Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Todos nós conhecemos aquela sensação familiar que temos ao ver fotos antigas, ouvir músicas do passado ou contar histórias antigas. As lembranças vêm à mente, começamos a relembrar e a sentir saudades de dias passados, e ficamos com um sentimento de nostalgia.
Mas o que realmente está acontecendo internamente quando nos sentimos assim? E o que isso significa?
A maioria de nós aceita bem os sentimentos nostálgicos e encontra neles um breve alívio para os problemas recentes. Mas os pensadores do passado não compartilhavam da mesma visão otimista que tendemos a ter hoje.
Johannes Hofer, o médico suíço do século XVII que cunhou o termo, conceituou esse sentimento como uma doença, apontando para sua tendência de evocar episódios de choro, insônia e ansiedade.
Até mesmo a palavra nostalgia – das palavras gregas “nostos” (“retorno ao lar”) e “algos” (“dor”) – faz alusão a algo negativo: a dor do retorno ao lar. No entanto, as pessoas modernas não veem a nostalgia de forma tão negativa, e pesquisas mais recentes começaram a esclarecer seu efeito positivo em nossas mentes.
A natureza positiva da nostalgia
Apesar de ter sido caracterizada no passado como um distúrbio, a nostalgia é, na verdade, uma experiência bastante comum. Pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, e do Archbridge Institute, em Washington, D.C., conduziram um estudo e descobriram que 79% sentiam nostalgia pelo menos uma vez por semana e outros 17% pelo menos uma vez por mês. Quando perguntados sobre o conteúdo de suas experiências, os participantes mencionaram, em sua maioria, pessoas próximas a eles e eventos de vida altamente sociais, positivos e significativos.
Os participantes não apenas descreveram as lembranças nostálgicas como emocionalmente positivas, mas até mesmo eventos predominantemente negativos de seu passado ganharam um valor redentor e foram vistos de forma positiva. A discrepância entre essa pesquisa recente e as concepções anteriores de nostalgia levou os pesquisadores a se perguntarem: Será que existe algum valor terapêutico na experiência da nostalgia?
O que torna a nostalgia terapêutica?
Clay Routledge, psicólogo existencial e um dos pesquisadores do Archbridge Institute, acha que pode sim. Ele passou sua carreira investigando a nostalgia e sua equipe de pesquisa descobriu que sentimentos de falta de sentido, solidão e humor negativo tendem a prever sentimentos de nostalgia. Em resumo, quando nos sentimos psicologicamente ameaçados, é mais provável que tenhamos sentimentos de nostalgia – mas não o contrário.
Esses estudos apontam para a ideia de que nossos sentimentos de nostalgia podem ser um mecanismo que serve para nos proteger de danos psicológicos. “A nostalgia é um recurso para a saúde psicológica (…) [que] promove o funcionamento psicológico adaptativo entre indivíduos em risco de saúde mental precária”, escreveu Routledge em seu artigo. Se nos tornamos nostálgicos quando ameaçados pela negatividade, solidão ou falta de sentido, então nossa experiência de nostalgia pode ser uma corda de segurança que nos puxa de volta à superfície.
Pesquisadores da Routledge e da Universidade de Southampton exploraram mais essa ideia no estudo mencionado acima, no qual dois grupos de participantes foram solicitados a pensar e escrever um “evento nostálgico” ou um “evento comum” de seu passado. Depois de receberem uma bateria de testes emocionais, os participantes que registraram um evento nostálgico obtiveram uma pontuação significativamente mais alta em medidas de emoção positiva, autoconsideração positiva e conexão social do que aqueles que registraram um evento comum.
Essas três medidas são componentes essenciais de um senso de significado na vida, que é, por si só, parte integrante da saúde psicológica. Pesquisas descobriram que sentir que a vida tem significado nos ajuda a lidar com o estresse, evitar a depressão e a ansiedade e reduzir outros comportamentos problemáticos.
Por que encontramos significado no passado
Routledge e sua equipe descobriram a correlação entre nostalgia e altos níveis de significado na vida por meio de um experimento simples. Os participantes escreveram músicas que consideravam nostálgicas e foram mandados para casa. Uma semana depois, eles foram chamados de volta ao laboratório e receberam algumas letras de músicas para ler. Os participantes que leram a letra de uma das músicas que haviam listado como nostálgicas relataram que sua vida passou a ter mais significado depois disso do que aqueles que leram a letra da mesma música, mas sem sentir nenhuma nostalgia em relação a ela.
Além disso, a equipe de pesquisa descobriu que grande parte dessa variação nos sentimentos de significado da vida poderia ser atribuída à conexão social. Em outras palavras, aqueles que sentiram mais significado na vida depois de sentir nostalgia se sentiram assim – pelo menos em parte – por causa de uma conexão mais profunda com os outros.
A relação entre conexão social e bem-estar foi amplamente documentada e sugere que aqueles com conexões sociais mais profundas relatam maior bem-estar. Em um artigo publicado em 2021 na revista Emotion, Routledge e seus coautores descobriram que o bem-estar aumenta com a idade para as pessoas propensas à nostalgia, mas não para as que não são propensas a ela. Nossas memórias, afirmam os pesquisadores, são um “recurso indispensável (…) que pode evocar a nostalgia e nos lembrar de nosso valor, capacidade e pertencimento”.
Considerando pesquisas mais recentes, parece que Hofer entendeu errado: Não é que a nostalgia seja a causa de distúrbios psicológicos, mas sim que são os distúrbios que desencadeiam a nostalgia. Routledge e seus coautores afirmam isso em sua declaração de que “a nostalgia é um recurso psicológico, não uma responsabilidade”.
Se integrado corretamente, esse mecanismo natural pode se tornar uma ferramenta versátil em nossas tentativas de viver uma vida plena e significativa.