Bactéria resistente a vários antibióticos é detectada no Nordeste e representa risco mundial de saúde

A pandemia de COVID-19 favoreceu a disseminação de cepas fortes, com aumento significativo na detecção de bactérias produtoras das carbapenemases.

Por Redação Epoch Times Brasil
03/10/2024 21:41 Atualizado: 03/10/2024 21:41

Uma nova cepa da bactéria Klebsiella pneumoniae, identificada em uma paciente de 86 anos com infecção urinária em um hospital no Nordeste brasileiro, gerou preocupação entre especialistas. A cepa, que se mostrou resistente a todos os antibióticos disponíveis, foi isolada em 2022 e levou à morte da paciente apenas 24 horas após sua admissão.

A investigação foi conduzida por um grupo de pesquisadores apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que sequenciou o genoma da bactéria e o comparou com 408 sequências similares.

O estudo revelou que essa cepa foi identificada nos Estados Unidos e agora circula no Brasil, apresentando risco de disseminação global. Os resultados foram publicados na revista The Lancet Microbe e apontam para a versatilidade do microrganismo.

Segundo Nilton Lincopan, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e coordenador do estudo, a Klebsiella pneumoniae pode facilmente adquirir novos mecanismos de resistência, tornando-se ameaça potencial em centros de saúde por todo o mundo.

Esta bactéria se encaixa na classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) como “prioridade crítica” — ou seja, possui poucas opções de tratamento e exige medidas de contenção para evitar sua disseminação.

A plataforma One Health Brazilian Resistance (OneBR), coordenada por Lincopan, reúne dados sobre microrganismos classificados como de alto risco, com o apoio da Fapesp, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação Bill e Melinda Gates.

Em casos de cepas multirresistentes, os serviços de saúde devem notificar a vigilância epidemiológica local e isolar o paciente, tomando cuidados rigorosos para evitar a transmissão.

Lincopan alerta que, em pessoas com sistema imunológico comprometido, a bactéria pode causar infecções graves, como pneumonia, especialmente em unidades de terapia intensiva.

Pandemia favoreceu bactéria

A pandemia de COVID-19 favoreceu a disseminação de cepas fortes, com aumento significativo na detecção de bactérias produtoras das carbapenemases — enzimas com resistência superior a antibióticos.

Um estudo global recente liderado por Fábio Sellera, professor da  Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), destaca a rápida evolução dessas bactérias e as novas tendências de resistência. Sellera tem experiência na área de infectologia veterinária, resistência bacteriana e estratégias terapêuticas no controle de infecções.

O ceftazidima/avibactam, medicamento de última geração aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2018, é utilizado para tratar infecções graves por K. pneumoniae. No entanto, Lincopan ressalta que o uso excessivo durante a pandemia pode ter contribuído para o surgimento de cepas resistentes.

Os pesquisadores enfatizam a necessidade de monitoramento constante e prescrição racional de antibióticos. Também alertam pacientes sobre a importância de completar o tratamento prescrito.

O estudo, que teve como primeiro autor Felipe Vásquez Ponce, doutorando em Microbiologia pelo ICB-USP, reforça a resistência bacteriana como um problema de saúde pública que exige atenção imediata.