Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Você está consumindo vitamina D o suficiente, ou talvez em excesso? Novas diretrizes estão virando a sabedoria convencional de cabeça para baixo, oferecendo recomendações que podem impactar sua decisão sobre a ingestão e o teste de vitamina D.
Conhecida como a “vitamina do sol”, a vitamina D tem ganhado popularidade por seu potencial papel na prevenção de doenças. Mais de 18% dos adultos relatam tomar suplementos de vitamina D, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).
No entanto, as diretrizes de 2024 da Endocrine Society agora desaconselham a triagem e a suplementação rotineira de vitamina D para certas populações, incluindo adultos de 19 a 74 anos—uma grande mudança em relação às diretrizes de 2011, que recomendavam a suplementação para todas as faixas etárias.
As novas regras geraram debate entre alguns profissionais de saúde. O dr. Peter Osborne, diplomado pelo American Clinical Board of Nutrition e fundador da Origins Healthcare, disse ao Epoch Times: “Discordo das diretrizes. A vitamina D é um nutriente essencial que desempenha um papel fundamental em várias funções do corpo. É uma das deficiências mais comuns que vemos na clínica. Não faz absolutamente nenhum sentido afastar a comunidade médica da triagem rotineira. É algo tão simples de se fazer.”
As novas regras foram desenvolvidas por um comitê diversificado de especialistas que analisaram dados de ensaios clínicos randomizados envolvendo indivíduos sem indicações evidentes de deficiência de vitamina D.
Por que criar novas diretrizes?
“A Endocrine Society atualiza suas regras conforme necessário, com base em evidências acumuladas. A nova diretriz incorpora dados de ensaios realizados desde a publicação de nossa diretriz de 2011”, disse a Endocrine Society ao Epoch Times.
Enquanto as normas de 2011 abordavam a avaliação, o tratamento e a prevenção da deficiência de vitamina D, particularmente para pacientes em risco, o objetivo deste novo Comitê de Desenvolvimento de Diretrizes foi criar orientações para o uso da vitamina D na redução do risco de doenças em pessoas geralmente saudáveis, que não têm razões claras para serem tratadas por deficiência de vitamina D ou para terem seus níveis de vitamina D testados.
De acordo com as diretrizes clínicas da Endocrine Society, publicadas no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism em junho, níveis baixos de vitamina D estão consistentemente associados a distúrbios como doenças autoimunes, cardiovasculares, metabólicas, musculoesqueléticas e infecciosas. No entanto, correlação não significa necessariamente causalidade.
“Embora uma ligação causal entre as concentrações séricas de 25(OH)D e muitos distúrbios não tenha sido claramente estabelecida, essas associações levaram à suplementação generalizada de vitamina D e ao aumento dos testes laboratoriais de 25(OH)D na população em geral”, afirmam as normas. O equilíbrio entre os benefícios e os riscos do aumento do uso de vitamina D permanece incerto, assim como a ingestão ideal de vitamina D e a importância de testar os níveis de 25(OH)D na prevenção de doenças.
Segundo o Dr. Peter Osborne, “Há uma enorme quantidade de evidências, tanto na literatura quanto clinicamente. Muitas evidências clínicas nunca são publicadas, então não são usadas em estudos de revisão ou em artigos como este da Endocrine Society”.
“Do ponto de vista clínico, a vitamina D é extremamente poderosa no arsenal dos profissionais de saúde. Quando as pessoas vêm à minha clínica, observamos benefícios diretos do uso de suplementos de vitamina D em problemas respiratórios e infecciosos, dores musculoesqueléticas e regulação autoimune”, acrescentou Osborne. “Muitas vezes vemos uma redução nos anticorpos ou nos marcadores inflamatórios, como a proteína C reativa, além de melhorias no controle e na gestão dos níveis de açúcar no sangue.”
A Endocrine Society afirmou ao Epoch Times que, com base nas pesquisas atuais, “a maioria dos adultos saudáveis com menos de 75 anos pode não se beneficiar ao tomar mais vitamina D do que a dose diária recomendada pelo Instituto de Medicina”.
Osborne argumentou: “O problema com muitas pesquisas é a dosagem. Usam doses baixas de vitamina D, então a força do resultado no estudo é menor do que seria em um ambiente clínico. Muitos desses estudos utilizam de 400 a 4.800 UI de vitamina D. Nós começamos com as pessoas com 100 a 150.000 unidades de vitamina D. A dose importa. E se você tem muitas publicações utilizando doses mais baixas, acaba com um corpo de pesquisa enganoso.”
Recomendações da Sociedade Endócrina pela População
Crianças e adolescentes
A diretriz de junho sugere a suplementação de vitamina D para crianças e adolescentes de 1 a 18 anos, por meio de alimentos fortificados, formulações vitamínicas que contenham vitamina D e/ou suplementos.
“Com base nas evidências analisadas pelo comitê de diretrizes, os pais devem considerar suplementos acima da dose diária recomendada pelo Instituto de Medicina (IOM) para prevenir o raquitismo nutricional e reduzir a chance de infecções respiratórias”, disse a Endocrine Society ao Epoch Times.
Embora as evidências sugiram benefícios potenciais, particularmente para infecções respiratórias, os resultados variam, podendo também incluir a possibilidade de a suplementação não ter efeito. Portanto, a recomendação é condicional. O comitê sugere que a suplementação de vitamina D pode ser particularmente benéfica em populações com alto risco de deficiência de vitamina D ou infecções respiratórias.
A recomendação também reconhece o desafio de atingir níveis adequados de vitamina D apenas por meio da exposição ao sol e da alimentação, especialmente em certas regiões geográficas ou entre populações com exposição limitada ao sol.
O comitê de especialistas não pôde recomendar uma dose ideal de vitamina D devido à grande variação nas doses usadas nos ensaios clínicos, que vão de 300 a 2000 UI.
Adultos com menos de 50 anos
Para adultos geralmente saudáveis com menos de 50 anos, a diretriz sugere evitar a suplementação rotineira de vitamina D além da dose diária recomendada (RDA) estabelecida pelo Instituto de Medicina (IOM), que é de 600 unidades internacionais (UI) diárias.
“Embora a suplementação de vitamina D pareça ser segura, barata e de fácil acesso, os ensaios identificados na revisão sistemática não mostraram claramente um benefício substancial da suplementação de vitamina D”, afirmam as normas. “Por essa razão, o comitê emitiu uma recomendação condicional contra a suplementação rotineira de vitamina D acima do necessário para atender às diretrizes de referência dietética.”
No entanto, o comitê determinou que adultos saudáveis nesse grupo etário podem optar por tomar suplementos de vitamina D caso não estejam recebendo quantidades adequadas pela exposição ao sol e não estejam consumindo consistentemente a ingestão recomendada de alimentos que contenham ou sejam fortificados com vitamina D.
Adultos de 50 a 74 anos
Assim como para adultos mais jovens, a diretriz sugere evitar a suplementação rotineira de vitamina D além da dose diária recomendada de 600 a 800 UI para a faixa etária de 50 a 74 anos. O comitê encontrou evidências de que a suplementação de vitamina D tem pouco ou nenhum efeito sobre fraturas, eventos cardiovasculares, câncer e mortalidade nessa população.
Essa recomendação desafia algumas suposições anteriores sobre os benefícios da suplementação generalizada de vitamina D em adultos de meia-idade e idosos. Ela ressalta a importância de práticas baseadas em evidências e a necessidade de intervenções direcionadas com base em fatores de risco individuais, em vez de idade isoladamente.
Considerando os efeitos negativos bem conhecidos dos níveis muito baixos de vitamina D na saúde óssea e no equilíbrio de cálcio, o comitê afirmou que alguns indivíduos desse grupo etário podem optar razoavelmente por tomar suplementos de vitamina D. Isso é especialmente válido para aqueles que têm pouca exposição ao sol (como pessoas com pele mais escura, que estão confinadas em casa ou que usam roupas que limitam a exposição ao sol) ou que não atingem consistentemente a ingestão recomendada por meio da dieta, suplementos ou alimentos fortificados com vitamina D.
Adultos com 75 anos ou mais
Para adultos com 75 anos ou mais, a diretriz sugere a suplementação de vitamina D por meio de alimentos fortificados, formulações vitamínicas que contenham vitamina D e/ou suplementos.
Essa recomendação baseia-se no potencial da vitamina D para reduzir o risco de mortalidade, além do aumento do risco de deficiência de vitamina D em idosos, devido à síntese cutânea reduzida, menor ingestão alimentar e maior prevalência de comorbidades que podem afetar o metabolismo da vitamina D.
O comitê de especialistas não pôde recomendar uma dose ideal de vitamina D, devido à grande variação utilizada nos ensaios clínicos, que variou de 400 a 3.333 UI diárias.
Mulheres grávidas
A diretriz sugere a suplementação de vitamina D durante a gravidez por meio de alimentos fortificados, formulações vitamínicas que contenham vitamina D e/ou suplementos.
Essa recomendação reconhece o papel fundamental da vitamina D na saúde materna e fetal, particularmente no suporte à homeostase do cálcio e à função imunológica.
O comitê de especialistas não pôde recomendar uma dose ideal de vitamina D devido à grande variação utilizada nos ensaios clínicos, que variou de 600 a 5.000 UI diárias.
Adultos com pré-diabetes
Para adultos com pré-diabetes de alto risco, a diretriz sugere a suplementação de vitamina D e modificações no estilo de vida — como exercícios regulares e uma dieta equilibrada — para reduzir o risco de progressão para diabetes.
Assim como no caso das gestantes, o painel de especialistas não pôde recomendar uma dose ideal de vitamina D devido à grande variação utilizada nos ensaios clínicos, que variou de 842 a 7.543 UI diárias.
Essa recomendação é particularmente significativa, pois indica um possível papel da vitamina D na saúde metabólica e na prevenção do diabetes. De acordo com um ensaio clínico randomizado de 2022, publicado na Expert Review of Clinical Pharmacology, idosos com pré-diabetes que tomaram vitamina D como suplemento por 12 meses apresentaram uma redução na glicose em jejum e níveis mais baixos de hemoglobina glicada em comparação aos valores iniciais.
Recomendações de triagem e teste
A nova diretriz da Endocrine Society recomenda contra a triagem rotineira dos níveis de vitamina D em adultos saudáveis, gestantes e pessoas com obesidade ou pele escura.
As recomendações baseiam-se em:
- Custos: Testes rotineiros podem ser caros e criar desigualdade na saúde, especialmente em comparação com a oferta de suplementos de vitamina D a todos em grupos de alto risco.
- Acesso desigual: Nem todos têm fácil acesso a testes precisos de vitamina D.
- Falta de evidência clara de benefício: Nenhum estudo comparou diretamente os resultados entre uma abordagem de triagem e uma abordagem sem triagem. São necessários mais ensaios clínicos randomizados para estabelecer uma relação causal. “O painel de revisão não encontrou evidências de que um teste de nível de vitamina D forneça informações úteis que levem a melhores desfechos clínicos”, disse a Endocrine Society ao Epoch Times.
- Níveis-alvo indefinidos: Não há consenso sobre um nível de vitamina D que previna doenças. Mesmo em estudos onde baixos níveis de vitamina D pareciam prejudiciais, não havia um ponto de corte claro.
“Anteriormente, os termos deficiência, insuficiência e suficiência estavam alinhados com os níveis de vitamina D com base em estudos observacionais, o que pode ser enganoso. O nível ideal de 25-hidroxivitamina D para prevenção de doenças não é conhecido”, disse a Endocrine Society ao Epoch Times.
“É provável que os níveis ideais variem conforme os desfechos de doenças específicas. Portanto, na ausência desses dados, o comitê recomendou contra a triagem rotineira em adultos saudáveis e não considera necessária a triagem com teste sanguíneo de 25-hidroxivitamina D, a menos que haja indicações estabelecidas (por exemplo, baixos níveis de cálcio no sangue). Pessoas com doenças que as colocam em risco de deficiência de vitamina D devem discutir a possibilidade de teste e tratamento com seus médicos”, acrescentaram.
Para quem está recebendo suplementação, o teste é importante para acompanhar as melhorias nos níveis.
Implicações para a prática clínica e saúde pública
A nova diretriz marca uma mudança em relação às recomendações anteriores da Endocrine Society sobre níveis específicos de 25(OH)D das seguintes maneiras:
- A Endocrine Society não apoia mais o nível-alvo de 25(OH)D de 30 ng/mL (75 nmol/L) sugerido na diretriz anterior de 2011.
- A Endocrine Society não apoia mais níveis específicos de 25(OH)D para definir suficiência, insuficiência e deficiência de vitamina D.
“A diretriz sugere que os médicos realizem significativamente menos testes, garantam que seus pacientes estejam tomando a RDA de vitamina D recomendada pelo IOM e não recomenda a triagem de vitamina D, a menos que haja indicações estabelecidas (por exemplo, baixos níveis de cálcio no sangue)”, disse a Endocrine Society ao Epoch Times.
Osborne afirmou: “Quando se trata de nutrição, vitaminas e minerais essenciais devem ser avaliados em todos os indivíduos como um padrão de cuidado para prevenção. Estamos falando da prevenção de doenças graves, como diabetes, condições autoimunes, doenças cardiovasculares, AVC e artrite. Portanto, acredito que testar e não adivinhar é uma obrigação do médico para com seu paciente, a fim de fornecer conselhos precisos.”
A nova diretriz representa uma mudança de paradigma em direção a estratégias mais direcionadas de suplementação de vitamina D, afastando-se do foco anterior em suplementação universal e testes de rotina. Essa abordagem está alinhada com o crescente reconhecimento de que os benefícios da vitamina D podem ser mais evidentes em populações específicas e naquelas com baixos níveis iniciais, de acordo com as diretrizes.
Remover
A diretriz de prática clínica de 2024 da Endocrine Society sobre vitamina D desafia suposições há muito estabelecidas sobre a suplementação. Ela recomenda suplementação direcionada para grupos específicos, ao mesmo tempo que desaconselha a triagem universal e a suplementação além da Ingestão Dietética de Referência para outros. Essas recomendações refletem as complexidades de se traduzir a pesquisa nutricional em prática clínica.