Microplásticos encontrados no cérebro humano pela primeira vez

Um novo estudo brasileiro revela que os microplásticos podem entrar no cérebro humano através do nariz, com impacto desconhecido na função cerebral.

Por Cara Michelle Miller
18/09/2024 01:19 Atualizado: 18/09/2024 01:19
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Pela primeira vez, os pesquisadores encontraram microplásticos no cérebro.

O mais recente estudo, publicado em 16 de setembro no JAMA, identifica microplásticos no bulbo olfatório – a região do cérebro localizada acima do nariz e responsável pelo nosso olfato. Esta descoberta levanta novas preocupações de que estas pequenas partículas possam estar escapando das barreiras protetoras do cérebro e entrando em regiões cerebrais mais profundas, prejudicando potencialmente a saúde cerebral e a função neurológica.

“Nossa análise dos bulbos olfativos de pacientes falecidos em São Paulo confirmou a presença de microplásticos”, disse a médica e pesquisadora principal Thais Mauad ao Epoch Times. Isto sugere uma rota potencial para essas partículas entrarem no cérebro.

Mauad também destacou a incerteza em torno dos efeitos dessas descobertas na saúde. “Ainda não sabemos as consequências”, disse ela, observando que estudos em animais sugerem potencial neurotoxicidade e ligações a doenças neurodegenerativas.

Embora microplásticos tenham sido encontrados em vários tecidos do corpo, incluindo os pulmões, intestino, fígado, placenta, testículos, e corrente sanguínea, a investigação sobre os seus riscos para a saúde ainda está numa fase inicial. Mais estudos são necessários para compreender os potenciais impactos na saúde.

Plástico cerebral de itens do dia a dia

As minúsculas partículas de plástico encontradas nos bulbos olfativos do cérebro humano estão frequentemente presentes em itens de uso diário, como embalagens de alimentos e roupas. Dada a presença generalizada destas partículas no ar, Mauad e os investigadores propuseram que as pessoas podem estar recebendo microplásticos nos seus cérebros ao inalá-los pelo nariz, semelhante à forma como certas partículas de poluição do ar entram no cérebro.

O plástico não se decompõe completamente; ele se transforma em pedaços menores com o tempo, contaminando o ar, os alimentos e a água.

Mauad disse que as pessoas estão expostas a mais plásticos quando estão dentro de casa.

“Estamos massivamente expostos a microplásticos”, disse ela. “Respiramos mais dentro de casa do que fora de casa.”

Os pesquisadores examinaram os cérebros de 15 indivíduos falecidos, com idades entre 33 e 100 anos, e encontraram microplásticos nos bulbos olfativos de oito deles. O plástico mais comum encontrado foi o polipropileno, representando quase 44% das amostras. O polipropileno é usado em itens como recipientes para alimentos, canudos e algumas fibras de roupas. Outros plásticos encontrados incluem:

Nylon/poliamida: Utilizado em roupas, carpetes e produtos industriais.

Polietileno: Encontrado em sacos plásticos, garrafas e recipientes.

Polietileno vinil acetato (EVA): Utilizado em embalagens flexíveis e alguns calçados.

Os microplásticos mediam entre 5,5 e 26,4 micrômetros – muito menores que a poeira muito fina. Para colocar isto em perspectiva, dividir a largura de um fio de cabelo humano em 13 segmentos é aproximadamente o tamanho dos menores microplásticos encontrados.

Ultrapassando a barreira do cérebro

Há uma pequena passagem no nariz que permite que os nervos olfativos cruzem do nariz até o cérebro, disse Mauad, professor de medicina do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

Ela suspeita que os microplásticos possam entrar no cérebro pela mesma via. Esta via direta pode permitir que partículas de plástico entrem no cérebro sem passar pela barreira hematoencefálica, que atua como um escudo protetor para impedir o cérebro de substâncias nocivas.

As partículas microplásticas podem interagir com os nervos olfativos através deste túnel, disse ela.

Estudos em animais mostraram que os microplásticos podem afetar áreas do cérebro envolvidas no processamento sensorial e na memória.

As vias nariz-cérebro foram observadas com partículas de poluição do ar por carbono, sugerindo que os microplásticos podem fazer o mesmo. Alguns estudos em animais indicam que os microplásticos podem potencialmente atravessar a barreira hematoencefálica e afetar várias áreas do cérebro.

Implicações para a saúde além dos microplásticos

O problema do plástico não são apenas os microplásticos, disse Mauad. São também todos os aditivos que estão no plástico. Esses aditivos, usados ​​para conferir propriedades como cor e resistência ao calor, podem ser prejudiciais. Alguns são cancerígenos ou atuam como desreguladores endócrinos e podem ser libertados quando os plásticos são aquecidos, como no microondas.

Além disso, “a presença de partículas microplásticas não digeríveis com aditivos pode provocar reações”, particularmente num cérebro em desenvolvimento, acrescentou.

Além disso, pesquisas anteriores relacionaram partículas finas no ar a problemas cerebrais, como demência, com algumas doenças como o Parkinson potencialmente começando com sintomas nasais. Tanto o material particulado fino quanto os microplásticos demonstraram potencial para impactar negativamente o desenvolvimento do cérebro em experimentos, de acordo com o estudo.

Para minimizar a exposição aos microplásticos, Mauad recomenda:

Limitar o uso de plásticos: Reduzir o uso de recipientes e embalagens plásticas, especialmente para alimentos e bebidas.

Escolhendo fibras naturais: Opte por roupas e tecidos feitos de materiais naturais em vez de fibras sintéticas.

Evite aquecer plásticos: Evite colocar alimentos no micro-ondas em recipientes de plástico ou usar filme plástico no micro-ondas.