Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
A gordura marrom está associada à perda de peso e à redução do risco de doenças cardiovasculares e diabetes. A exposição a temperaturas mais frias e o consumo de certos alimentos, como pimenta vermelha, podem ativá-la.
Por outro lado, algumas práticas que estimulam a gordura marrom podem causar danos. Por exemplo, a dieta cetogênica (keto), um plano alimentar popular no Weight Watchers — um programa de perda de peso e bem-estar — pode não ser uma maneira saudável a longo prazo de aproveitar os benefícios potenciais.
Dado o poder da gordura marrom para melhorar a saúde, é importante conhecer maneiras seguras e inseguras de utilizá-la.
Diferentes tipos de gordura
Nem todas as gorduras são iguais. O corpo contém gordura branca, marrom e bege, cada uma com ações e características diferentes.
A nutricionista clínica Ria Hawle, especializada em diabetes e nutrição cardíaca, explicou a diferença entre gordura branca e marrom ao Epoch Times por e-mail.
“A gordura marrom, localizada ao redor do pescoço e acima da clavícula, é um tipo único de gordura diferente da gordura branca mais familiar”, disse ela. “A gordura branca tem tudo a ver com armazenamento de energia, mas a gordura marrom queima calorias. Essa queima acontece por meio de um processo chamado termogênese, que envolve a geração de calor por meio de uma alta concentração de mitocôndrias, muitas vezes chamadas de potências das células”.
Embora todas as células adiposas contenham mitocôndrias, elas são mais numerosas na gordura marrom, de acordo com um estudo publicado no International Journal of Molecular Science (IJMS). Essas estruturas são responsáveis pela geração de calor e pela função de queima de calorias.
A gordura branca é armazenada sob a pele e na barriga. Quantidades em excesso estão presentes na obesidade, o que aumenta o risco de diversas condições crônicas de saúde. Além disso, a obesidade tem um efeito adverso no resultado da doença – como aumentar a probabilidade de ser hospitalizado com COVID-19.
A gordura da barriga é uma preocupação particular, ligada a mais problemas de saúde do que o excesso de gordura branca sob a pele, observou um estudo de 2021 publicado em Cell Reports Medicine (CRM). Isso inclui doença coronariana, certos tipos de câncer, diabetes tipo 2 e risco de morte.
O corpo contém um terceiro tipo de gordura chamada gordura bege, que se mistura com a gordura branca sob a pele. A exposição a certos estímulos pode causar o “escurecimento” dessas células de gordura, o que significa que elas agem como a gordura marrom na geração de calor, observou uma análise publicada em Frontiers in Endocrinology. O processo de escurecimento envolve um aumento nas mitocôndrias, de acordo com o estudo do IJMS.
No entanto, ao contrário da ação estável de geração de calor da gordura castanha, este efeito é temporário. Após a retirada dos estímulos, a gordura bege volta a ser gordura branca.
Benefícios da gordura marrom
Um estudo de coorte publicado na Nature Medicine analisou retrospectivamente 52.487 indivíduos para explorar os benefícios da gordura marrom para a saúde. Aqueles com mais gordura marrom tiveram menores prevalências de:
Diabetes tipo 2
Doença coronariana
Lipídios sanguíneos prejudiciais à saúde
Doença cerebrovascular, condições que envolvem o fluxo sanguíneo para o cérebro
Pressão alta
Insuficiência cardíaca congestiva
Eles também melhoraram os triglicerídeos, a glicemia e as lipoproteínas de alta densidade, o tipo “bom” de colesterol. As descobertas indicam que a gordura marrom pode contribuir para a saúde cardiometabólica, concluíram os pesquisadores.
Um fator que pode estar subjacente aos benefícios acima mencionados é que a gordura castanha está ligada a uma distribuição mais saudável da gordura branca, observou o estudo da CRM. Isso significa que faz com que menos gordura branca seja armazenada na barriga. Quando a gordura da barriga diminui, os riscos associados a ela também diminuem.
Os benefícios da gordura marrom giram em torno de sua capacidade de gerar calor. Os mecanismos exatos responsáveis por esta ação não são totalmente compreendidos, mas um estudo pré-clínico recente publicado no The EMBO Journal encontrou uma peça do quebra-cabeça.
“A maioria das mitocôndrias do corpo produz ATP, que é uma moeda energética universal para a célula, mas as células de gordura marrom produzem calor em vez de ATP”, disse o autor correspondente Alexander Bartelt em entrevista por e-mail ao Epoch Times.
“Descobrimos agora uma pequena molécula chamada IF1, que atua como um interruptor para a produção de ATP e, portanto, determina às células de gordura marrom quanto ATP elas dissipam em calor”, continuou ele.
Quando as células de gordura marrom são expostas a um agente que as estimula, os níveis de IF1 caem e ocorre a geração de calor. No futuro, os investigadores preveem que a manipulação do IF1 poderá resultar em melhores mitocôndrias termogênicas, queimando assim calorias extra.
Embalagem em gordura marrom
O estudo da CRM afirmou que a melhoria dos indicadores de saúde está associada a um aumento do número de depósitos de gordura castanha e ao aumento da atividade. Em outras palavras, sua função, bem como sua quantidade, são importantes. As práticas abaixo podem ajudar a melhorar o número, a função ou ambos.
Exposição ao frio
Uma revisão sistemática e uma meta-análise publicada na Frontiers in Physiology descobriu que a exposição ao frio pode aumentar o gasto energético e a atividade da gordura marrom em adultos.
Alimentos e Bebidas
Uma análise publicado na revista Nutrients observou que as seguintes coisas pode promover a geração de calor na gordura marrom:
Cafeína, um ingrediente do chá e do café
Resveratrol, um antioxidante em frutas vermelhas e uvas
Capsinoides, um fitoquímico encontrado principalmente na pimenta vermelha
Proteínas
Ácidos graxos ômega-3, presentes em peixes gordurosos, como o salmão
12 13-dihome, um nutriente que aumenta em resposta ao exercício
Padrões Dietéticos
Uma análise publicada na Frontiers in Endocrinology (FE) relatou que dois padrões alimentares promoveram o escurecimento da gordura branca e tiveram efeitos anti-obesidade.
O jejum em dias alternados estimulou o desenvolvimento de gordura bege dentro da gordura branca e reduziu a resistência à insulina, a obesidade e a doença hepática gordurosa. O jejum intermitente em um padrão alimentar de jejum de um dia e realimentação de dois dias também promoveu a geração de calor com consequentes efeitos anti-obesidade.
Exercício
“O exercício regular, especialmente o treino intervalado de alta intensidade, não só ajuda no tônus muscular e na resistência, mas também pode aumentar a atividade da gordura marrom”, disse Hawle.
De acordo com a revisão da FE, o exercício, especificamente o treino de natação e corrida, desencadeia a transformação da gordura branca em gordura castanha de várias maneiras. No entanto, se isso aumenta a geração de calor está em debate.
Possíveis riscos
A revisão da FE alertou que algumas estratégias para ativar ou aumentar a gordura marrom podem superestimular o sistema nervoso simpático, o que pode afetar negativamente certas pessoas. O sistema nervoso simpático, conhecido como o sistema de “luta ou fuga”, regula diversas funções corporais, como a frequência cardíaca e a pressão arterial.
Por exemplo, a exposição ao frio ativa os nervos simpáticos e aumenta a pressão arterial sistólica, que é a leitura superior. Isso também leva a batimentos cardíacos rápidos e tensão no coração, efeitos que elevam o risco de doenças cardiovasculares. Consequentemente, a exposição ao frio não é uma abordagem segura contra a obesidade para pessoas que já tiveram um ataque cardíaco ou AVC, segundo a revisão da FE.
“Além dos efeitos adversos no coração, o estresse prolongado causado pela estimulação excessiva do sistema nervoso simpático pode desregular o equilíbrio hormonal natural do corpo, o que pode afetar vários sistemas, além do metabolismo”, acrescentou Hawle.
Dieta keto e gordura marrom
A dieta cetogênica (keto), um plano alimentar com pouquíssimos carboidratos, proteínas moderadas e alta ingestão de gorduras, tem despertado grande interesse público, pois alguns estudos de curto prazo indicam que ela pode aumentar a gordura marrom e promover a perda de peso. No entanto, como a maioria das pesquisas sobre a dieta é de curto prazo, as implicações de longo prazo para a saúde ainda são desconhecidas.
Na verdade, a comunidade médica expressa sérias preocupações sobre a segurança da dieta. Jeoff Drobot, membro fundador do American Center for Biological Medicine, disse ao Epoch Times por e-mail que desaconselha fortemente o uso da dieta para o controle de peso. “Muitas pessoas podem experimentar perda de peso inicial devido à restrição de carboidratos e perda de água, mas isso pode não ser sustentável ou saudável a longo prazo”, afirmou.
Drobot explicou que a dieta keto é rica em alimentos associados a doenças crônicas, como doenças cardíacas e diabetes, incluindo grandes quantidades de alimentos altamente processados e gorduras saturadas.
“Ela também é pobre em alimentos protetores, como frutas, vegetais e grãos integrais, que são importantes para a saúde geral e prevenção de doenças”, acrescentou.
Hawle destacou que esses alimentos protetores são ricos em nutrientes essenciais — fibras, vitaminas e minerais — vitais para a saúde geral. “A adesão a longo prazo à dieta cetogênica pode levar à falta desses nutrientes importantes, aumentando o risco de deficiências”, afirmou.
Além disso, a natureza restritiva da dieta keto torna difícil para muitas pessoas segui-la a longo prazo, continuou Hawle. Suas diretrizes rígidas podem causar sensações de privação, desencadear padrões alimentares desordenados e dificultar a manutenção da perda de peso após o término da dieta.
Em vez da dieta cetogênica, Hawle defende uma estratégia de três frentes: “Isso envolve uma dieta rica em alimentos não processados e densos em nutrientes, porções controladas e exercícios regulares, que muitas vezes são uma solução mais prática e duradoura para alcançar e manter um peso saudável.”
A abordagem certa
Encontrar o equilíbrio é fundamental quando se trata de aproveitar os benefícios da ativação da gordura marrom, aconselhou Hawle. “Você pode incorporar métodos naturais, como expor-se a ambientes mais frescos e praticar exercícios regularmente, sem forçar muito”, disse ela.
Howle observou que práticas de estilo de vida saudáveis, além de uma dieta nutritiva – incluindo dormir o suficiente, controlar o estresse e manter-se bem hidratado – são igualmente importantes como uma dieta saudável. Esses aspectos contribuem para a saúde geral e ajudam a manter o bom funcionamento do metabolismo.
Para as pessoas que pensam em fazer grandes mudanças no estilo de vida, especialmente se tiverem problemas de saúde latentes, é aconselhável consultar um médico especializado, recomendou ela.
“Adotar uma abordagem equilibrada e sustentável permite colher os benefícios da ativação da gordura marrom, ao mesmo tempo que minimiza os riscos associados à superestimulação”, disse Howle.
