Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
No mundo de hoje, os alimentos estão prontamente disponíveis em todos os lugares. Mas será que essa abundância é uma bênção ou uma maldição?
Vamos voltar nossa atenção para a bela paróquia de Överkalix, no norte da Suécia, onde os costumes de comer em excesso eram tradicionalmente transmitidos dos avós para os pais e depois para os filhos.
Os pesquisadores examinaram dados de três coortes de quase 300 pessoas nascidas no final do século XIX e início do século XX na paróquia de Överkalix. Eles procuraram determinar se a disponibilidade de alimentos nas primeiras gerações teve algum impacto sobre a saúde de seus descendentes.
Suas descobertas podem surpreendê-lo.
A dieta do pai na adolescência afeta a prole
Se um pai passasse por escassez de alimentos durante seu período de crescimento lento – os anos imediatamente anteriores ao pico da puberdade, geralmente entre 9 e 12 anos de idade para os meninos – seus filhos teriam um risco 58% menor de morrer de doenças cardíacas mais tarde na vida.
Por outro lado, se o avô paterno experimentou uma abundância de alimentos durante sua fase de crescimento lento, o risco de mortalidade relacionada à diabetes em seus netos aumentou em mais de quatro vezes.
Essa descoberta intrigante sugere que um mecanismo ligado à nutrição, principalmente por meio da linhagem masculina, desempenha um papel significativo na formação do risco de determinadas doenças ao longo das gerações.
Nas últimas décadas, houve uma onda de pesquisas sobre esse tópico, com foco no impacto dos hábitos alimentares do pai sobre a saúde de seus filhos.
Os cientistas descobriram que a dieta de um futuro pai pode influenciar significativamente os riscos à saúde física e mental de seus filhos.
Não se trata apenas de quanto ele come, mas do que ele come. A proporção e o equilíbrio de gordura, proteína e carboidratos parecem ter um impacto significativo, de acordo com modelos animais. Entretanto, os estudos em humanos sobre esse tópico ainda são limitados.
Impacto da dieta rica em gordura do pai sobre as filhas
Os alimentos processados, geralmente ricos em gordura, são facilmente acessíveis e difíceis de resistir. As pessoas consomem cerca de 500 calorias a mais por dia de alimentos ultraprocessados em comparação com os minimamente processados, principalmente devido ao seu maior teor de gordura e carboidratos.
Entretanto, o impacto negativo de uma dieta rica em gordura pode ser transmitido pelo esperma do pai.
Um estudo constatou que, após 12 semanas de dieta rica em gordura, os pais de ratos tiveram filhas recém-nascidas com aproximadamente 30% de massa de células beta pancreáticas reduzida. As células beta são essenciais, pois produzem insulina.
Na idade adulta, os camundongos-filhas apresentaram maior probabilidade de intolerância à glicose, uma condição pré-clínica de diabetes, com um declínio nos níveis de insulina no sangue.
Em um estudo recente publicado na Nature, cientistas alimentaram camundongos machos com uma dieta gordurosa por duas semanas, coletaram seus espermatozoides e criaram embriões por meio de fertilização in vitro.
Eles descobriram que a dieta gordurosa dos camundongos pais não afetava o peso corporal dos filhotes, mas fazia com que cerca de 30% dos filhotes machos desenvolvessem intolerância à glicose.
Acontece que a dieta do pai altera um tipo específico de material genético nas mitocôndrias do esperma. Essas moléculas alteradas, conhecidas como RNAs de transferência, agem como mensageiros, mudando a forma como os genes de uma criança funcionam sem alterar a sequência do DNA.
Além disso, estudos em animais descobriram que a dieta rica em gordura do pai pode afetar outros aspectos da saúde da prole por meio do esperma, incluindo função cognitiva prejudicada e redução da fertilidade.
Efeitos nocivos das dietas com baixo teor de proteína
O nível de proteína na dieta do pai também pode influenciar a expressão gênica no esperma.
Camundongos machos em uma dieta pobre em proteínas produziram filhotes com mais gordura corporal, problemas metabólicos e bactérias intestinais alteradas.
Esses descendentes também apresentaram aumento da atividade gênica relacionada à produção de gordura e colesterol em seus fígados.
Um estudo de 2020 realizado por Keisuke Yoshida e Shunsuke Ishii identificou uma proteína essencial, a ATF7, que desempenha um papel crucial nesse processo.
Além dos distúrbios metabólicos, a dieta pobre em proteínas do pai pode aumentar o risco de seus filhos terem problemas vasculares e cardíacos, bem como câncer.
Os pesquisadores descobriram que os pais que consumiam uma dieta pobre em proteínas e rica em carboidratos tinham filhos que apresentavam traços de ansiedade e filhas com aumento de gordura corporal.
Os efeitos abrangem várias gerações
A descoberta mais surpreendente foi que as alterações genéticas relacionadas à dieta no esperma foram transmitidas para mais de uma geração durante a produção de esperma, levando a efeitos duradouros.
Os dados do estudo mostraram que os ratos alimentados com uma dieta rica em gordura não só apresentaram intolerância à glicose mas também transmitiram essa característica aos seus descendentes de segunda geração.
O estudo realizado em camundongos alimentados com uma dieta com baixo teor de proteína mostrou que seus descendentes apresentavam aumento de peso corporal e níveis elevados de enzima conversora de angiotensina (ECA) no soro e nos tecidos. A ECA é um marcador clínico de várias doenças crônicas, incluindo problemas cardiovasculares, diabetes e doenças renais.
Esses efeitos foram observados não apenas na primeira geração de camundongos, mas também na segunda geração durante sua juventude.
O estudo de coorte sueco mostrou que a dieta de um avô paterno tem efeitos de longo prazo, com um risco maior de mortalidade relacionada ao diabetes observado em seus netos.
Peso corporal do pai
Com base em um estudo publicado na Nature, um grupo internacional de pesquisadores analisou dados de mais de 3.000 famílias e descobriu que o peso corporal do pai no momento da concepção influencia significativamente o peso corporal e a saúde metabólica de seus filhos.
Esse achado persiste mesmo quando o peso da mãe é considerado.
Dieta e fertilidade masculina
Certos alimentos têm efeitos positivos sobre a atividade do esperma. Uma revisão abrangente destacou que dietas saudáveis ricas nos seguintes nutrientes melhoram a qualidade do esperma:
– Ácidos graxos ômega-3
– Vitamina E
– Vitamina C
– β-caroteno
– Selênio
– Zinco
– Criptoxantina
– Licopeno
– Vitamina D
– Folato
Alimentos como peixes, mariscos, frutos do mar, aves, cereais, legumes e frutas são benéficos para a qualidade do esperma.
Seguir uma dieta mediterrânea está associado ao aumento da motilidade dos espermatozoides.
Por outro lado, as dietas ricas em carne processada, gorduras trans, álcool, bebidas adoçadas com açúcar e doces são prejudiciais à qualidade do sêmen e podem contribuir para o declínio das taxas globais de fertilidade.
O legado de nossa dieta
Em um mundo em que a comida é onipresente, parece que vencemos a fome. Entretanto, essa liberdade de comer sem restrições tem um custo.
Com o avanço das pesquisas científicas, está ficando claro que a jornada alimentar de um pai não termina com ele – ela transcende o tempo e o espaço, deixando um impacto duradouro no bem-estar das gerações futuras.
Os efeitos de uma dieta não saudável podem se acumular transgeracionalmente, contribuindo potencialmente para o aumento da prevalência de doenças crônicas atualmente.
O ditado “Você só vive uma vez” (YOLO, na sigla em inglês) sugere a satisfação dos prazeres apesar dos riscos, presumindo que nossas ações terminam conosco.
Entretanto, isso não é totalmente verdade. Nossas escolhas, especialmente as alimentares, podem afetar nossos filhos e as gerações futuras.
Em uma época em que os alimentos ultraprocessados estão em alta e comer pode se tornar um vício, mudar para uma dieta balanceada de alimentos integrais pode ser um desafio.
Mas lembre-se, não estamos comendo apenas para nós mesmos, mas plantando as sementes da saúde para as gerações futuras.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times. O Epoch Health recebe com satisfação discussões profissionais e debates amigáveis.
