Por Martha Rosenberg
Em 2008, a Administração de Alimentos e Drogas dos EUA (FDA) anunciou que “indícios de que o uso excessivo desses medicamentos (as cefalosporinas) em animais para consumo provavelmente causará um efeito adverso nos seres humanos e, como tal, apresenta um risco para a saúde pública”, e por isso o órgão aconselha a sua proibição. Notou que a FDA diz que “provavelmente causará” e não “provavelmente poderá causar”, e “apresenta um risco” ao invés de “pode representar um risco”?
No entanto, quando as audiências foram realizadas dois meses após o anúncio ser publicado, os lobistas já tinham exercido a sua influência. A audiência que era para discutir “A proibição do uso de cefalosporinas”, de alguma forma tornou-se uma “Audiência para rever os avanços na saúde dos animais na indústria pecuária”.
Nas audiências, a Associação Americana de Medicina Veterinária (American Veterinary Medical Association – AVMA), o Instituto de Saúde Animal, o grupo comercial da indústria farmacêutica, e as indústrias de ovos, frango, peru, leite, carne de porco e gado reclamam que não podem cultivar sem antibióticos porque seria necessário mais ração, e os animais que permanecem imobilizados ficariam doentes devido ao seu próprio estrume.
“Criar perus sem antibióticos aumentaria a incidência de doenças no grupo inteiro de perus”, afirmou Michael Rybolt, da Federação Nacional de Peru. Os antibióticos “reduzem o nível de bactérias potencialmente prejudiciais, que resultam em infecções e doenças”, afirmou Robert D. Byrne, da Federação Nacional de Produtores de Leite.
Os antibióticos diminuem a quantidade de terra necessária para criação de animais e permitem produzir um produto “saudável” de menor preço para o público, segundo os operadores das fazendas. Um dos operários chegou a afirmar que o estrume é reduzido porque os animais comem menos.
Enquanto a maioria dos representantes da agricultura nas audiências defendeu o uso de antibióticos para “tratamento, prevenção e controle da doença”, Christine Hoang da AVMA, chegou ao ponto de afirmar que os antibióticos, ao permitirem uma ingestão reduzida de ração, têm o efeito de “promover a saúde” e por isso pode ser considerados um “uso terapêutico”. Talvez ela referia-se a saúde e terapias de baixa qualidade.
Após as audiências, W. Ron DeHaven , que era veterinário chefe do USDA antes de ir para a AVMA, escreveu uma carta quase que incoerente de 18 páginas divagantes que possui 62 notas de rodapé para o FDA.
Na carta estava escrito algo do tipo: os “patógenos humanos” resistentes à cefalosporina não estão aumentando, e mesmo que estejam, eles não estão afetando a saúde humana, e mesmo que estejam afetando a saúde humana, como é que você sabe que é a partir das drogas dadas ao gado, e mesmo que seja por causa das drogas dadas ao gado, a FDA não tem autoridade legal para proibir a cefalosporina.
A carta joga os com medos de terrorismo, chamando a proibição cefalosporina uma “questão de segurança alimentar” que afeta “o número de animais disponíveis para a oferta de alimentos”. Ele também toca em sentimentos humanitários, alegando que a proibição impediria a capacidade dos médicos veterinários “para aliviar a dor e o sofrimento dos animais”, como se as cefalosporinas fossem analgésicos e que nenhuma outra droga estivesse disponível. ( E como se os antibióticos são dados para o bem-estar, em vez de para aumentar o rendimento!)
A carta não menciona a verdadeira razão que faz a industria da carne não abrir mão dos antibióticos: Com a droga é possível criar milhares de animais em condições de superlotação que matariam todos eles, e por preços tão artificiais quanto os antibióticos que usam.
A invasão da indústria farmacêutica na agricultura é, provavelmente, a principal razão do desaparecimento da agricultura familiar, que já não é capaz de competir em preço. Em menos de um mês depois de a carta ser enviada, a FDA tranquilamente revogou a proibição. Boa contratação, AVMA!
Leia também a primeira parte deste artigo Antibióticos que você pode estar comendo ser saber – Parte 1
Martha Rosenberg é autora da premiada exposição “Born With a Junk Food Deficiency“. Ícone em seu país, ela lecionou em universidades e faculdades de medicina e foi entrevistada em programas de rádio e televisão.