Exames cerebrais realizados dias depois de uma lesão no pescoço podem prever dor crônica

O cérebro toma a decisão sobre se um movimento deve ser doloroso ou não”, disse um dos autores do estudo.

Por George Citroner
26/10/2024 19:32 Atualizado: 26/10/2024 19:32
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Um novo estudo sugere que cientistas podem prever o desenvolvimento de dor crônica apenas três dias após uma lesão no pescoço — uma lesão causada quando o pescoço é forçado a dobrar-se para frente e depois para trás — analisando padrões de atividade cerebral e níveis de ansiedade.  

A whiplash (ou lesão por chicote) é uma lesão no pescoço que geralmente ocorre em colisões traseiras de carros e, menos frequentemente, em lesões esportivas, violência física e outros traumas.

Mais de 3,3 milhões de adultos nos Estados Unidos atualmente sofrem de dor crônica devido a whiplash , tornando-se uma preocupação significativa de saúde pública.

“A dor crônica continua sendo uma das principais causas de incapacidade e sofrimento em todo o mundo, trazendo altos custos para a saúde e a sociedade”, escreveram os autores do estudo. 

Principais regiões do cérebro mostram sinais de alerta precoce  

A pesquisa, publicada na quinta-feira na Nature Mental Health, foca na comunicação entre duas regiões críticas do cérebro: o hipocampo, que funciona como centro de memória do cérebro, e o córtex cerebral, responsável pela consolidação da memória de longo prazo.  

De acordo com o estudo, uma comunicação aumentada entre essas regiões nos dias após a lesão se correlaciona significativamente com o desenvolvimento de dor crônica.

“Embora os mecanismos subjacentes da dor crônica ainda não sejam totalmente compreendidos, os circuitos de aprendizado emocional do cérebro têm sido hipotetizados como tendo um papel importante no desenvolvimento e na persistência da dor crônica”, escreveram os pesquisadores.

Esses “circuitos” se concentram no hipocampo do cérebro, que é “responsável por consolidar novas memórias em memórias duradouras”, disse Paulo Branco, professor assistente de anestesiologia e medicina da dor na Feinberg School of Medicine da Northwestern University e primeiro autor do estudo, em um comunicado.  

Quanto mais o hipocampo se comunicava com o córtex, maior era a probabilidade de a pessoa desenvolver dor crônica, acrescentou ele.  

Níveis de ansiedade desempenham papel crucial

A pesquisa também identificou a ansiedade como um fator crítico.  

No estudo, pacientes que apresentaram níveis mais altos de ansiedade logo após o acidente mostraram uma maior probabilidade de desenvolver dor crônica. “Se a memória tem um alto significado emocional, isso faz com que esses pacientes associem esse movimento à dor”, disse Branco.

Essa ligação entre a conectividade cerebral aumentada e a ansiedade destaca o processo complexo envolvido em como percebemos a dor.

“Embora comumente pensemos na dor como relacionada apenas a uma lesão, é o cérebro que, na verdade, constrói a experiência da dor”, observou Branco. “O cérebro toma a decisão sobre se um movimento deve ser doloroso ou não.”

Os autores também não encontraram ligação significativa entre os níveis de estresse e o desenvolvimento de dor crônica.  

Mudança de foco do tratamento para a prevenção  

Os pesquisadores argumentam que compreender o momento da dor crônica poderia mudar o cenário do tratamento de uma abordagem de cura para uma de prevenção.

“Agora que sabemos que existe esse período crítico quando isso ocorre, podemos focar nossos esforços de tratamento nesse estágio inicial para prevenir a dor crônica, em vez de tentar curá-la, o que é muito mais difícil”, disse Apkar V. Apkarian, diretor do Centro de Pesquisa Translacional da Dor e autor correspondente, em um comunicado à imprensa.

“Como a ansiedade desempenha um papel importante para as mudanças no cérebro, combater a ansiedade logo após a lesão pode ser capaz de interromper essas mudanças, possivelmente por meio de medicamentos contra a ansiedade ou outros tratamentos”, acrescentou Apkarian.

A pesquisa pode abrir novas possibilidades para tratamentos focados na atividade e conectividade do hipocampo, observou ele.  

Início da dor foi rastreador até o momento da lesão

O estudo longitudinal de grande escala, realizado em colaboração com o Instituto de Tecnologia de Israel (Technion) e a Universidade McGill, acompanhou mais de 200 pacientes com lesões de chicote de março de 2016 a dezembro de 2021. Desses participantes, 177 realizaram ressonância magnética (RM) em até três dias após a lesão.

Essa população de pacientes forneceu aos pesquisadores a oportunidade de estudar mudanças cerebrais iniciais, pois eles puderam rastrear precisamente o início da dor até o momento do acidente. Os pesquisadores monitoraram os níveis de dor dos participantes ao longo de 12 meses para determinar quem desenvolveu dor crônica e quem se recuperou.

A equipe de pesquisa planeja investigar mais a fundo os mecanismos que impulsionam a resposta do hipocampo à lesão, examinando diversos fatores fisiológicos e psicológicos que podem influenciar essas mudanças. O objetivo é desenvolver intervenções precoces que possam efetivamente direcionar respostas disfuncionais.

As implicações desta pesquisa vão além do cuidado individual com o paciente. A dor crônica representa desafios consideráveis não apenas para os indivíduos afetados, mas também para a sociedade em geral, e pode levar ao aumento da dependência de opioides, contribuindo para uma epidemia nacional de opioides. Os resultados deste estudo podem informar novas estratégias preventivas para melhorar a qualidade de vida daqueles que vivem com dor crônica.