Por Martha Rosenberg
Enquanto o mundo industrializado depende cada vez mais de remédios indutores do sono, novas informações sugerem que eles podem não ser tão seguros quanto se pensava anteriormente.
Pesquisadores anunciaram numa publicação do British Medical Journal (BMJ) que drogas como o Ambien, Lunesta e Sonata, ou drogas antigas como o Valium e barbitúricos, e até mesmo sedativos anti-histamínicos, todos estão relacionados a um aumento de três vezes no risco de morte das pessoas.
Parte da mortalidade resultou de uma “elevação significativa do câncer”, dizem os pesquisadores. E as pessoas que foram estudadas estavam submetidas ao tratamento com medicamentos para dormir, sem apresentarem quaisquer doenças pré-existentes.
Pílulas para dormir nunca foram o melhor da indústria farmacêutica. Nos anos de 1960, barbitúricos foram imortalizados devido a morte de Marilyn Monroe e pelo filme ‘O vale das bonecas’, de 1967.
Em 1993, o remédio para dormir Halcion foi banido no Reino Unido e em outros países por causar amnésia, paranoia, depressão, alucinações e violência nos usuários. Descobriu-se, inclusive, que algumas pessoas que estavam em viagem, perdiam a consciência, chegando do outro lado do Oceano Atlântico sem se lembrar de terem embarcado no avião.
Em 2001, uma pílula similar, o Dalmane, “aumentaria o risco de acidentes cinco vezes acima do normal”, segundo uma audiência da FDA (Administração de Drogas e Alimentos) e do Conselho Nacional de Segurança de Transportes – dois órgãos norte-americanos.
Quem nos EUA poderia esquecer do acidente automobilístico de Patrick Kennedy, o ex-representante de Rhode Island, que dirigia às 2h45 da madrugada para o Capitólio em Washington DC em 2006 para “votar”, enquanto sob efeito do Ambien e de outras drogas?
Autoridades policiais informaram que acidentes de trânsito aumentaram quando o Ambien se popularizou. Alguns motoristas não estavam sequer cientes quando policiais os prenderam.
A FDA logo emitiu alertas sobre tais aparentes apagões causados por remédios para dormir, como o Ambien e outros 12 remédios: para quem toma esses remédios existem grandes possibilidades para o desenvolvimento de “comportamentos complexos relacionados ao sono”, que podiam incluir “dirigir, fazer telefonemas, preparar e ingerir alimentos (enquanto dormindo)”. A Sanofi-Aventis, fabricante do Ambien, foi forçada a publicar instruções orientando as pessoas que no caso em que tomassem Ambien, fossem imediatamente para a cama e ficassem lá.
Num estudo da BMJ, de 4.336 pessoas que tomaram Ambien houve 265 mortes. Em comparação, de 23.671 pessoas que não foram tratadas com Ambien, houve paenas com 295 mortes.
Pílulas para dormir como o Ambien, Lunesta, Sonata e Rozerem apenas diminuem o tempo para dormir em 18 minutos, segundo um grande estudo feito pelo governo estadunidense. No entanto, elas têm sido uma mina de ouro para a indústria farmacêutica desde a ‘publicidade dirigida ao consumidor’ (PDC).
De fato, muitas pessoas costumam assistir TV quando não conseguem dormir. Em documentos da FDA, o Rozerem – um remédio hipnótico usado para tratar insônia – não funcionou melhor do que um placebo, mas suas vendas dispararam em 60% graças à PDC, informou o New York Times.
Para crescer no mercado da insônia, a indústria farmacêutica lançou subcategorias, como fez com diferentes tipos de depressão. Você poderia ter insônia crônica, aguda, transitória, inicial ou de início tardio.
Você também poderia ter insônia no meio-de-noite, de manhã cedo ou na menopausa e até mesmo sono não restaurador. Com mais pesquisas confirmando esses resultados do BMJ sobre remédios contra insônia, talvez suportar alguns minutos sem dormir seja melhor para sua saúde do que tomar uma pílula.
Mas você sempre poderá assistir aos comerciais de TV sobre pílulas de dormir…
Martha Rosenberg é autora da premiada exposição “Born With a Junk Food Deficiency“. Ícone em seu país, ela lecionou em universidades e faculdades de medicina e foi entrevistada em programas de rádio e televisão.