Por EFE
Genebra, 29 jan – Uma equipe de cientistas suíços e britânicos descobriu que moléculas de açúcar modificadas em laboratório podem destruir muitos vírus pelo simples contato, algo que pode servir para avançar no combate de doenças como o coronavírus recentemente originado na cidade de Wuhan, na China.
A descoberta pode ser um avanço importante no combate aos vírus para os quais os tratamentos muitas vezes mostram eficácia limitada e não impedem completamente a propagação das infecções, informou a Universidade Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), uma das participantes do estudo.
Os açúcares modificados são especialmente eficazes “em vírus responsáveis por infecções respiratórias e herpes”, disse a EPFL sobre uma pesquisa que também contou com a participação de especialistas das universidades de Genebra (Suíça) e Manchester (Reino Unido), e que será publicada na revista “Science Advances”.
Até agora, a maioria das substâncias conhecidas como capazes de destruir um vírus por simples contato, ou “virucidas”, geralmente eram extremamente tóxicas para o corpo humano e não podiam ser aplicadas sem causar danos graves, no caso da lixívia.
Portanto, os medicamentos antivirais habituais, com substâncias mais absorvíveis pelo organismo, retardam o desenvolvimento dos vírus sem destruí-los completamente, o que pode permitir que sofram mutações e tornem-se resistentes ao tratamento, aumentando os riscos de epidemias.
“Para superar esses dois obstáculos e combater eficazmente as infecções virais, imaginou-se um ângulo de ataque completamente diferente”, destacou a chefe do estudo, Caroline Tapparel Vu, da Faculdade de Medicina da Universidade de Genebra.
Pesquisadores tinham produzido anteriormente um antiviral capaz de destruir vírus a partir do ouro, e desta vez métodos de pesquisa similares foram aplicados usando derivados naturais da glicose chamados ciclodextrinas.
“As vantagens são muitas, sendo mais biocompatíveis (adaptáveis ao corpo humano) que o ouro e mais fáceis de usar, além de não ativarem mecanismos de resistência e não serem tóxicos”, disse Samuel Jones, pesquisador da Universidade de Manchester e também participante do projeto.
O especialista acrescentou que as ciclodextrinas já são normalmente usadas na indústria alimentar, o que facilitaria a aprovação do uso em tratamentos farmacêuticos, e são muito estáveis, por isso podem ser um medicamento aplicável como creme, gel ou spray nasal.
As moléculas de açúcar modificadas atraem vírus e os inativam irreversivelmente, em vez de simplesmente bloquearem seu crescimento, como muitos dos antivirais fazem.
O uso de ciclodextrinas também parece ser eficaz para muitos tipos de vírus, não apenas um em particular (muitos antivirais para vírus como HIV ou hepatite C são específicos eles), portanto a nova descoberta pode ajudar contra novas doenças para as quais ainda não há tratamento.
“Se tivermos sucesso nesta transição para aplicações concretas, o nosso trabalho poderá ter um impacto global, e o composto poderá ser eficaz contra novos vírus emergentes, como o que atualmente causa preocupação na China”, concluíram os especialistas.