Por Martha Rosenberg
Nos últimos anos, tivemos acesso a más notícias para as pessoas que não querem antibióticos na sua alimentação.
Os antibióticos são rotineiramente dados para os gados nas fazendas, para fazê-los ganhar peso com menos alimento e impedir que fiquem doentes por estar em espaços confinados. Mas a dosagem diária, ao mesmo tempo que reduz as necessidades de alimentação, reduz a eficácia da droga e produz bactérias resistentes aos antibióticos, também conhecidas como superbactérias.
Em 2012, pesquisadores descobriram que 230 de 395 peças de carne de porco compradas nas lojas dos EUA foram contaminados com uma superbactéria chamada MRSA (Staphylococcus aureus, resistente à meticilina). O pior foi não existir “nenhuma diferença estatisticamente significativa” entre “suínos criados convencionalmente e suínos criados sem antibióticos”, relataram os pesquisadores. No entanto, essa “descoberta (…) contrasta com um estudo da Holanda que examina carne de produção biológica e não biológica”.
Por que a carne rotulada como “criada sem antibióticos” pode conter tantas superbactérias como a carne não biológica e a carne criada em fábrica? A carne pode ser contaminada com MRSA nas fazendas, pelos trabalhadores do matadouro contaminados com MRSA ou por outra carne, se o equipamento de processamento não for “limpo entre as execuções de carnes orgânicas certificadas e não orgânicas”, afirmam os pesquisadores.
Um estudo feito com pessoas que trabalham com suínos no Iowa e Illinois, em 2009, descobriu que quase metade dos trabalhadores era portadora de MRSA.
No final de 2012, a FDA (Administração de Comidas e Drogas dos EUA) desistiu de três décadas de esforços para regulamentar o uso do popular antibiótico penicilina e tetraciclina em animais. Embora a FDA diga no anúncio que “continua preocupada com a questão da resistência antimicrobiana”, também afirma, “um processo formal de retirada que seja contestado” consome muito tempo e dinheiro.
Por exemplo, a retirada de nitrofuranos para uso em pecuária demorou 20 anos nos EUA; a droga DES (dietilestilbestrol) demorou sete anos para ser proibida, e a enrofloxacina demorou cinco anos a ser retirada com um custou de 3,3 milhões de dólares, afirma a agência.
Em 2011, um relatório de um investigador do departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA) “desapareceu” do site da Biblioteca Nacional de Agricultura sem nenhuma explicação. Alguns podem ter compreendido o fato como um favorecimento aos grandes negociantes da pecuária, pois o relatório confirmava que o MRSA matou mais americanos em um ano do que o vírus da SIDA, afirma o repórter Tom Philpott. O MRSA é uma forma perigosa de estafilococos, que se tornou resistente a alguns antibióticos.
Dias após o anúncio do USDA, houve outra concessão. A FDA emitiu novas regras, suavizando a proibição do uso de cefalosporinas em animais (um tipo diferente de antibiótico). Isto ocorreu após a Associação de Agropecuária ter pressionado a emenda original da FDA, que proibia o uso de cefalosporinas, emitida em 2008. Esta ordem também desapareceu com pouca explicação.
As cefalosporinas são antibióticos usados para pneumonia, infecções na garganta, salmonela, infecções na pele e no sistema urinário de humanos. No entanto, está se tornando ineficaz contra a bactéria Clostridium difficile, que está desenvolvendo resistência ao antibiótico. Mais de um milhão de infecções em pessoas contaminadas por salmonelas ocorrem nos Estados Unidos por ano, resultando em 16 mil hospitalizações e cerca de 600 mortes, informou o advogado Harford.
Este é o primeiro artigo de uma série de duas partes. Na próxima semana: mais evidências que animais que comemos podem causar efeitos adversos em seres humanos.
Martha Rosenberg é autora da premiada exposição “Born With a Junk Food Deficiency“. Ícone em seu país, ela lecionou em universidades e faculdades de medicina e foi entrevistada em programas de rádio e televisão.