Efeitos do álcool no corpo após a musculação: brindes que podem custar caro

Por Igor Iuan
22/10/2024 20:41 Atualizado: 23/10/2024 10:01

Comemorar conquistas depois de um treino intenso é hábito comum entre quem pratica atividades físicas. Para muitos, a cerveja se torna a escolha ideal para brindar, não apenas pela sensação de euforia, mas também devido à crença de que ela ajudaria na recuperação dos líquidos perdidos durante o exercício. 

No entanto, especialistas alertam para os riscos associados ao consumo de álcool após a musculação, questionando se essa prática pode realmente ser benéfica, ou se, ao contrário, pode comprometer os resultados do treinamento.

Ana Beatriz Baptistella, especialista em nutrição esportiva, Matheus Schettini de Carvalho, endocrinologista, e Paula Maduro, profissional de educação física, recomendam alertas sobre os riscos do consumo de álcool após a musculação.

Os profissionais reforçam a necessidade de um olhar atento sobre os hábitos alimentares e de vida, principalmente para aqueles que levam a sério seus treinos e objetivos.

Comportamento dos atletas e consumo

Pesquisas indicam que atletas universitários consomem mais álcool se comparados àqueles que não praticam esportes. Além disso, muitos desses jovens se entregam ao binge drinking — ato de beber grandes quantidades alcoólicas num curto espaço de tempo.

Um estudo publicado no International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism revela que 80% das mulheres atletas da primeira divisão consomem cerveja, destacando uma forte associação entre bebida e esporte.

Todavia, o que pouco se divulga são os efeitos agudos do álcool no organismo.

Comprometimento cognitivo

Um dos primeiros impactos do álcool no corpo é o comprometimento das funções cognitivas. Mesmo pequenas quantidades podem afetar a atenção, controle e capacidade de julgamento, habilidades essenciais para qualquer tipo de atividade esportiva.

Esse efeito aumenta o risco de lesões, tornando o “brinde” um verdadeiro risco à saúde.

Prejuízo na síntese proteica

A síntese proteica é fundamental para o crescimento muscular, pois permite a absorção de nutrientes essenciais após o treino. A musculação causa microlesões nos músculos, que precisam ser reparadas para o crescimento. 

Entretanto, o consumo de álcool pode prejudicar esse processo, inibindo a construção de novas fibras musculares e alterando as taxas hormonais.

Isso resulta numa diminuição da testosterona, que é vital para o aumento da massa muscular, e um aumento do cortisol, que pode contribuir para a degradação muscular.

Desidratação acelerada

Muitos acreditam que a cerveja pode ajudar a repor os líquidos perdidos durante o treino. Porém, o álcool inibe o hormônio antidiurético, o que leva a um aumento da frequência urinária e, consequentemente, à desidratação. Essa condição é prejudicial para a função muscular e a recuperação após o exercício.

Recuperação lenta e inflamação

O álcool também é uma substância tóxica que pode elevar os níveis de inflamação no corpo e promover a produção de radicais livres. Isso não só agrava danos musculares existentes, mas também retarda o processo de recuperação, que é crucial para a continuidade do treinamento.

Impacto na energia

Exercícios de musculação exigem a reposição das reservas de glicogênio, essenciais para a energia do organismo. A presença de álcool na corrente sanguínea diminui a disponibilidade energética para os músculos e pode levar a uma queda nos níveis de açúcar no sangue, afetando o desempenho físico.

Sono de má qualidade

Embora o álcool possa induzir sonolência, ele interfere nas fases normais do sono. Isso prejudica a liberação de hormônios anabólicos, fundamentais para o crescimento muscular, e compromete a recuperação para os treinos seguintes. 

Quanto aos efeitos crônicos no consumo de álcool, os dados vão além de uma mera perda da performance esportiva.

Catabolismo muscular

A prática contínua de beber álcool após os treinos pode manter o organismo num estado catabólico. Ou seja, em vez de promover a síntese proteica, o corpo acaba degradando proteínas e carboidratos, resultando em perda muscular e de força.

Isso impacta negativamente o desempenho em atividades que exigem explosão e resistência.

Acúmulo de gordura

O consumo regular de álcool está associado ao acúmulo de gordura, especialmente na região abdominal. O álcool é altamente calórico, contendo 7 calorias por grama. Isso pode levar a um aumento substancial do consumo calórico quando associado a hábitos alimentares inadequados. 

O corpo prioriza a eliminação do álcool, deixando a oxidação de gorduras e carboidratos em segundo plano, o que provoca o armazenamento de gordura.

Problemas cardiovasculares

O consumo crônico de álcool tem um impacto negativo na saúde cardiovascular. Diminui a capacidade aeróbica e aumenta o risco de hipertensão e outras doenças cardíacas.

Além disso, o metabolismo do álcool no fígado pode levar à produção de substâncias tóxicas, prejudicando a saúde do órgão. Ao longo do tempo, isso pode resultar em cardiomiopatia alcoólica.

Como o álcool é metabolizado

Quando o álcool é ingerido, ele é absorvido pelo estômago e intestino, antes de ser metabolizado pelo fígado. Neste último órgão, ele sofre a ação das enzimas álcool desidrogenase (ADH) e a aldeído desidrogenase (ALDH), para a quebra e excreção do etanol — composto químico do álcool.

O primeiro passo no metabolismo do álcool é a oxidação do acetaldeído. Isso ocorre através da ADH. Produzido na ingestão do álcool, o acetaldeído é tóxico para o organismo, ainda que em pequenas concentrações.

Contudo, o processo é influenciado por diversos fatores. Dentre eles, estão: sexo, idade, composição corporal, presença de doenças crônicas, perfil genético, presença de doenças crônicas, exposição prévia ao álcool e até o uso de determinados medicamentos — como fenotiazina, cimetidina e anti-histamímicos.

Em outras palavras, embora duas pessoas possam consumir a mesma quantidade de álcool, os efeitos no organismo podem variar amplamente.

Risco no uso de esteroides

Para aqueles que utilizam esteroides anabolizantes, a combinação com o álcool é especialmente perigosa. O consumo de álcool pode reduzir a eficácia desses hormônios e aumentar os riscos de efeitos colaterais, especialmente no fígado.

Além disso, tanto o álcool quanto os esteroides são metabolizados no fígado, o que sobrecarrega o órgão e eleva a produção de radicais livres. Esse estresse oxidativo aumenta a chance de problemas hepáticos, como esteatose, hepatite tóxica e até cirrose.

Outro fator notável é que a mistura entre álcool e esteroides causa dependência: quanto mais uma pessoa usa, maior a probabilidade de querer utilizar quantidades superiores. E isso ainda contribui para a experimentação de drogas ilícitas.

Álcool no organismo feminino

As mulheres metabolizam o álcool de forma diferente dos homens e possuem maior percentual de gordura corporal, o que as torna mais suscetíveis aos efeitos da bebida. 

Mudanças hormonais naturais nas mulheres, como a fase do ciclo menstrual, podem ser agravadas pelo consumo de álcool, prejudicando a recuperação muscular e o desempenho atlético.

Recomendações para atletas

Comemorar as conquistas após um treino é importante, mas é fundamental considerar as consequências do consumo de álcool. Para aqueles que buscam resultados positivos na musculação e uma vida saudável, restringir a ingestão de bebidas alcoólicas é uma estratégia recomendada.

Os especialistas sugerem que a prática pode trazer benefícios cruciais para a recuperação muscular e a saúde em geral.

Sugestão para quem quer ajuda

Atleta ou não, se você tem o desejo de parar de beber e encontra dificuldades — ou conhece alguém nessa situação — existe esperança.

Alcoólicos Anônimos (A.A.) é uma Irmandade mundial onde são compartilhadas experiências, forças e esperanças, entre interessados em resolverem seus problemas comuns e ajudarem outros a se recuperarem do alcoolismo.

Fundado nos Estados Unidos em 10 de junho de 1935, o A.A. não tem ligação com nenhuma seita, religião, movimento político, organização ou instituição. Não deseja entrar em qualquer controvérsia, tampouco apoia ou combate quaisquer causas.

Baseado no Programa de 12 Passos, o A.A. está presente em 186 países e conta com aproximadamente 120 mil grupos. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber, não havendo taxas nem mensalidades.

O site oficial, onde constam horários e endereços de reuniões tanto físicas quanto virtuais, é: https://www.aa.org.br/.