselho de Pesquisa Nacional da Espanha, a música está realmente mais alta e menos variada do que nunca.
Nos últimos 50 anos, canções pop se tornaram “intrinsecamente mais alta e menos variada em termos de acordes, melodias e tipos de sons usados”, afirma o estudo. Uma sonoridade intrínseca é aplicada a músicas durante a gravação, fazendo-a soar mais alto que outras músicas mesmo estando no mesmo volume. O estudo, que aparece na revista Scientific Reports (Relatórios Científicos), explica que os músicos usam este método quando falta inspiração durante o processo de produção.
Música alta e menos interessante é realmente uma preocupação? Afinal, nós vivemos num mundo mais barulhento do que nunca e muitos gostam de música muito alta.
De uma perspectiva da saúde, música alta pode causar dano permanente aos nossos ouvidos.
O som se traduz em energia. A energia produzida pelo grito de uma multidão durante um emocionante jogo de futebol – digamos 50 mil pessoas em um jogo de 90 minutos – é o suficiente para aquecer um copo de café, de acordo com o livro “Sound: from communication to noise pollution (Som: da comunicação à poluição sonora) de Graham Chedd.
A maioria de nós começa com a audição muito sensível e que pode distinguir mais de 350 mil sons diferentes, incluindo o de um mosquito zumbindo fora da janela.
O volume dos níveis sonoros é medido em decibéis (dB). O site “Dangerous Decibels” (Decibéis Perigosos) relata que sons de 85 dB podem danificar a audição. Uma escavadeira em marcha lenta de 85 dB podem causar danos em apenas um dia de trabalho.
Música de rock alta registra 115 dB e pode causar danos num tempo muito mais curto.
Ouvir música com fones de ouvido e um sistema de som no volume máximo pode gerar níveis sonoros acima de 100 dB, alto o suficiente para começar a causar danos permanentes após 15 minutos por dia, apenas. O som de um tiro (140 – 190 dB, dependendo da arma) pode danificar a audição imediatamente, de acordo com o “Dangerous Decibels”.
Diríamos, então, que crianças expostas ao rock tem a audição bem parecida com veteranos de guerra que estiveram expostos à artilharia.
Estudos de comunidades na África revelaram um ambiente estranhamente calmo de 35 dB, o equivalente a um sussurro normal, de uma casa tranquila ou de um escritório. A tribo de Mabaan do sudeste do Sudão, por exemplo, tem uma audição extremamente sensível, mesmo quando eles são muito velhos, de acordo com um estudo realizado em 1962 por Rosen et. al.
Conforto ou estímulo?
Embora a música tenha sido considerada uma forma de confortar os ouvintes e músicos, alguns se queixam que hoje em dia todas as músicas soam parecidas.
Esta queixa decorre da progressão I-IV-V de acordes na música pop. Os acordes repetitivos levam alguns ao aborrecimento, enquanto a mesma estrutura traz conforto e prazer para outros.
Quando as crianças têm cinco anos de idade, elas já aprenderam a reconhecer as progressões de acordes na música de sua cultura. Durante os anos de infância de 1 a 12 meses, eles ainda têm de categorizar as progressões de acordes da música da sua própria cultura. Assim, depois dos 5 anos, progressão de acordes de outras culturas podem soar estranhas.
Por exemplo, para um público ocidental, música persa pode soar estranho quando ouvida pela primeira vez, mas não soa de modo estranho para Persas ou crianças.
Talvez a música alta de hoje ofereça mais conforto para aqueles menos familiarizados com as obras clássicas ou músicas orientais. Além de músicos treinados academicamente, poucos ouvem ou compreendem músicas que duram mais de quatro minutos.
Sonatas podem durar 20 minutos e são preenchidas com uma variedade de progressões de acordes. Além disso, eles são executados em níveis de volume muito mais baixos do que os níveis de decibéis de shows de rock.
A estimulação da música alta compensa a chata qualidade de sua repetição?
Sons altos podem ser o suficiente para encher nossos ouvidos e acionar nosso cérebro para fazer-nos sentir a excitação que toma o lugar do nosso deleite em complexas formas musicais.
O neurocientista Daniel Leviti, autor do livro “This is your brain on music” (Este é o seu cérebro com a musica), explica “que a música alta satura o sistema auditivo, fazendo com que os neurônios descarreguem em sua taxa máxima. Quando muitos, muitos neurônios são maximamente descarregados, isso poderia causar uma propriedade emergente, um estado cerebral qualitativamente diferente de quando eles estão descarregando em taxas normais”.
Frequentadores de shows expressaram que alcançam um estado especial de consciência, um sentimento de emoção e excitação, quando a música é muita alta – acima de 115 dB.
Por outro lado, ela alta em si só, pode proporcionar conforto.
O compositor canadense R. Murray Schafer é também um ambientalista. Ele pode ser mais conhecido pelo seu projeto “World Soundscape” (Projeto Paisagem Sonora Mundial) e seu livro “The Tuning of the World” (A afinação do mundo) (1977), que discute a música nos tempos modernos.
Schafer explica que como a musica se afastou dos concertos e foi parar em áudios de gravação, os ouvintes podem experimentar a musica num ambiente mais confortável, familiar e isolado por fones de ouvido e musica.
Neste cenário, a música age como uma parede de som. Este sentimento de conforto pode ser relacionado com a constante busca humana por segurança, como primeiramente nos sentimos quando isolados no útero da mãe.
No entanto, experts explicam que enquanto aumentamos o volume, nos afastamos da música que é mais reflexiva e meditativa.
Elaine Teguibon é pianista e educadora musical