Horário de verão pode aumentar riscos cardiovasculares, diabetes, acidentes e até suicídio, afirmam estudos

Segundo pesquisadores, a mudança altera os ritmos biológicos, afetando a produção de hormônios essenciais para o bem-estar.

Por Matheus de Andrade
27/09/2024 18:04 Atualizado: 27/09/2024 18:04

Estudos recentes apontam que o horário de verão pode causar impactos negativos na saúde humana. A mudança brusca no relógio provoca uma desorganização nos ritmos circadianos, que controlam funções como o sono e o humor.

O principal problema é a dificuldade de adaptação do corpo à nova rotina. Os ritmos biológicos seguem o ciclo claro/escuro, não o horário social. A alteração no ciclo natural do sono pode causar cansaço extremo, falta de concentração e aumentar o risco de acidentes.

Um estudo da revista Acta Physiologica sugere que a privação de sono e o estresse causados pela mudança de horário estão diretamente ligados a um aumento nos casos de infarto nos primeiros dias do horário de verão, com pesquisas indicando que essa alteração afeta o funcionamento do sistema cardiovascular.

Também foi mostrado que a desorganização dos ritmos circadianos pode agravar condições como diabetes e obesidade. O artigo mostrou que a interrupção do ciclo sono-vigília afeta a produção de insulina e outros hormônios, aumentando o risco de problemas a longo prazo.

Segundo outro estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o horário de verão pode ter efeitos psicológicos significativos. Segundo os pesquisadores, existe relação entre maior exposição à luz e aumento nos índices de suicídio. O prolongamento da luz no final do dia pode intensificar sintomas depressivos em pessoas vulneráveis.

A exposição prolongada à luz afeta hormônios como a serotonina e a melatonina, que regula o humor e ciclo do sono. A curto prazo, isso pode aumentar a propensão a ações extremas como suicídio. Pesquisadores sugerem que a alteração biológica, somada a fatores sociais, influencia o comportamento de indivíduos com predisposição depressiva.

Há também impacto no rendimento cognitivo. Durante a adaptação, muitas pessoas relatam queda na produtividade, dificuldades de memória e maior irritabilidade. Esses efeitos são mais visíveis em pessoas com cronotipos noturnos.

O aumento de acidentes de trânsito é outra preocupação. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) correlaciona o aumento da sonolência e desatenção decorrentes da mudança no sono com um maior o risco de colisões, especialmente nas primeiras semanas do horário de verão.

A comunidade científica questiona cada vez mais os benefícios do horário de verão. Embora o objetivo seja economizar energia, estudos recentes mostram que essa economia é mínima e não justifica os prejuízos à saúde. Em muitos países, os custos com saúde e produtividade superam os ganhos energéticos.

Segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Rafael Amaral Shayani, professor de Engenharia e Mudanças Climáticas da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que o Operador Nacional do Sistema Elétrico reportou uma economia de apenas 0,5%.

“A economia gerada pelo horário de verão é pequena. Uma campanha de conscientização para o uso eficiente de energia, como reduzir o tempo de banho, pode economizar mais energia e água do que o horário de verão. Existem alternativas mais eficazes para economizar energia”, disse.

Muitos países têm reconsiderado e abandonado a adoção do horário de verão, sendo o impacto na qualidade de vida e na saúde um argumento central para a abolição dessa prática.