O mito da soja saudável: os prejuizos da soja para a saúde

02/03/2015 08:00 Atualizado: 12/03/2018 13:23

No mercado norte-americano rotular como “bom para a saúde” é um privilégio raro.

É preciso ser cuidadoso para não sugerir benefícios à saúde até mesmo com ervas e suplementos usados por milhões de pessoas para tratar doenças. Em 2012 a Diamond Foods pagou 2,6 milhões de dólares por publicidade enganosa por afirmar que as nozes promovem a saúde do coração.

Ainda que muitos alimentos possam demonstrar ser benéficos para a saúde, poucos podem legalmente fazer propaganda disso. Esta distinção é a grande razão pela qual o outrora humilde grão de soja se tornou tão popular.

A soja foi por muito tempo considerada barata e de pouco valor; algo que só pobres e híppies comiam. Quando o U.S. Food and Drug Administration (FDA) permitiu a uma marca afirmar que uma dieta contendo 25 gramas de proteína de soja “pode reduzir o risco de doença cardíaca” o consumo de soja subiu rapidamente.

A chave do sucesso culinário da soja tem sido os inúmeros estudos positivos a seu respeito. Um após outro, os estudos revelam que se trata de um super-alimento milagroso, bom para baixar o colesterol, aliviar sintomas da menopausa e até prevenir o câncer. Em 2013, um panfleto do United Soybean Board afirmava que quase metade dos consumidores dos EUA procuram alimentos de soja devido aos benefícios para a saúde associados aos feijões de soja com alto nível de proteína.

Contudo, há quem avise que o consumo de soja pode dar origem a problemas de saúde.

Quando o FDA concedeu à soja o direito de ser anunciada como saudável para o coração, em 1999 dois peritos em soja, da própria agência, criticaram a decisão. Os investigadores do FDA , Dr. Daniel Doerge e Dr. Daniel Sheehan escreveram uma carta em protesto, onde apontavam estudos que demonstram problemas de saúde significativos relacionados com a soja, classificando-a como “uma espada de dois gumes, contendo benefícios e riscos”.

Em 2008, a fundação para a educação Weston A. Price (WAPF), enviou uma petição publica junto ao FDA apelando para os reguladores retirarem o crédito à soja como preventivo de doenças, para o bem da saúde pública. A petição com 65 páginas inclui estudos e comentários de investigadores realçando sérios problemas com a soja e sugerindo que seria mais apropriado classifica-la como um risco à saúde do que como um agente de cura.

Depois de mais de seis anos, e ainda sem resposta da FDA, a WAPF está processando judicialmente a agência para que esta dê resposta à petição.

“Eles devem responder à petição em seis meses. Esta é a lei.”, diz a presidente da WAPF, Sally Fallon-Morell. “Nunca obtivemos resposta. Finalmente, foi nos dada uma bolsa para pagar alguns advogados e levar isto ao tribunal para que possamos obter uma audiência”.

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Coma com precaução

De acordo com o FDA, a proteína de soja “pode substituir parcialmente ou ser usada em adição à proteína animal ou outras fontes de proteína vegetal na dieta humana”, mas reguladores de outros países tomaram uma atitude mais cautelosa. A Suíça, o Reino Unido, a França e a Alemanha, publicaram avisos contra o consumo de soja, especialmente para crianças.

Após uma extensa investigação, em 2005 o Ministério da Saúde de Israel, instou para que o consumo de soja fosse minimizado devido aos seus efeitos adversos sobre a fertilidade e ao risco aumentado de câncer de mama.

Fallon-Morell diz que os reguladores dos EUA são relutantes em dizer algo negativo sobre a soja porque a mesma é uma parte fundamental do sistema alimentar americano.

“Todo este oleo de soja é usado em comidas processadas e é o que mantém o preço da comida muito barato nos EUA. Nós temos uma espécie de economia baseada em soja, e uma indústria da soja muito poderosa”.

Em 2004, o fabricante de proteína de soja Solae fez uma requisição para obter outro direito de rotulagem que permite afirmar que comida à base de soja pode prevenir câncer. Contudo a resistência dos peritos em nutrição forçaram a Solae a abandonar estes planos antes que os reguladores pudessem aprová-lo. “Nós submetemos um documento opondo-nos e demonstrando que é mais provavel que a soja seja capaz de provocar câncer, ao invés de preveni-lo”, afirmou Fallon-Moreel. “Depois de duas ou três tentativas, o pedido de rotulagem foi retirado”.

A história da soja nos EUA

Os EUA tem usado soja para alimentar o gado e produzir óleo de soja há mais de 100 anos. Até 1940, os Estados Unidos importavam o grosso dos seus feijões de soja da China (a terra nativa da soja). Os agricultores americanos aumentaram a produção doméstica durante a Segunda Grande Guerra, quando o conflito com o Japão cortou o abastecimento. Hoje em dia, a soja é quase tão produzida quanto o milho, que é a produção principal dos EUA.

A ideia de que a soja era comida para animais e agora é um super-alimento começou quando cientistas de alimentos desenvolveram um processo parcial de hidrogenação, um processo químico usado para solidificar o óleo vegetal, para o qual a soja seria o principal candidato. Devido ao baixo custo, longa validade e a crença de que se tratava de uma alternativa saudável à gordura saturada, o óleo de soja hidrogenado dominou o mercado da comida processada.

Depois vieram os cereais de soja, a farinha e o “bife” de soja. Quando se extrai o óleo de soja, resta um subproduto altamente proteico, que era usado como adesivo industrial antes de decidirem promovê-lo a alimento: o único obstáculo era a imagem pública.

Nos anos 1970, a maior parte dos norte-americanos instintivamente rejeitava alimentos baseados em soja. Mas o marketing gradualmente ultrapassou a resistência do consumidor, introduzindo a ideia de que a soja é um alimento de classe superior, validado pela ciência e muito estimado no oriente.

Soja fermentada

O nattô é a soja que sofreu um processo de fermentação. Tem um gosto levemente amargo e é altamente benéfico para o sistema digestório, além de desinflamar o estômago [Father.Jack from Coventry, UK (Nattō Uploaded by Fæ)/Wikimedia Commons]
O nattô é a soja que sofreu um processo de fermentação. Tem um gosto levemente amargo e é altamente benéfico para o sistema digestório, além de desinflamar o estômago [Father.Jack from Coventry, UK (Nattō Uploaded by Fæ)/Wikimedia Commons]
A ideia que prevalece de que a soja faz parte da dieta asiática há milénios é uma fábula que tem origem no marketing norte-americano. Na verdade, os antigos chineses usavam a soja mais como fertilizante do que como alimento.

A soja é, na verdade, um advento recente na dieta asiática. De fato, os chineses não começaram a comer soja até terem descoberto os meios de fermentá-la.

De acordo com a nutricionista e autora de The Whole Soy Story (A história completa da soja), Dra. Kaayla Daniel, os antigos alimentos de soja, tais como o missô, o nattô, shoyu e tempeh são genuinamente saudáveis devido à fermentação, que neutraliza a maior parte dos aspetos problemáticos da soja.

É uma questão tanto de quantidade como de qualidade. Daniel afirma que nas dietas tradicionais asiáticas a soja era primariamente utilizada como condimento. Uma investigação nos anos 1930 descobriu que os chineses obtinham somente 1,5 % da sua dose diária de calorias a partir da soja, comparado com 65% a partir do porco.

Devido ao forte sabor, os produtos fermentados a partir da soja são naturalmente consumidos em pequenas porções. “Uma pessoa não vai comer algo como nattô várias vezes ao dia”, afirma Daniel.

Contudo, a moderna proteína de soja convertida na forma de hamburger, nugget, barras de chocolate e outras comidas divertidas é mais passível de ser consumida em quantidades substanciais. Daniel afirma que comer muitos destes tipos de produtos de soja é o que provoca problemas de saúde.

“Coisas como proteína isolada de soja, concentrado de proteína de soja, proteína vegetal texturizada, proteína vegetal hidrolizada não são absolutamente alimentos de soja tradicionais, e provocam múltiplos riscos de saúde – sejam a partir dos feijões de soja e como da processada”, afirmou. “Se algum produto de soja for recomendado, os únicos que podemos apoiar são aqueles produtos antigos”.

Soja e a tiróide

Aqueles que regularmente consomem os modernos alimentos de soja frequentemente se queixam de problemas digestivos, mas um número de doenças endócrinas também têm sido associadas com o consumo e soja, especialmente problemas de tiróide. Daniel diz que para muitos a soja baixa os níveis funcionais da tiróide, levando a aumento de peso e letargia. Para outros a soja pode estimular a tireóide, ou desencadear problemas auto-imunes dessa glândula, como a doença de Hashimoto. “Temos uns bons 70 anos de estudos que demonstram que a soja provoca efeitos adversos na tiroide”, afirma.

Daniel aconselha que quem tem problemas na tiroide abdique da soja, assim como crianças, pessoas com problemas de peso, doenças de coração, mulheres com histórico de câncer, ou casais que sofrem de infertilidade.

Alguns fatos sobre a soja

Em 2011, mais de três bilhões de sacas de feijão de soja foram colhidos de cerca de 74 milhões de acres nos EUA, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA. A soja tem sido fortemente subsidiada e a maior parte da colheita serve para alimentar gado.

Henry Ford incentivou um futuro para os alimentos, o plástico e os tecidos à base de soja. Ford usava um terno feito de lã de soja para promover a sua ideia, mas o material provocava tanta coceira que ele não conseguia utilizá-lo por muito tempo.

Hoje a soja é usada para fazer tintas, produzir materiais de construção, combustíveis, lápis de cera e lubrificantes.

Sabe-se à muito tempo que a soja pode diminuir o desejo sexual. “Monges budistas aprenderam que quando o consumo de tofu aumentava, o comportamento inapropriado diminuía. Por isso era recomendado para ajudar a manter o celibato”, diz Daniel.

A soja transgênica foi introduzida nas fazendas norte-americanas em 1997. Em 2007, mais de 90 por cento das colheitas de soja dos EUA já eram geneticamente modificadas. O principal objetivo disso era torná-las resistentes aos herbicidas.

 

Conan Milner, Epoch Times