Exposição à gasolina com chumbo está ligada a milhões de casos psiquiátricos nos EUA, afirma estudo

Por Redação Epoch Times Brasil
09/12/2024 15:57 Atualizado: 09/12/2024 15:57

A exposição ao chumbo na gasolina durante o desenvolvimento infantil causou 151 milhões de casos psiquiátricos nos últimos 75 anos nos Estados Unidos, incluindo depressão, ansiedade, TDAH e comportamentos neuróticos. É o que estima um estudo publicado na quarta-feira (4) no Journal of Child Psychology and Psychiatry

Realizada por três instituições — Universidade de Duke, na Carolina do Norte, Universidade Estadual da Flórida e Universidade Médica da Carolina do Sul — a pesquisa analisou o impacto duradouro do chumbo da gasolina nos níveis sanguíneos de crianças, de 1940 a 2015.

De acordo com os cientistas, essa exposição fez com que gerações de norte-americanos se tornassem mais propensas à depressão, ansiedade, desatenção e hiperatividade, além de reduzir a capacidade de controle dos impulsos, aumentando a tendência à neurose.

Os testes mostraram que as diferenças na saúde mental e na personalidade foram mais evidentes em pessoas nascidas entre 1966 e 1986, especialmente entre os membros da Geração X, nascidos entre 1966 e 1970 — período de auge do uso do chumbo pela indústria automotiva para melhorar o desempenho dos motores.

Já os grupos nascidos por volta de 1940 e 2015 tiveram a menor exposição ao chumbo e, consequentemente, a menor incidência de doenças mentais relacionadas a ele.

“Eu costumo pensar na Geração X como a ‘geração do chumbo'”, disse o professor de neuropsicologia clínica da Universidade da Virgínia, Aaron Reuben, coautor do estudo. “Sabemos que eles foram mais expostos e estimamos que apresentem taxas mais altas de condições internalizantes como ansiedade, depressão e sintomas de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.”

Embora os números apresentados sejam inéditos, o estudo não é inovador. Os cientistas norte-americanos combinaram dados históricos de uma pesquisa realizada em 2019 na Nova Zelândia.

“Nos últimos 100 anos, o chumbo foi usado em uma variedade de produtos, incluindo tintas, encanamentos, soldas e, de forma mais devastadora, na gasolina”, disse o professor Michael McFarland, da Universidade Estadual da Flórida, coautor do novo estudo. 

Fim da era do chumbo nos combustíveis 

O chumbo nos combustíveis começou a ser utilizado em 1923. Nos EUA, foi banido em 1996, e no Brasil, em 1992. 

Argélia, Iémen e Iraque foram alguns dos últimos países a resistir à pressão internacional para retirar o chumbo das emissões de gases de seus veículos. Somente em 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou a proibição do chumbo em todo o mundo.

Outros produtos

Embora o chumbo tenha sido retirado da gasolina, ele ainda está presente em outros produtos, como brinquedos importados, encanamentos antigos, solos contaminados e algumas tintas, utilizadas para tornar as paredes mais vívidas e resistentes à umidade.

De acordo com a ONU, entre 2012 e 2023, o número de países com regulamentações legais obrigatórias sobre tintas com chumbo aumentou de 52 para 93. Nos EUA, o uso de tinta com chumbo é proibido desde 1978, sendo atualmente encontrada apenas nas paredes de casas antigas.

No dia 16 de outubro deste ano, a Câmara aprovou o projeto de lei do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), com um substitutivo do deputado Márcio Marinho (Republicanos-BA), que propõe a redução do limite máximo de chumbo permitido em tintas e materiais de revestimento de superfícies no Brasil. A medida agora tramita no Senado.

Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) afirmam que não há nível seguro de exposição ao chumbo. 

Segundo a agência dos EUA, mesmo em pequenas quantidades, ele pode causar dificuldades de desenvolvimento e aprendizado, afetando o cérebro e os sistemas nervoso e reprodutor. Crianças com menos de 6 anos são as mais vulneráveis ao envenenamento por esse metal pesado.