Por Martha Rosenberg
Vender leite parece fácil e até divertido quando você vê os anúncios e propagandas de celebridades com bigodes de leite. Mas, na verdade, não é. Apesar de quase 20 anos de anúncios de bigodes brancos, as vendas de leite continuam a cair num ritmo rápido. Por quê? De acordo com grupos da indústria do leite responsáveis pelo marketing – o Programa Nacional de Promoção e Pesquisa Láctea e o Programa Nacional do Processamento Fluido do Leite, ambos dos Estados Unidos – os sucos enriquecidos com cálcio e bebidas vitaminadas suplantaram a imagem saudável do leite e a preferência do público e, inclusive, a própria preferência do público pelo leite pode estar mudando.
Muitos grupos demográficos evitam o leite, desde adolescentes e jovens adultos que preferem quase qualquer outra coisa a dietéticos; atletas e pessoas que preferem alimentos saudáveis e assim rejeitam colesterol, gordura, calorias e alergênicos. Vários grupos étnicos também evitam o leite, assim como os intolerantes à lactose, pessoas que bebem ou fumam, ativistas animais e ambientais. Na verdade, o Dr. Benjamin Spock, cujo conselho pediátrico modelou toda a geração Baby Boom, não recomendava leite para crianças após dois anos de idade, como forma de reduzir os riscos de doenças cardíacas, obesidade, pressão alta, diabetes e dietas relacionados a cânceres.
Para inverter a tendência de menos consumidores de leite a cada ano, os comerciantes tentaram de tudo. Antes dos anúncios de bigode de leite, eles promoviam a campanha “Leite: Faz bem para o corpo” na década de 1990, que tinha como alvo mulheres jovens, com a mensagem de que o leite preveniria a osteoporose mais tarde na vida. O problema é que adolescentes, pré-adolescentes e mulheres jovens se preocupam em ter osteoporose quando ficarem velhas tanto quanto se preocupam com o câncer de pele a partir de banhos de sol. Quem envelhecerá?
Em seguida, os comerciantes bolaram a ideia do leite como um alimento dietético. “Estudos sugerem que os nutrientes do leite podem desempenhar um papel importante na perda de peso”, disseram as propagandas de leite que lançaram o Grande Desafio Americano de Perda de Peso em 2006. “Então, se você está tentando perder peso ou manter um peso saudável, tente beber 700 ml de leite de baixo teor de gordura ou sem gordura a cada 24 horas como parte de sua dieta de baixas calorias.”
Sugestões para perder peso com leite incluíam: “Pegue uma embalagem de leite na loja de conveniências ao invés de um refrigerante”; “Beba um cappuccino ou café com leite em vez de café preto”; “Aprecie uma banana e um copo de leite no lanche do meio da manhã”; “Adicione leite ao risoto e pratos de arroz para uma textura mais cremosa”; “Encomende uma sopa à base de leite, como sopa de milho, de batata e alho-poró ou de creme de brócolis, como o primeiro prato no jantar” e, até mesmo, “Faça um ‘mocktail’ numa taça com leite, sem açúcar e com xarope de avelã” e “Ponha leite em sua sobremesa de pudins ou cremes.” Enfim, isso soa na verdade como uma ‘dieta’ que acrescentaria meio quilograma por dia!
Um mercado que costumava ser estável para os comerciantes de leite era o do leite achocolatado, favorito das crianças. Mas, com o crescimento da obesidade juvenil, os distritos escolares têm proibido leites com sabores por causa de seu alto teor de açúcar, o que levou os produtores de leite a adicionarem adoçantes artificiais como aspartame ao produto. Agora, grupos de consumidores se opõem porque os comerciantes de leite pediram ao FDA (Administração de Drogas e Alimentos dos EUA) para omitir os adoçantes artificiais da listagem no rótulo. Alguns distritos escolares dizem que os leites com sabor e adoçados artificialmente também serão banidos porque simplesmente trocam um ingrediente indesejável por outro.
Martha Rosenberg é autora da premiada exposição “Born With a Junk Food Deficiency“. Ícone em seu país, ela lecionou em universidades e faculdades de medicina e foi entrevistada em programas de rádio e televisão.
Para saber mais sobre o leite, assista à palestra “O Mito do Leite”, proferida pelo Dr. Lair Ribeiro: